ELIAKIM RUFINO
Eliakin Rufino de Souza, mais conhecido apenas como Eliakin Rufino (Boa Vista, 27 de maio de 1956), é um poeta, cantor, escritor, professor de filosofia, produtor cultural e jornalista brasileiro. É, junto a Zeca Preto e Neuber Uchoa, um dos integrantes do movimento Roraimeira — expressão cultural amazônica considerada por cientistas sociais como um dos expoentes máximos na construção da identidade roraimense.
Formado em Filosofia pela Universidade do Amazonas.
Buritizeiro
buritizeiro do norte
que nasce em qualquer lugar
nós temos a mesma sorte
viver a vida a cantar
tu cantas com o vento forte
eu canto na calmaria
canto o silêncio do campo
tu cantas na ventania
buritizeiro meu canto
no campo vou espalhar
tu cantas pra eu dormir
eu canto pra te acordar
buritizeiro meu mano
teu vinho quero beber
aí nós vamos cantar
até o dia nascer
eu sou palmeira do campo
o vento é meu companheiro
eu vivo porque eu canto
eu sou buritizeiro
www.youtube.com/watch?v=K2UDLy6kZus
Poemas extraídos de:
A POESIA SE ENCONTRA NA FLORESTA. I Encontro Amazônico de Poetas da América Latina. Trad. Thiago de Mello. Manaus: Editora Valer e Governo do Estado do Amazonas, 2001. 384 p.
Falando em liberdade
Eu falo de liberdade
como quem fala de pão
de algo que se reparte.
Eu falo de liberdade
como quem fala de arte
de algo que se inventa.
Eu falo de liberdade
como a dos anos sessenta
"faça amor, não faça guerra".
Eu falo de liberdade
como quem fala da terra
a que todos têm direito.
Eu falo de liberdade
porque carrego no peito
uma flecha atravessada.
Eu falo de liberdade
como quem fala de amor
para a pessoa amada.
Poeta
Poeta é aquele que canta
e carrega na boca uma flor
é aquele que traz na garganta
um passarinho cantador.
Poeta é aquele que escreve
uma canção popular
é aquele que se atreve
e manda o povo pensar.
Poeta é aquele que passa a
quele que segue cantando
sempre em estado de graça
poeta é quem vive amando.
Poeta é aquele que ri
epois de chorar baixinho
sabe bem aonde ir
não sabe é viver sozinho.
O sonho do Xamã
Um xamã yanomami sonhou
que a fumaça da civilização
abriria um buraco no céu
e o céu cairia no chão.
O xamã resolveu avisar
o que o sonho queria dizer,
mas ninguém parou pra escutar
pouca gente tentou entender.
Muito tempo depois deste sonho
a ciência pôde então descobrir q
ue o buraco na camada de ozônio
é por onde o céu pode cair.
O meu sonho é que nada aconteça
que a vida não tenha final
que o xamã não desapareça
que o sonho não seja real.
A seguir, o poema publicado na Folhinha Poética – 2012:
escrevendo na cozinha
eu escrevo na cozinha
minha mesa de trabalho
é a messa da cozinha
é na cozinha da minha casa
que acontece o encontro
da escrita com a comida
da fruta com o papel
dos temperos com as metáforas
assim eu escrevo
perto da pia
próximo do fogão
criando pratos e poemas
lavando louças
e lavando a alma
varrendo o chão
e o coração
arrumando a mesa
e a minha vida
sei de poetas que tiveram
escritório estúdio escrivaninha
nunca tive nada disso
eu escrevo é na cozinha
*
Página ampliada e republicada em agosto de 2023
Página publicada em fevereiro de 2016 |