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Foto:  http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br

NILZA MENEZES

 

Nilza Menezes, poeta, historiadora, que viveu sempre rompendo fronteiras. Se fosse se definir seria um pássaro. Nasci onde nunca mais voltei e migrei muitas vezes, transpondo as fronteiras geográficas e culturais.

 

RE-IN/SACANDO A POESIA.  (Prêmio Capital Nacional – 1998 Aracaju/SE)  SAC0 IV :
João Bosco Rodrigues (MG), Lucimar Cardoso (ES), Manoel Messias Vieira Lima (MG), Nilza Menezes (RO), Rogério Salgado (MG), Saide Oliveira (MG).  Belo Horizonte: Arte Videverso, 1998.  52 p soltas  9x16 cm. acondicionadas em saco de padaria  Ilustrações: Lane Martins.  Editor: Rogério Salgado.    Col. A.M. 

 

Meu corpo se resguarda do pecado.

Tenho medo do inferno

e a todo momento me policio

para não cair em tentação.

Santos me fiscalizam desde criança

ameaçando meu corpo

que se transformará em pó.

Pela vida tem sido possível

não matar, não roubar

mas meus pensamentos e sentimentos

tem superado

o que me foi delimitado.

 

 

No amor,

saco as armas.

Mas não é a última cena do bang-bang.

O bandido atira antes.

 

 

As ervas daninhas

arrancávamos com as mãos

enquanto o sol ardente

as deixava murchinhas pelo pasto.

Meu pai cavalgava sonhos

contando do nosso avô

e dos sonhos de uma avó velhinha

que atravessou o oceano

sem nunca poder percorrer o caminho

da volta

e que morreu, quando o ciclo do café

terminava,

fazendo rendas pelas fazendas decadentes

cansada de ser galega.

 

 

Choro sangue uterino

sempre que essa lua cheia cisma

em passear pelo céu noturno,

obedecendo a um ritual

da minha espécie

que teima em expelir

lágrimas, sangue e filhos.

 


SOCIEDAD DOS POETAS VIVOS.  VOL. XII. Organizadores: Urhacy Faustino e Leila Miccolis.  Capa: Vande Rota Gomide.Rio de Janeiro: BLOEOS, s. d.  110 p              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Décadas de luta
para mudar de vida,
Não à submissão,
não aos nãos,
mas sim à necessidade do outro.
Ainda é não,
à solidão.

 

**

eu acho que é a lua cheia
aí eu enlouqueço
e te vejo no meu quarto.
eu não estou bêbeda,
é você ali.
eu nem creio nas forças da lua
nem no horóscopo (no horóscopo os nossos
                          signos não combinavam).

eu acho que afrontei os astros.
nada deu certo.
a cartomante errou,
nosso final não foi feliz

mas eu enlouqueço,
pode ser a lua cheia,
a cerveja,
o horóscopo...

**

       capaz de fazer
       subir as paredes de mim mesma.
       quase perfeito
       ele chega na vida dessa balzaquiana
       com a alma e a carne
       carecidas de mão forte
       e de um ombro para chorar mágoas adquiridas
       de outros delírios das próprias paredes.
       depois, quando ele, quase perfeito,
       como cigano parte,
       enlouqueço pelas paredes de mim mesma.

**

lúcida
luz do sol.
Lúcia
cabelos molhados
do banho matinal
passa com cheiro de alfazema
e vestido grudado ao corpo
(essa tal moda cotton).
Luiz derruba os tijolos
que começava a unir com massa.;


 **

       Passa energia
       esse seu jeito
       de gato assanhado
       que espreita meus atos
       na espera que eu fique
       como uma gata não cio.


**

Vadio
vagueia meus sonhos,
meu sono
esse desejo de te desnudar.

Vadio
viaja em meu sangue
esse desejo
de vadiar pelo teu corpo.


**
       deixo meu olhar
       prender-se ao seu
       hipnotizada,
       e, você, meu predador natural
       me conduz ao espaço vazio
       de mim mesma
       desconsertada.

 

**

O que me ele fez
ficou escrito nas páginas
de um velho diário.

O que ele me fez
ficou marcado no pensamento
e de vez em quando vem
como fotografia.

 O que ele me fez
ficou aqui e ali
no desarranjo, no cheiro da pele.
Ficou no prato preferido,
numa canção
e bem no fundo do coração.

 

**

                    bate no peito
emoções novas, loucas
excita o sangue nas veias.

amando assim,
errada como todas as marias
dos dias, das filas, dos sonhos
e das poesias.
como todas as marias.
das noites sem dias
de alma vazia.
eu amo você.

 

*

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Página publicada em março de 2013

 


 

 

 
 
 
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