|  Imagem: http://www.academiamaranhense.org.br/     JOAQUIM VESPASIANO RAMOS     (Caxias, 13 de agosto de 1884 — Porto Velho, 26 de dezembro de 1916) foi um poeta brasileiro.  Nasceu nas condições mais humildes, desde cedo começou a  trabalhar no comércio local, no entanto buscando sempre o saber tornou-se um  viajante compulsivo, que levaria o conhecimento a outros povos, durante a sua  vida viajou por quase toda a região  norte e também a então capital do Brasil,  o Rio de Janeiro.  Publicou sua obra poética em  diversos jornais e revistas de seu tempo. É autor do livro “Cousa alguma”,  publicado no ano de sua morte no Rio de Janeiro e bastante repercutido no Região  Norte do Brasil.  É considerado o precursor da literatura em Rondônia e aparece no Mapa Brasileiro de Literatura como representante de  Rondônia. É patrono da cadeira n° 32 da Academia Maranhense  e da cadeira n°40 da Academia Paraense de Letras e da cadeira n°2 da Academia  Rondoniense de Letras.  Biografia:  wikipedia.       MENDES, Matias Alves;   BUENO, Eunice.    Síntese da Literatura de  Rondônia.  Capa: João Orlando Zo1ghbi.  Porto Velho: Genese-Top, 1984. 126 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda.    Cronologicamente  pertenceu à segunda geração romântica de poetas brasileira.   Nota:  No livro, o sobrenome do autor é registrado como sendo Vespasianos. Na  wikipedia aparece Vespasiano.  E explica  que atualizaram a ortografia, mas  respeitando a pontuação do autor.              ... d´Alma          I   
                           Minha mãe! na  existência dolorosa,O  teu filho, por íngremes caminhos
 —  Viajor perdido em selva tenebrosa.
 Chora,  à falta de luz dos teus carinhos
          Longe  de mim, tu vivas lacrimosa.Nem  te pareces mais com os passarinhos
 Fonte  de bem, misericordiosas,
 Nesta  gruta de lágrimas e espinhos.
          Eu  não sei mesmo o que de mim seria,Que  seria de mim, vencendo abrolhos,
 No  mar terrível desta noite fria.
          Sentindo,  todo instante, a vida encalma,Se  quando longe vivo dos teus olhos,
 Não te sentisse perto  de minh´alma...
              II   
                           Da soledade as  ânforas aceito.Longe  do burburinho da cidade!
 E  nem sei como um coração estreito
 Pode  conter tamanha soledade.
          Há  dias, minha mãe, em que o meu peitoTanta  saudade dolorosa invade,
 Que  eu creio que este coração foi feito
 Só  para o amor e só para a saudade!
 
 Quando  a tristeza d´alma se desterra?
 Quanta  vontade, minha mãe, ai, quanta
 De  ver o céu azul de minha terra!
          Eu  queria contar-te a minha mágoa,Mas  a saudade, minha mãe, é tanta
 Que  eu sinto os olhos arrazados d´água!
              Íntimo   
                           Eu não posso guardar  o segredo que tenhoE  em cuja força, agora, em vão, me desespero:
 E  é por isso, bem sei, que hoje dizer-te venho
 Que  te desejo e quero!
 
 Perdoa-me!  Porém, se eu não te visse incalma,
 Jamais  te escreveria estes versos sem cor,
 Dizendo  que plantaste, há muito, na minh´alma,
 O  desejo sem fim de te pedir amor...
 
 Não  poderás pensar quanto, forte, se agita
 A  alma que tu prendeste entre os mais fortes laços:
 Que  desejo sem fim! que vontade infinita
 De  te ver e sentir tremendo nos meu braços!
          Não  posso imaginar o que o Destino tenhaGuardado  para mim...
 Dos  teus lábios, porém, permite que hoje venha
 Uma  palavra só! uma promessa, enfim!
          Tu  me perdoarás: tenho, dentro, em meu seio,A  certeza de que tu és carinhosa e boa...
 Que  desgraçado eu sou! que desgraçado! Creio
 Que,  por isso mereço o teu perdão: perdoa!
 
 Que  não te aflija nunca o mal que me tens feito.
 —  Grande mal que, entretanto, a minh´alma bendiz:
 Que  importa eu continue a ser um infeliz?
            Crepuscular   
                           No alto, na torre da pequena ermida,Plange,  três vezes, o pequeno sino;
 Uma  andorinha, suave, enternecida,
 Na  cruz da torre está cantando um hino.
          A  sensitiva — a noiva estremecidaTreme,  ao beijá-la o zéfiro divino,
 E  no seio da selva adormecida
 Solta  a cigarra a canto vespertino.
          Pousa  em todo celeste suavidade...Umas  ovelhas balem, tristemente
 Por  uma estrada pitoresca e longa
                Por  força maior dar à saudade,Vai,  pelos campos, dolorosamente,
 O  alto e vibrante canto da araponga.
                    Núpcias na Selva   
                           Ontem,  relendo o livro do passado,Num  silêncio puríssimo de prece,
 Aos  meus olhos de antigo enamorado
 Uma  saudosa página aparece.
 
 Leio-a:  sertão da minha terra. Ao lado
 De  uma pequena chácara estremece
 Um  riachinho, levemente ondeado
 Sob  a luz do crepúsculo que desces.
          E  ela não tarde! E, olhando os palmeirais,Eu  subo a serra, e o píncaro alcançado
 Vejo-a  que sobe a serra por detrás:
          Subiu...  Chegou... Depois chegou-se a mim,Depois...  Volúvel coração, cuidado:
 Coisa  de amor não se revela assim!
      Página publicada em  junho de 2020           
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