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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SANDERSON  NEGREIROS

 

 

Nasceu em Ceará-Mirim no ano de 1939. É Jornalista. Publicou "O RITMO DA BUSCA" (1956),"FÁBULA FÁBULA" (1961), "LANCES EXATOS" (1966). Em 1980, foi publicada uma edição reunida - FÁBULA FÁBULA - pela Edições Pirata, Recife-PE.

 

 

De

Henrique L. Alves, org.

POETAS CONTEMPORÂNEOS.

São Paulo: Roswitha Kempf ed. 1985.

 

 

 

A ÁRVORE

 

A árvore tem a palavra

Tranquila. Só foi dada

A pássaros. Por isso, flutua

Com jeito recolhido.

Quem garante a permanência

Da árvore? as aves?

As aves são de precária

Matéria: não se renovam.

 

Aos pássaros não foi dada

A constância do arco

Entre a árvore e o chão.

A brisa? Às vezes, a brisa

Medita, sábia, sobre as frondes.

Mas nunca atinge a duração

Da árvore. Quem acusará

A morte dessa faina repetida?

E sua doçura de verdes

Ocasionais? A árvore tem

Verões de mármore. Quem sentirá

Sua fadiga de pouso?

 

                                               do livro OS LANCES EXATOS

 

 

                            VIII

 

A orquídea de tua mão

por que não será orquídea

a orquídea de tua mão?

Maio, ápice de teus desvios?

Consulto e

já tens partido.

 

 

 

 

                            IX

 

Aves ardem

portos barcos muros.

O sol cancioneiro

veleja em hábil azul.

E, baixo, desliza

o pomo de seu gasto sossego.

 

 

                            X

 

O fulgor é de constelação

partida. Por  isso,

trabalho vozes diárias

entre os arcos do mundo

porque o mundo comum

é comum à mortal certeza.

 

 

                            XIV    

 

Não arquitetes o som.

Não estrutures o nada.

A fome basta ao hábito

de ser.

Basta ao homem o nome de

Homem. Seu sono. Sua dor.

 

                                               do livro FÁBULA FÁBULA

 

 

O RIO

 

O rio elabora o vazio do tempo.

E em si cansaço mas entrega-se

Aos rumos, lento e profundo.

Ao saber-se fonte única, sem

Começo nem fim, trabalha suas

Auroras no sigilo da noite, e

Passa, aceso pelo vento.

Entre canavial e catástrofes

sucessivas, flui, torrente remota

E hesitante, Ventos imaturos

Confinam-lhe a paisagem e

Trazem legendas de sol, morrendo

Nas tardes do vale. E por essas

Tardes, o rio prossegue, na tortura

De ser breve e inteiro, na

Claridade onde dormem canções.

 

                                      do livro FÁBULA FÁBULA

 

 

POESIA SEMPRE  - ANO 9 – NÚMERO 15 – NOVEMBRO 2001.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2001.  243 p.  ilus. col.  Editor Geral: Marco Lucchesi.   Ex.bibl. Antonio Miranda

 

         De plumas navegantes
o pavão está.
A cor em si bastante
punge.
A cauda mede
o caos e a beleza
ferida pelo que no caos
é fictício.

         O pavão caminha:
puro espaço de chama.
A cabeça esconde
a áurea violeta dos olhos.

         A cabeça pende
antiga incerteza.
E o corpo equilibra
o peso da criação.

 

         Os almocreves

       O crepúsculo sumidoura
a passagem do tempo.
Os riachos
mudam-se em aragem.

         Os almocreves
espreitam a lua
que sussurra espaços de
inverno.
Os almocreves, desérticos.
Os burros de carga sonorizam
fechados de aveloses.

         Vê-se o branco a caminhar
pelas estradas, onde a lua
moldura dissídios e lobisomens.
Sem espera, as alimárias
forcejam o frio de quebrar-da-barra
para prosseguir em demanda
dos cerros de Cariri.

 

 

 

Página publicada em junho de 2010; p�gina ampliada em julho de 2019.

 

 

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