PAULO ROBERTO
Paulo Augusto da Silva nasceu em Pau dos Ferros, Alto Oeste do Rio Grande do Norte, aos 3 de agosto de 1950. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ), em 1976 trabalhou nos jornais O Fluminense (Niterói/RJ), Última Hora (RJ), Diário do Grande ABC (Santo André/SP), Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Diário Comércio & Indústria (São Paulo/SP).
De volta ao RN, a partir de 1982, trabalhou nos jornais Diário de Natal, Tribuna do Norte e Jornal de Natal. Ex-editor do suplemento cultural Encartes, do Jornal de Natal (1995/1998), onde assinou as colunas “Balão de Ensaio” e “MidiAtica”. Assina, no mesmo suplemento, a coluna “Antena XXI” e a página cultural “Sacadas do Potengi e Refoles”.
É assessor de imprensa da Secretaria da Saúde Pública e editor do jornal Onda Alternativa, de distribuição dirigida na Zona Sul de Natal. Colaborador em jornais alternativos de distribuição gratuita, em Natal.
PAULO AUGUSTO. Falo. 2ª. edição. Natal, RN: Sebo Vermelho, 2003. 80 p. 10,5x21 cm. Capa: Afonso Martins. Apresentação Luiz Mott, Textos de Glauco Mattos e Sérgio Escovedo. Editor: Abimael Silva. “ Paulo Augusto Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
atentado ao pudor
Para prender-me
a polícia
por a-tentar
— o pudico e ávido
público
termina por decifrar
a mensagem
dos órgãos de segurança
sexual
e mergulha
sob as cobertas
comigo.
Deliciosamente infratores
simultaneamente
gozamos
entre relinchos, unhadas,
beijos e coronhadas.
vida-medo
Olho para ele embevecido.
Ânsia voraz de agarrá-lo.
AS BARREIRAS.
Busco seu olhar,
fugindo, fugindo, fugindo.
Nessas horas, persevero.
AS BARREIRAS.
Vou para o outro lado.
Mudo a tática.
Deixo-me ver à luz do sol.
Os olhos, fugindo
— a chance, fugindo.
Sempre as barreiras, sempre.
É preciso ter consciência
de nossa profunda inutilidade
para suportar o estabelecido.
balada para madame satã
Madame Satã,
acabaram de me contar
que você andou por aqui.
Não forneceram detalhes,
mas eu imagino.
Gostaria de saber de ti:
possuías algum cãozinho,
cativo, para alimentar?
Havia o teu, particular,
que afagavas e, modorrento,
botavas para dormir - cheiroso?...
Sim - madame divina!
eu penso.
Precursora, poderosa,
Lampião do asfalto.
A Lapa tremia contigo,
vibrava, amava contigo,
trepava.
Pelo menos ficou uma certeza:
vão demolir toda a Lapa,
mas teu nome vai ficar,
enorme - suspenso no ar.
Bojudo, grave,
prenhe de emoção e de glória.
Eu agora estou no palco,
Samurai,
que foi o teu viver.
Mas não tenho tua força
de expressão,
a ginga.
Ogum não quis me dar
— ele sabe...
o chapéu de Panamá, a voz,
as noites, o bordel.
Tudo isto era muito teu,
muito nosso.
Gostaria de te cochichar
as últimas que ouvi na Lapa.
O malandro aposentou-se,
Vive agora de welfare state,
a noite agora é outra,
poluída, massiva,
lasciva, ainda, mas morta.
Levaste um pouco da Lapa,
ou tudo — a Lapa
não é mais aquela.
Trocaram muito de vez,
e a bunda dela agora é kitsch,
sucesso, fora de ângulo, démodé
Ficou teu brinco, o charme,
a tónica, a perna no ar,
capoeira e pinga.
As paredes da Lapa, Satã,
são eternas,
e nelas você está definitivamente,
preto, feroz, uma pedra.
portaria intrusa
Uma portaria caiu
de súbito
estrondosa
mente
sobre o meu desejo.
Para minha segurança,
vela, pontiaguda, e não
me sacia,
inquieta-me.
Faz renascer em meus
anos
sabores estupefacientes
de noctívagas buscas.
Arregalo os olhos
e vejo o inciso
perpetrando introduções
no meu ser —
insolente, arranhando
minhas paredes retais
em busca do meu centro.
Página publicada em janeiro de 2015 |