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PAULO DE TARSO CORREIA DE MELO
[Natal, 1944- ] é professor universitário aposentado. Suas publicações mais recentes são 14 moedas antigas (2001), Casa da metáfora (2002), Rio dos homens (2002), e O sobrado das palavras (2005)
Compartimos a carne e o tempo
e outras cicatrizes e perguntas.
O ar e os nomes, as nuvens e o vento
e outras palavras que andam juntas.
Amor e medo e pensamento,
agora e sempre e nunca,
estranhos outros ornamentos:
querer, saber e música.
Não e esperança. Milênios
e juventude. Arco-íris
e outras visões. Incenso
e outros presentes. Saudade
e outras flores raras.
E silêncio.
Lutamos pela segurança dos túmulos
enquanto polimos grades para a vida:
honra e saber, nimbos e cúmulos
e preconceitos e becos sem saída.
Arranha-céu, auto-imagem, escritório
são outras formas de antecipação
da paz que procuramos, relação
dos muitos nomes di transitório.
Resta o amor, incerta fantasmagoria,
à meia-noite e alguns minutos
ou outros tantos para o meio-dia,
resta o amor. O resto, deixaria.
Consciência, nem tristeza ainda,
de que algum dia irei embora
e deixarei aquele minuto da madrugada,
não de casual escolha,
quando a última estrela, como uma lágrima,
treme sobre a face da aurora
e a casa do vizinho se ilumina
e o filho adolescente, chegando agora,
canta com força e beleza, misturadas
como aquele minuto da madrugada
e a aurora.
Extraído da revista POESIA SEMPRE, Número 29, Ano 15, 2008, edição Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
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TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EN ESPAÑOL
MELO, Paulo de Tarso Correia de. Misto códice. Códice mestizo. Versión y prólogo de Alfredo Pérez Alencar. Mossoró, RN: Sarau das Letras; Salamanca, España Trilce Ediciones, 2012. 106 p. ISBN 978-85-60650-34-7 Edição bilíngue Português e Español. Projeto gráfico, capa e ilustrações : Augusto Paiva. Foto do autor: Clóvis Tinoco. Col. A.M.
Invocação
Permite que se adornem
e como águias e tigres
os guerreiros se portem.
Concede-lhes que desfrutem,
a fio de cristal,
a doçura da morte,
que deem regozijo
em seu coração
ao punhal do sacrifício
e a morte florida,
mariposa de obsidiana,
desejem e cobicem.
Invocación
Permite que se adornen
y como águilas y tigres
los guerreros actúen.
Concédeles que disfruten
el filo del cristal,
la dulzura de la muerte,
que en su corazón
acojan felices
al puñal del sacríficio
y a la muerte florida,
mariposa de obsidiaria,
deseen y cobijen.
Canto triste
Nos caminhos jazem dardos quebrados,
os cabelos estão espalhados,
destelhadas estão as casas,
vermelhas estão as águas.
E quando foram feitos prisioneiros,
ao saírem, iam maltrapilhos,
as mulherezinhas levavam
as carnes dos quadris quase desnudas.
E os cristãos examinam tudo:
abrem-lhe os vestidos, passam a mão
por suas orelhas, seus cabelos, seus seios,
por todos os lados.
Nos escudos esteve nosso resguardo
mas escudos não detêm desolação.
Acaso ainda podem algo as vãs palavras?
Tudo está terminado.
Canto triste
En los caminos hay flechas rotas,
los cabellos están desalmados,
sin techo están las casas,
rojas están las aguas.
Y cuando fueron hechos prisioneros,
al salir, vestían andrajos,
las mujercitas, casi desnudas, mostraban
la carne de las caderas.
Y los cristianos examinando todo:
les abren el vestido, pasan la mano
por sus orejas, sus cabellos, sus senos,
por todos los lados.
En los escudos estaba nuestro resguardo,
pero los escudos no detienen la desolación.
¿Acaso aún pueden algo las palabras vanas?
Todo ha concluido.
Página publicada em novembro de 2009 . página ampliada e republicada em setembro de 2013.
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