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NONATO GURGEL
Raimundo Nonato Gurgel Soares nasceu em Caraúbas /RN.
Nonato Gurgel é professor adjunto de Teoria da Literatura da UFRRJ e doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ. Cursou Mestrado em Estudos da Linguagem, Especialização em Literatura Brasileira e Graduação em Letras na UFRN. Lecionou na UFRN, UFRJ, UERJ, UNIGRANRIO e várias escolas do Rio Grande do Norte. Atuou como pesquisador da FAPERJ e da EMATER.
Atualmente, cursa pós-doutorado no PACC – Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ e conclui o livro “Luvas na Marginália”. Dispõe a sua
produção acadêmica no blog Arquivo de Formas: http://arquivodeformas.blogspot.com
GURGEL, Nonato. miniSertão. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2014. 108 p. 14x21 cm. Capa: Mirian Lerner. ISBN 978-85-86478-86-4 “ Nonato Gurgel “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Repleto de referências, o livro traz epígrafes diluídas como se fossem pistas que revelam um pouco da personalidade do autor e sua relação com o universo literário, caso de “IV – Corpo que lê” (pág. 69) que traz citação da poetisa russa Marina Tsvetaeva (1894-1941): “Os livros são nossa perdição. Os livros deram-me mais que as pessoas”. Nonato faz uma releitura dos mitos, lendas e geografia sertanejas, e apresenta uma paisagem livre das abstrações místicas: “Meu Sertão é terreno, pé no chão, e inspirado por Oswaldo Lamartine (1919-2007) tive a ousadia de misturar literatura com Agronomia”, disse o autor, ex-servidor da Emater.
Apesar de impregnadas pela atmosfera do Sertão do Seridó, as poesias de Nonato não se enquadram no que costumam chamar de ‘leitura regional’. “É um livro de memórias, colhidas em andanças pelo Seridó e pelo sertão mineiro, com uma moldura universal, cosmopolita”, analisa o autor, confessando que demorou a aceitar que o Sertão era o grande personagem do livro. “Sem ele (o Sertão) não haveria nada para publicar”.
De sertão: deserto
atravessando um esboço de deserto
Euclides da Cunha, Os sertões
No calor
do solo seco
o nada
esculpido
no garrancho
da mata anã
onde deus
sem gibão
riscou a carne
no espinho
do xique-xique
e expulsou Adão
com galho
de favela
de Canudos
A revolução sonora dos bichos
galo
o canto plangente
vem do Nunca e corta
a aurora sanguinolenta
grilo
na cerca de ervas
os grilos estupram
o silêncio da noite
ex-pássaro
primeira noite sem
asas seguirão pelo
vento ou via Telemar
Desta proa iluminada
Sertão que acolhe
o fogo que se estende
pelo deserto e frui
sua prosa pede pele
e quase nenhum enfeite
Escrito com os olhos
seu verso recusa
os brincos que o céu
escuro faz chover
sobre a noite preta
Exilado da tristeza
de se saber sem fé
rumina pela janela
bonança em alto mar
Página publicada em janeiro de 2015
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