MYRIAM COELI
Myriam Coeli de Araújo Dantas da Silveira nasceu em 19 de novembro de 1926 , em Manaus-Amazonas, mas o registro a fez nascida no Acre. Com dois meses de nascida veio para São José de Mipibu - RN.
Primeira jornalista profissional do Rio Grande do Norte, integrou as redações do Diário de Natal, Tribuna do Nordeste e a República, primeira também a obter especialização no seu ofício, tinha diploma de jornalista pela Escola Oficial de Jornalismo de Madrid, como bolsista classificada pelo Instituto de Cultura Hispânica, na Espanha.
Como intelectual, ganhou os seguintes prêmios: Othoniel Menezes (poesia), 1980 promovido pela Prefeitura de Natal-RN, com o livro "Cantigas de amigo", edição Clima; Fundação José Augusto (poesia), 1981 com o livro "Inventário", e outra vez o Othoniel Menezes (poesia), 1981 com o livro "Catarse".
Antes publicara "Imagem Virtual" (Imprensa oficial, 1961) pela Coleção Jorge Fernandes, de parceria com o marido.
Myrian Coeli, faleceu em 21 de fevereiro de 1982.
COELI, Myriam. Branco & Nanquim. Obra poética. Cristiana Coeli & Eli de Araujo
(organizadores). Natal, RN: Sol Negro Edições, 2018. 424 p. ilus. color. capa dura.
Projeto gráfico: Márcio Simões. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-900068-0-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
RÉQUIEM PARA UMA AMA
De sua boca, de risos claros, cantigas sacudiram
as transparentes imagens de um mundo simples e terno.
Suas palavras que artesãos construíram de puros metais
me descerraram a vida e levaram coros para a minha imaginação.
Os seus braços tinham firmeza de barco e doçura de voos
para seduzirem a minha infância.
A pureza de seu coração
desabrochou ternuras para os meus dias.
A sua lembrança me comove
nesta hora sombria de meu Canto.
ACALANTO
Sela a boca
o espasmo
deste pranto?
Teço ao rosto
acalanto.
Se almenara
queima o peito,
flor é alma
nesta calma.
Insuspeita.
E o desgosto
desgastando?
Leve riso
se arqueando.
Tão bem posto
medo e dor,
asco e pejo
- contingência
do que sou.
Confundido
nos limites
ser não ser,
bem e mal,
erra o ser entre dual.
Ser sabendo,
dor de ser
frágil lodo?
Céu sem asas
para engodo.
Ao sonho, indo,
tão fugaz,
meu ser é
um anseio
tão falaz.
Nada sou.
Transferência.
Mas velando
permanência.
Dor de ser
sufocando
neste pranto
o disfarce
de acalanto.
CANTIGA MARINHEIRA
Fados me deram navios,
navios para vagarem
não em rias ou em rios,
não nos mares, sim nos ares.
Desde cedo a âncoras soltas
no ar brincam, leves, breves,
ondas tontas, vão e voltam
francas rotas, altas, leves.
Fados me deram navios
de pequeno navegar.
Navegos só de estios
pra sonho não naufragar.
De tantos navios ver
me sinto desesperar.
Tantas velas pra descer,
tantas velas pra alçar.
De ficar navios vendo,
de ter muito o que vagar,
de ser sendo, pois não sendo,
vem-me o pranto no olhar.
MEUS BRINQUEDOS DE CARTÃO
Para meus filhos Cristiana Coeli e Eli Celso
Meus brinquedos de cartão
todos trocados estão:
Meu El-Rei cavaleiro,
por homem verdadeiro.
A bela dama antiga,
por uma nova amiga.
Todos cavalos pintados
por outros ajaezados.
Meus brinquedos de cartão
desfeitos todos estão:
meu El-Rei cavaleiro
fugiu-me bem ligeiro;
A bela dama antiga
já morreu de coriza.
Todos cavalos pintados
já foram esquartejados.
Meus brinquedos de cartão
perdidos na infância estão.
Página publicada em fevereiro de 2019
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