Fonte: Facebook do autor
MIGUEL CIRILO
Poeta potiguar. Nasceu em São José do Seridó, RN, em 1936.
CIRILO, Miguel. Os elementos do caos. Natal, RN: Sebo Vermelho Edições, 2001. 73 p. 13x18 cm. Editor: Amimael Silva. Capa: Alexandre Magno Oliveira. “ Miguel Cirilo “ ex. bibl. Antonio Miranda
1
ainda não é ponto,
não é sequer espaço
o pensamento junto
— acento do que faço.
o fio que resiste
ao tempo que circunda
não dura quanto existe:
seu próprio ser inunda,
o olho-da-distância
dissolve-se no claro —
escuro-observância
do móvel corpo avaro.
2
dois meninos
a Chico Santeiro
estão ao lado um do outro,
juntos, colados no chão.
achados de pouco em pouco,
são dois: cosme e damião.
retenho-os breves no ar,
enquanto cor aderência:
porém, livrá-los não há
da madeira consistência
quem se demora nos dois
vê que foram trabalhados,
um antes, outro depois:
pelos detalhes usados,
a hora que os sabe mortos
vem com — estando com sono
— ouvi-los: rumor de corpos,
sem dentro, ocos, sem sumo.
são vivos unicamente
do modo como os aceito:
unidos supostamente
no ar do quarto desfeito.
4
—" não a ambígua face
do deus: já tenho quase
com que moldar o morto
à sua própria imagem.
—não em precário espelho,
o outro: me contento
com apenas o modelo
—o que se tem detento.
(o reino é tão de treva
que — só temor e sono,
não sabe o rei que vela,
talvez, o próprio trono).
Página publicada em janeiro de 2015
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