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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




LISBETH LIMA DE OLIVEIRA


   LISBETH LIMA DE OLIVEIRA

Nasceu em João Pessoa – PB, em 27 de agosto de 1963. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba.Fez a Especialização em Língua e Literatura Francesa e o Mestrado em Biblioteconomia (hoje Ciência da Informação) na mesma Universidade. Morou quatro anos e meio na França nas cidades de Toulouse e Perpignan respectivamente. Durante esse período fez alguns cursos entre os quais fotografia, uma de suas paixões. Desde 1998 mora em Natal – RN. Em 2000 participou do Concurso de Poesia Zila Mamede e teve o seu poema “Santos” o mais votado pela Internet. Em 2001, ganhou o Prêmio Othoniel Menezes com a obra “Dormência” promovido pela Capitania das Artes.

Publicou seu primeiro livro em abril de 2002 compilando os 40 poemas premiados e mais outros 20 guardando o mesmo título: Dormência. A respeito de Dormência o professor Tarcísio Gurgel diz: “sua estratégia em livro, com esse conjunto de sessenta poemas, já contemplados com um prêmio, o Othoniel Menezes em 2001, surpreende e causa admiração. Porque nos revela uma poetisa que já se apresenta aos seus leitores consciente da dura condição de artesã da palavra. Nisso, aliás, ela se aproxima de uma conterrânea já famosa, que orgulhosamente tornamos potiguar: Zila Mamede. Porém, há que assinalar uma diferença básica. A autora de Rosa de Pedra, extremamente ciosa da sua adesão ao neo-parnasianismo, em sua estréia, prima por uma organização lírica que, por assim dizer é traçada a régua e compasso, Lisbeth, já personagem deste outro século, supera a tradição do moderno e encontra na pós-modernidade o espaço natural para o seu discurso poético”. Em 2004 fez o curso de Especialização em Literatura Brasileira do século XX pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em setembro de 2004 publicou Felice. Livro temático, Felice apresenta 50 poemas de amor. A respeito dele, o poeta Sérgio de Castro Pinto revela: “em Felice, a paraibana Lisbeth Lima de Oliveira reúne poemas que são cartas de amor. Mas cartas de amor de quem se mostra a um só tempo apaixonada pela linguagem e pelo amado, seja ele real ou fruto do fingimento do eu lírico. No entanto, incidisse a paixão tão somente sobre o amado, a linguagem teria tudo para ser negligenciada e os poemas certamente resultariam em ridículas cartas de amor. Há quem escreva poesia apenas com a emoção à flor da pele. Outros escrevem-na sabendo da distância entre a flor da pele e a folha de papel.Estes vencem a distância investindo na linguagem sem abdicar dos sentimentos.É o caso de Lisbeth Lima de Oliveira no excelente “Felice”, livro que ora  vem a público”.Participou como membro de comissão julgadora de diversos concursos em Natal.  Em junho de 2006 apresentou-se no Museu Câmara Cascudo fazendo uma leitura dramática em francês, de um trecho do livro Ulisses, de James Joyce. Atualmente está inscrita como aluna especial no doutorado de Letras da UFRN. Além da fotografia e da literatura, Lisbeth Lima adora exercer a maternidade (“sou uma mãe voluntária”) criando seus dois filhos: Gabriel, 11 anos e Miguel, 5 anos.  Casada com Paulo, companheiro há muitos anos e primeiro leitor de suas criações. Está concluindo seu terceiro livro – Romã – que sairá dentro em breve.

LISBETH LIMA DE OLIVEIRA

 

De

ROMÃ
Poesia

Natal: Sebo Vermelho,2008

 

 

LIGEIRO

 

Ainda no pé, depois de madura.

a goiaba, desfalcada de sua carne vermelho-polpuda.

mostra seu lado mais secreto:

as sementes, elegantemente arranjadas umas sobre as outras.

 

Admiro a disposição dos grãos

e encontro a natureza e sua origem.

Mas, apesar, de me ser permitido

testemunhar tal espetáculo.

Invejo o pássaro que chegou antes de mim.

 

 

TORRES GÊMEAS

 

Da construção gemelar.

pedaços homozigotos de pedra e gente.

 

MARÉS

 

Dessa janela vê-se o mar.

Ouve-se o barulho do mar.

 

Dependendo da maré,

também vou e volto

cá com meus barulhos.

 

E minha janela escotilha o continente:

dependendo da maré,

lanço-me em viagens

que me lembram o paraíso.

 

Vez  por outra,

F

fico atracada cm mim.

Cá com meus barulhos.

 

 

DILIGENTE

 

Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,

o grafite.

E desenha.

E rabisca.

Mas é quando escreve palavra

que ele se mostra veloz,

quase indomável,

como são as palavras quando querem ser lidas.

 

 

INEVITÁVEL

 

Não olhou para trás: sal, não queria virar.

ar lhe consumia o sangue e

formigas-doceiras, pequenas, rondavam seus sonhos.

 

A sua vida era pobre em escolhas.

Estava só.

 

Só, com as formigas-comuns rondando seu corpo,

Que quisera imortal.

 

 

ENCONTRO

 

Trouxe-me a chuva.

E, depois dela,

céu aberto, anil.

 

Trouxe-me a noite.

E, dentro dela, seu corpo chuviscado,

amanhecido junto ao meu.

Dia claro, céu aberto. abril.

 

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OLIVEIRA, Lisbeth Lima de.  Dormência.  Natal, RN: Sebo Vermelho, 2002.  76 p. 13,5x20,5 cm.   Capa: Alexandre Oliveira. “Prêmio de poesia Othoniel Menezes”  “ Lisbeth Lima de Oliveira “  Ex. bibl. Antonio Miranda 

ERVA-DOCE

 

Guardei tuas cartas

numa antiga caixa de sabonetes:

minúscula alcova, incensada de desejos secretos.

De amor perfumada!

 

 

POUSIO
 

Meu corpo repousa

assim como a terra arada,

desenhada para o plantio.

 

Entre uma safra e outra,

meu corpo repousa e te espera paciente,

enquanto escolhes as sementes.

 

Quando vens, é sol.

Mas a terra fica molhada.

E quando tudo parece árido

me encantas outra vez.

 

E meu corpo se acostuma

com chuvas de verão.

com temperamento sazonal.

 

 

INCOMPLETUDE

 

Quero ter motivos para ter saudades de você quando longe.

E que essa saudade seja barulhenta: de risos, de falas, de quereres.

E, estando perto, uma saudade calada:

de toques, de afagos, de sentidos.

 

Mas quero que se cumpra, mais uma vez, sua sina:

a de me garantir a doce sensação da incompletude.

 

 

INCENDIÁRIO

 

Debandaram pássaros,

bichos de arribação.

Flores queimadas na estrada

não se deixaram cheirar.

Um amor perdido, negado, devasta,

abre clareiras.

É invasivo o fogo da ausência.

 

 

 

Só polpa

 

Muitos amores são concentrados.

'igual aos sucos em garrafas: feitos só de polpa.

Têm o gosto da estação ou da fruta têmpora.

A estes amores, um pouco de água com açúcar, por favor!

 

 

 

Estado terminal

 

Quero você,

antes que a vida deixe de contar o tempo para mim.

Contagem regressiva cruel.

 

Nos meus dias curtos,

quero tê-lo em noites longas.

E a vida está por um filho.


 

Página ampliada e republicada em janeiro de 2009; ampliada em dezembro de 2014

 


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