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JOÃO BATISTA DE MORAIS NETO
O mediador João Batista de Morais Neto é poeta e professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Publicou artigos e poemas no contexto da Geração Mimeógrafo, utilizando-se de pseudônimo João da Rua. É autor de Temporada de Ingênios e outros (2006); Geração Alternativa ou um alô pra Helô (ensaio - 2007); A canção e o absurdo revisitados (ensaio - 2001); Caetano Veloso e o lugar mestiço canção (ensaio - 2011); O veneno do silêncio (poesia - 2010).
MORAIS NETO, João Batista. O Veneno do silêncio. Natal, RN: Sebo Vermelho Edições, 2010.36 p. ilus, fotogr., 13x18 cm. Editor: Abimael Silva. Fotografais de João Maria Alves (ensaio sobre a praia da Redinha) “ João Batista Morais Neto “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Falsa sublimação
Entre o dentro e o fora
Vagueio
Nos interstícios
Mesmo à deriva
Permaneço
E sempre vou embora
Um dia eu volto
Ou volta e meia
Entre o campo e a cidade
O som e o silêncio
O cio o fastio
Soam iguais
Náufragos de rotas opostas
Numa mesma sorte
O começo e o fim
O tudo e o nada
Noite e madrugada
Escudos frágeis
São boias ao léu
De um certo fazer banal
Toda viagem é tudo igual
Vida toda linguagem
Fragmento sem sentido
Nada feito ou resolvido
Tudo parco
Um mero pão dormido
Entre o fora e o dentro
Desnavego
E me reinvento
Prosa rala
Minha prosa
se ressente do que diz
por não saber se o outro
cala em si o mesmo ritmo
Nunca a culpa é desculpa
nem move as montanhas
da minha prosa rala
de cor fugidia
de uma ascese raquítica
eremita das ruas
De canto a canto
sem poder ser inocente
rima sempre no presente
os reveses de ontem
que sempre nutriram
sua forma
Conversas
eram os anos 80
que rolavam
já pela metade
depois daquela barra dos anos 70
nas conversas que ali
se iniciavam
ouvindo
"a televisão me deixou burro, muito burro demais"
Vicente perguntava
sobre exatamente onde se situava
em que referência
estava Milady
mas não lembro de alguém ter falado em D'Artagnan
ou citar Dumas
naquelas conversas tão tenras
porque ali
se iniciavam
Página publicada em janeiro de 2015
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