JOÃO CHARLIER FERNANDES
J. Charlier Fernandes, como é conhecido no mundo literário, nasceu em Caraúbas, no Rio Grande do Norte, no dia 20 de maio de 1944.
Poemas de O Galo- Setembro 1988:
O CÃO E SEU RITO
I — mansueto
cão sem fereza
sovando a presa
dardo
feito em leveza
cardo
sem aspereza
II — excitado
ganindo em fio
gemendo em cio
falo
crescendo em lio
talo
com amavio
III – acalmado
de volta ao canto
toscanejando
garbo
empavonando
faro
de nariz pando
VISÃO DO GLOBO SERÁFICO
“Para além das esferas...
Assim choram os deuses.”
FERNANDO PESSOA
Vede as potestades:
caídas, nos desvãos do orbe,
vão surgindo nuas
e ficando mortas.
Mesmo na agonia
de deusas mudas
puderam fechar as portas
e ungir os altares.
Seguiram em coorte
por sendas e covas
da mansão sagrada.
E mesmo nuas (e mortas)
exumaram as ruínas
e geraram as idades.
CANTIGA DE SOLIDÃO
Não fora a solidão
que amor
apagaria a flama
desta agônica certeza ?
Não fora a solidão
restaria um instante
submerso
(restaria, entanto, outra
certeza
que amo
porque amo a
leveza
que surge
desta hora extrema,
inviolada)
Não fora a solidão
restaria um vago tempo
um amor sem a pureza da prece
e que, tocando o silêncio,
apenas tece o nada e
e seus caminhos mortos
Página publicada em fevereiro de 2020
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