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IRACEMA MACEDO
(1970- )
Iracema Macedo nasceu em Natal-RN, no dia 27 de junho de 1970. Formou-se em Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1991, e concluiu o mestrado na mesma área na Universidade Federal da Paraíba em 1995.
Na Universidade de Campinas, no estado de São Paulo, defendeu o doutorado, também em filosofia, em 2003. Durante alguns anos, viveu em Ouro Preto-MG e trabalhou na Universidade Federal de Minas Gerais, e agora é professora no Instituto Federal Fluminense, IFF-Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro.
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A VÍBORA DOIDINHA NESTE RECINTO
Vê como se apressa a pequena víbora
como se afoita nas brechas
e fria se rende ao cálio buraco?
Ou então, meu deus, atrás dos quadros
atrás das velhas mães emolduradas
no verso das paisagens penduradas
Percebe como a víbora se aquece?
Quanto me quis
por tantas horas
raiz viva da víbora ligeira
o supremo princípio dessa avidez esquecida
e a sutil chama fria a transgredir as paredes
E assim cinzamente alvoroçada
passar por aqui num ímpeto de silêncio fugidio
(mais nada)
Ah de víboras e asas
vou compor meu mel
para comer com o pão desta vida
a brasa.
(De Vale feliz - 1991)
DESTINO
Matei o gato, mamãe, matei o gato
mas o gato, mamãe, não morreu
passou o resto da vida
atravessando a sala
ensangüentado
Dona Chica não se espantou
e disse em tom muito sábio:
Esse bicho, Marília, não morre nunca
ou você foge ou finge suportá-lo
A CHEGADA DE MERCÚRIO
Acendes espelhos por onde passo
e mesmo em tua fúria
inventas silêncios que me acalmam
mirantes fogueiras viagens
tudo me trazes nos dias
em que ancoras
tua ventania nos meus braços
ARREMEDO
O medo medra
domo o medo
como pedra
medra o medo
como fera
dorme cedo
feito Fedra
finjo medo
feito merda
medra o medo
morde o peito
fere o seio
Pelo jeito
todo medo
gela a pedra
muito cedo
Vem o metro
e mede o medo
Medra merda
pelo gueto
Pelo jeito
todo medo
mede e medra
logo cedo
Pelo jeito
feito Fedra
feito merda
feito peido
todo medo
tem um jeito
toda pedra
tem seu preço
feito um peito
sem sossego
como gelo
o medo medra
como merda medra o medo
e mui vão seria o mundo
se não fosse esse arremedo.
(De Gravuras - 1995)
Página publicada em fevereiro de 2020
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