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GOTHARDO NETTO

 

(1881-1911)

 

José Gothardo Emerenciano Netto nasceu em Natal no dia 24 de julho de 1881.  Poeta seguidor do Romantismo e do Parnasianismo.

 

 

O verso de Gothardo é pura e logicamente o impulso natural dos

Condoreiros junto a uma porção adocicada de Casimiro de Abreu e

Fagundes Varela. Ninguém hoje fará versos com as imagens e os

coloridos antigos. Já ninguém hoje em dia perderá alma e sentimento

rimando versos com lágrimas nos olhos. (CASCUDO, 1998, p. 135)

(Por Humberto Hermenegildo de Araújo (UFRN) em http://hhermenegildo.50webs.com)

 

 

 

 

        MINHA CAMPA

 

Quero-a entre moitas de rosais. Ao fundo,
Triste cruzeiro humilde e suplicante,
Onde venha pousar o mocho errante
Cantando, à noite, a dor do moribundo.

E ao pé da lousa, como um ai profundo,
A luz crepuscular do céu, distante,
Deixem cair o orvalho fecundante
Dos olhos virgens que adorei no mundo.

Seja um soturno e calmo isolamento
Onde, por noites longas de amargura,
Soluce a treva ao palpitar do vento...

Junto — o cipreste um funeral cantando,
Na lousa — o nome da saudade escura
E um serafim de mármore chorando.

(De Folhas mortas, 1913)

 

 

 

N´UM POSTAL

 

Alvo e modesto este postal, Parece

Somente próprio a receber meu canto

Que nada mais de dúlcido e de santo

Tem que a meiguice virginal da prece.

 

Sonhos? Quem dera que os tivesse agora!

Minha vida é o rochedo

Onde a vaga estertora,

Sem jamais revelar o seu segredo!

 

Ah! Quem dera que sempre uma sereia,

No mistério soturno e funerário,

Guardasse esse rochedo solitário

Que o luar melancólico prateia!

 

(Natal, 1908,  publicado no Almanak de Macau, 1909).

 

 

 

IRONIA DA SORTE

O mundo é sempre assim — a desgraça e a ventura,
O esplendor da grandeza e a miséria sem nome;
Uns, cativos da sorte, a perecer de fome;
Outros, da sorte a rir, na pompa e na fartura.

Aqui, se exalta o Vicio ao fulgor de um renome,
Além, doira a Virtude a consciência pura;
Se este implora a Jesus, que lhe acalme a tortura,
Aquele nutre o mal, que o devora e consome.

Treva e luz!... Uma afronta ao lado de um carinho...
A serpe a profanar a maciez de um ninho...
A alvorada da paz e o tripúdio da guerra!...

E, quando a alma procura a eterna Soledade,
Bem feliz o que deixa um clarão de saudade
E um vestígio de dor a palpitar na Terra.

 

(De Folhas mortas, 1913)

 


Na capa, a imagem do poeta.

JORNALZINHO SEBO VERMELHO.   ANO II  No. 12  MAIO 1992. 
Natal, RN: 1992

 

IRONIA DA SORTE

O mundo sé sempre assim —   a desgraça e a ventura,
O esplendor da grandeza e a miséria sem nome;
Uns, captivos da sorte, o perecer de fome;
Outros da sorte a rir, na pompa e na fartura.

Aqui, se exalta o Vicio no fulgor de um renome,
Além, doira a Virtude a consciência pura;
Si este implora a Jesus, que lhe acalme a tortura
Aquele nutre o mal, que o devora e consome.

Treva e luz!... Uma afronta ao lado de um carinho...
A serpe a profanar a maciez de um ninho...
A alvorada da paz e o tripudio da guerra!...

E, quando a alma procura a eterna Soledade,
Bem feliz o que deixa um clarão de saudade
E um vestígio de dor a palpitar na Terra!

 

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Página publicada em setembro de 2022

 

 

 

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