CELSO DA SILVEIRA
Poeta, ensaísta, jornalista, Celso Dantas da Silveira nasceu em 25 de outubro de 1929, em Assú, filho do poeta, jornalista e advogado, João Celso da Silveira Borges Filho e de Maria Leocádia de Medeiros Furtado da Silveira. Estudou, em Assú, no Colégio Nossa Senhora das Vitórias e nos colégios Castelo Branco e São João, em Fortaleza, concluindo o ginásio no Atheneu, em Natal. Cursou Jornalismo e Comunicação Social, na UFRN, trabalhou como professor da Escola Normal Regional de Assú e exerceu vários cargos na prefeitura de Natal.
Conheceu a poetisa Myriam Coeli quando trabalhavam no jornal A República; casaram-se em 1958 e tiveram dois filhos - o poeta Eli Celso e a jornalista Cristiana Coeli.
Foi um dos fundadores do Teatro de Amadores de Natal e, em 1956, recebeu, em Recife, o prêmio de melhor ator do Festival Nortista de Teatro Amador.
Estreou com 26 poemas do menino grande, em 1952, mas foi com o segundo, Imagem virtual, de 1961, também de poesia e em parceria com Myriam Coeli, que ganhou notoriedade nos meios intelectuais de Natal.
A sua obra é extensa e abrange gêneros e assuntos diversos, indo da poesia fescenina, aos causos, ao memorialismo. Fundou a editora Boágua que editou vários títulos.
Faleceu, em Natal, em 2 de janeiro de 2005. (CG)
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Biografia extraída de escritoresdorn.com.br, onde há também a lista completa dos livros do autor
PRECE AO PÔR-DO-SOL NO POTENGI
Sol
relógio astral tange o pêndulo
- sua bóia fluvial -
ritmo das maretas...
Assim, lentas, as águas
pára-raios / ponteiros
do mostrador coral
na lâmina do rio
vão reproduzindo
portugueses na foz,
franceses no Refoles,
holandeses nos Guarapes, asas
da Condor na Montagem,
naus inglesas no flutuante
do Passo da Pátria,
hidro-aviões Latecoére na Limpa,
pesqueiros no cais
do Canto do Mangue,
ioles a remo eriçando o estuário,
mel de cana no Ferreiro Torto,
imagem da Apresentação
na pedra do Rosário
e sob a vigilância e proteção
do cruzeiro da Igreja do Rosário dos Pretos
no alto da Cidade
o povo amado de Deus reza
pela salvação da terra, amém ...
EPITÁFIO
Aqui jaz o poeta e não o canto que dele foi deflagrado como a flecha de um arco. Em cada intercessão do trajeto alcançado inércia e movimento ganham o mesmo compasso. Paro e passo, paripassu o canto e o silêncio para sempre viajado.
ÉGUA NO PÁTIO
A égua cardã flutuava
no plano plano do pátio.
As patas de luz tocavam
os extremos de outras patas
invertidas no chão molhado,
assim como refletisse
o animal num espelho.
— Como se fosse o animal
um objeto levitado.
ANTIPASSADAS
Agora que já é noite
no sobrado do meu avô
ouço passos de fantasmas
no assoalho do corredor.
Vêm lá da camarinha
subindo degraus da escada,
ou são canções de ninar
ouvidas por entre fraldas?
Sussurros de quem se ama
sob lençóis no escuro,
vêm por quarto da cama
ou seguem ao fundo do muro?
Não há equívoco, por certo...
vou surpreendê-los no coito.
— Na cama tudo deserto,
ao muro não me afoito.
São fantasmas de ancestrais,
só fazem o bem, nada mais!
Página publicada em fevereiro de 2020
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