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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

CARLOS HUMBERTO DANTAS

 

Poeta, Carlos Humberto Dantas nasceu em Acari, em 5 de janeiro de 1908. Faleceu em São Paulo em 29 de junho de 1970. O livro de poesia Sete canções da terra & outros poemas foi publicado em 1986, pela Fundação José Augusto, na Coleção Jorge Fernandes.
Biografia extraída de http://escritoresdorn.com.br/

 

 

Poesia Circular

 

 

E a pedra era

 

como toda pedra

 

a base da casa

 

e de outras coisas

 

que em torno da casa estavam.

 

A casa poderia ser o centro

 

como poderia ser o centro

 

a praça,

 

e tudo que era praça

 

e quase tudo que rodeava

 

era pedra.

 

 

**********

 

 

 

 

 

BRASIL, Assis, org.  A POESIA NORTE-RIO-GRANDENSE NO SÉCULO XX.  ANTOLOGIA.     Rio de Janeiro: Imago Editora, 1998.  204 p.  16 x 23 p.  (Coleção Poesia Brasileira)         Apoio: Prefeitura Municipal de Natal – Fundação Cultural Capitania das Artes. 
ISBN 85-312-0631-6     Exemplar bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Subindo rio acima em direção a uma república sem medo Rios sem medo

 

 

    1.     O rio (sereia) e seu canto torto

feito de pedras e cascalhos (como cascavel)

 

No medo do rio (a sombra é lodo)
onde locas e musgos feito escamas

 

0 rio (faca) e o seu pânico frio

de águas e correntes feito o mar

 

No rio (que fica eterno) tudo é emblema

como uma foto desbotada uma parede azul

 

2.    Não passam, no rio, os tempos independentes,
há sempre um encurtar no dia-a-dia

 

de caudaloso, hoje o rio, tem a lembrança,
estamos a perder o fio da meada, como um todo

 

0 rio só, como a cidade só, e ruas
noturnas, como sombras sobre nós

 

O rio em nós, como um farol,

ou uma sirene a percorrer entranhas

 

3.     Quem no rio, ou no seu leito seco,

navega, tirando da fibra o que lhe acrescenta?

 

0 rio mede em nós (como uma república)
o que o rio em nós tem de pátria, ou de medo

 

E sendo o que não medra (como fonte) o rio seco
é lembrança (de um mar longínquo onde navegar)

 

O rio como fala, e sua retórica de sonhos

ou sua exterior paisagem de margens e cascalhos

Que rio é esse, se o país não esquece,
sua face caudalosa, como um pranto?

 

Se o rio esconde o seu rosto desfeito,
como o que poderia ser sem ter sido?

 

De poço em poço, o rio tece, sua fisionomia,
de ilhas prósperas num geral deserto

Se navegar é preciso (nesse leito seco) e
stamos a esperar próximos ventos

 

5.     No rio que engravida com o mar

o amor não passa, como sonho nem como fato

 

Somados, são tantos em nós os rios,

que suas margens se alargam (como enchentes)

 

O rio, no entanto, não vê a cor (da dor)
nem é nosso esse espelho (de águas turvas)

Assim, como o rio, levamos nas correntes,
o que de aflição e medo nos contorna

 

6.     O rio de sempre como o mar (eterno)
onde nada se altera e se renova

 

O rio preso como currais de peixes,
feito de coisas noturnas e abismos

 

No rio que não há como uma república sem medo
se perde a estação das águas e o rumo

 

Um rio só passado, como recordação,
ou uma república velha, que persiste

 

7.     O rio burocrata, ou fina malha,
uma trama só teia, como aranha

 

O porto rio, ou a estação das idas,
o rio que se despede como imigrantes

 

Eis o rio interior, ou rio de dentro,
aquele que aflora só lembranças

 

No rio como nó, ou trava,

tudo se«estanca como seca ou cólera

 

8.     No rio diário, hoje, ou no rio história,
já não cabem dúvidas ou senões

 

Não é um rio infinito, que nos nutre,
mais parece um rio minguado, como um fio

 

No rio sem vazantes, ainda estão,
as marcas do plantio e suas trilhas

 

O não rio,.hoje, nos absolve,
como desejo oculto ou sonho

 

9.      O rio fúria, isto é, como foice,
pela raiz arranca e tudo leva

 

Não se mede o medo, em suas águas,
nas portas se fecham ou se guardam

 

medra do rio o que é pântano,

ou lodo, ou o que de mangue nos envolve

O rio acata o que é norma ou regra,
em suas águas se controla o que destoa

 


        [Lumeares ou o lugar dos limites/Inédito)

 

 

 

 

GARATUJA. Campina Grande, PB: 1977- 1978.  . 
No. 3 – jan./fev. 1978     15 x 21 cm

 

POSSIBILIDADE

iria ao encontro se não fosse      hoje
iria ao encontro se não fosse      tarde
iria ao encontro se não fosse      agora
iria ao encontro se não fosse      praxe

e poderia sair dizendo asneiras
e poderia sair dizendo besteiras
e poderia sair dizendo coisas

que não agradariam a todos os ouvidos

poderia inventar histórias,
e uma dança macabra,
e sorrir dos mortos à deriva
corroer as entranhas
de instituições,
envenenar a água,
como um bandido,
mas, no entanto,
apenas refaço os momentos,
eles são pontos,
são entrelinhas,
traçados geométricos
de uma arquitetura do ar.

 

PROPOSIÇÃO DE MUDANÇA

Um soco, seco, gástrico,
no formol, diurético,
onde hiberna a reação.

 

UTILIDADE DE POEMA

o poema apenas
e sua realidade concêntrica,
formal,
seria inútil.

  o poema apenas
com sua angústia vazia,
seria inútil.

  o poema seria útil
em se tratando do homem
e do seu tempo,
o seu
est-ar no mundo.

 

    *

VEJA e LEIA outros poetas do RIO GRANDE DO NORTE:

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grande_norte/rio_grande_norte.html

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2021

 

Página publicada em fevereiro de 2020

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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