Fonte: http://www.onordeste.com/
ANTONIO PINTO DE MEDEIROS
A literatura do Rio Grande do Norte registra o caso de dois poetas potiguares nascidos no Amazonas (1919): Antônio Pinto e Myriam Coeli. Pinto, filho de pais mossoroenses, nasceu em Manaus, acidentalmente.
Criança, ainda, veio para o estado e, primeiro em Mossoró, depois em Natal, inicia suas atividades intelectuais como professor e depois como jornalista. Formando-se em Direito em 1950, pela Faculdade do Recife, nunca chegou a exercer a profissão de advogado, vocacionado que era para o magistério, jornalismo e a literatura.
Único membro da Academia Norte-Riograndense de Letras a renunciar à "imortalidade", Antônio Pinto de Medeiros, foi jornalista, cronista, poeta, conferencista, professor. Durante muitos anos, manteve as colunas "Mirante", (diária) no "Diário de Natal", e "Santo Ofício", em "O Poti", aos domingos, onde comentava os acontecimentos da cidade, o futebol e onde fazia também crítica literária. Depois, transferiu-se para o Rio de janeiro onde militou na imprensa carioca e onde morreu (1970).
Antônio Pinto foi casado com dona Stela Medeiros e dessa união conjugal nasceram os seguintes filhos: Plínio (falecido); Maria da Saudade, residente no Rio de janeiro; Manfredo, funcionário do Banco do Brasil e Gilka, advogada em Natal, falecida. (Deífilo Gurgel)
MEDEIROS, Antonio Pinto de. Um poeta atôa. Natal, RN: 1949. S.p. 23,5x19 cm. Inclui um desenho de Di Navarro. “ Antonio Pinto de Medeiros “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SONETO Á TOA
A morte ha de vendar-me os olhos rebelados
E me transformará, com um riso de mofa,
Numa velha caricatura boschimana.
Passarei do ser ao não ser e o encantamento
De outras paisagens vai fazer de mim
Um confuso turista de outras vidas.
Plantar-me-eis pobre e nu como nasci.
E ao primeiro dia voltarei, com o tempo.
As chuvas serão pródigas e a terra avara
E sábia não fará brotar a semente inútil.
Nascerão flores e os ciprestes vetustos
Hão de cumprir a missão de matar o tédio
Da imobilidade e do silencio atroz,
Embora eu desejasse música para violinos.
MENSAGEM A WILLIAM BLAKE
Todos esperam a tua volta
Em coluna de nuvens dissolutas,
Trazendo o novo sentido e cores novas
E paisagens de alma e sangue
Multidimensionais.
Oh! William
O infinito, o universal e o absoluto
A morte dos limites anunciada pelos teus coros
As visões febris e o ritmo febril!
Haverá girândolas e música,
Meu caro Blake,
Com as velhas cores e os velhos sons ainda.
Não faltará o complot dos cadáveres.
Mas que seja logo, William Blake,
Porque os vermes, a tísica e o tédio já não há.
ODE Á PROSTITUTA SOFIA QUE
SE MATOU NO MAR
Satanicamente bucólica a paisagem.
Perdoe-me, mas todas as flores se abriram
E os sons orvalham até a alma trapista
daquele maníaco que acredita
na própria inexistência.
Qual será a cor desta hora perdida?
Veja imóvel aquela sombra de face no muro grisalho.
E não ame para não quebrar a paz.
As ondas acordaram cobrindo o cadáver de Sofia
A que vendeu a alma e o corpo
Para comprar aquelas sandálias
E a fita desbotada que ainda lhe prende os cabelos.
Ninguém escreverá sobre as aguas castas
Um epitáfio. Nem o nome sequer.
Estão perdidos todos os segredos das noites antigas.
Satanicamente bucólica a paisagem.
Não ame para não quebrar a paz.
Página publicada em setembro de 2014
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