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ALUÍZIO MATHIAS
(1962- )
Nasceu em Natal/RN. Envolveu-se com a poesia a partir da experiência com o Grupo Cabra. Organizou, com outros jovens artistas, a oficina de criação Aluá Edições Alternativas, grupo que divulgou fortemente a chamada Poesia Marginal na cidade.
Publicou os livros de poemas “Cárcere das Letras” (1979), “Concerto em Geral” (1980), “Extrema Poesia” (1981), “Poemas Soltos na Buraqueira” (1983), “Pipocalipse Nau” (1984) “Fato Consumido” (1985) e “Liberdade Palavra Poesia (2017) . É Secretário Geral da UBE/RN, União Brasileira de Escritores e membro da SPVA-Sociedade dos Poetas Vivos e Afins. Idealizador dos projetos “Poesia Circular” e “Folha Poética” e recentemente foi um dos Organizadores da “Antologia Poética Lula Livre”. Considera-se um eterno militante da poesia.
Biografia: https://www.sympla.com.br/
RECEITA POÉTICA
Quero dois dedos
de prosa,
uma mão de poesia,
braços sem monotonia,
corpo aberto de canção;
Peito ardente e marcado,
pela forte sintonia
de poder respirar versos,
motes côncavos e convexos,
recital de cada dia…
1992 GRAUS
Um poema desfolha o Bandeira
e a semana geral se inicia
movimento quebrando agonia
cai o vício do antigo modelo
Na noite oswaldiana tem versos
escritos na tabuleta ariantimétrica
colorido pelo pincel da história
vez em que o poeta foi notado
Aranha tece o manifesto
viva a modernagem plantada
por trás das bananeiras e mistérios
nessa grande e louca basiléia
Nuca se viu tudo novo
(também nas telas daquela menina)
deslumbrando todos na história
noite em que o poema foi notado.
SERTÂNICAS
Na sequidão da noite,
minha paixão semiárida
será galope de açoite
nessa natureza cálida.
Virão canções pela rua;
e nossa complacente lua
será testemunha nua
dessa robustez esquálida.
GRAMÁTICA
É próprio da paixão
ser um substantivo abstrato.
De sua beleza simples,
composta e primitiva
nasce um prazer plural,
nessa emoção singular…
ESPECULAÇÃO
O que ontem aqui
era lixo
hoje jaz como edifício.
MATHIAS, Aluizio. Pipocalipse nau. Natal, RN Aluá Edições e Propulsões Artísticas, s.p. 10,5x14,5 cm. Capas e arranjos gráficos: Venâncio Pinheiro. Ex. bibl. de Antonio Miranda
TESTAMENTO
Eu sou eu
e fui eu quem incendiou o plenário
dos bang-bangs imaginários
Eu sou mim
quem será de mim?
basta só que se anuncie no rádio?
Eu de vencer
com tiros de misericórdia
e balas de comunhão.
———
Não é chegada a hora
de esperar
a hora existe agora
e o tempo que ficou
não foi gravado no relógio
passe o tempo com cuidado
e você verá
que o que passou
foi somente o calendário.
POEMA DE INTENÇÕES
Estou fazendo agora
as contas do presente
descobri— que devo deixar
a dívida interna do corpo
circular pelos espaços
e só lhe pagar com abraços.
— — —
Ao mesmo tempo
em que se faça silêncio
silencie
eles sentirão
o maior barulho
Ao mesmo tempo
em que se faça barulho
organize-se
eles se sentirão
silenciados.
ANDAIME
Minha via passeia no elevador
como todas as vidas que passam no elevado
o elevador passa por cima de mim
e por cima passa meu desespero
para desespero do elevador
eu me desligo do mundo
e o mundo irônico
esquece de mim, o elevador,
e se desespera vida abaixo.
SOBRE O TERRAÇO
Os insetos dançam
as carrapateiras tremem
e a noite passa
perto da rua
as sombras bebem
à nossa saúde.
— — —
Estou andando numa (cidade)
encruzilhada
teia de homens-aranhas
caminho que nunca me enganou.
De vez em quando
como o pão que o trigo amassou
e viro a mesa dos convites.
Essa é uma cidade no relógio)
o presente bate todas as noites
[e repica,
junto com os corações
de marca-passo.
VISÃO DE UM POETA QUE SONHOU
COM A CIDADA ASSUSTADA
Meu grito de perigo
foi dado às margens da cidade
esse presente não é belo, não
[é forte
é esquálido, é osso.
Estou deitado nos seus braços
[algemas
teu amor ainda não me dá
[esperança
tuas ruas há muito me deseja
[vingança.
Se o rio Potengi espelha esta
[grandeza
há uma justiça cheia de oratória
e esse discurso é escuro na hora
[da morte
porque agora se transforma em
[palmatória.
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Página ampliada e republicada em outubro de 2023
Página publicada em fevereiro de 2020
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