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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

THOMAZ ALBORNOZ NEVES

 

THOMAZ ALBORNOZ NEVES (Santana do Livramento, RS, 1963). Autor de Renée (1987), Sol sem imagem (1996), Exílio (2008). Graduado em Direito, é Mestre em Literatura.

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

 

O TOURO CEGO

 

 

O campo é estelar. Sem céu

O vento entalha esses no ar

 

A curva do arroio repele

o véu do orvalho caindo

 

Da pedra moura, com sede

o touro cego olfateia

 

O pasto se afasta em onda

Em espirais os ciprestes

 

 

 

 

 

         O CORDEIRO

 

 

À noite, entre os girassóis

os olhos fixos no céu

gira o chão sob o cordeiro

 

Em anéis o envolve o vento

(conchas de ar têm por centro

dragas, fundos de fontes)

 

E ao movimento de ralo

da constelação se move

o halo dos cornos nascendo

 

 

 

                POETA

 

Ao escrever

hora a hora ante

o vazio

 

Ouço abrir

anéis de silêncio

onde pouso o olhar

 

Ocos ecoam arcos no ar

 

 

 

O VASO

 

Ao canto da parede branca

o vaso branco

 

a reta retém   a curva ecoa

 

 

 

O ESTRANGEIRO

 

Meus amigos partiram em turnos, descrentes da espera. Resto só na boca da gruta.

O Tritão gravado na cova, a melena de moluscos mortos, o mar extinto

O campo, a nós infinito desde sempre, respiro em um pouco de ar

Como se por anos a fio eu olhara esta paisagem nunca antes vista

Um pássaro único, em rota eterna, descreve o arco do infinito

A terra aberta Toda campo

Imóvel à beira do fogo, onde os homens são antigos

Em cada gesto reverência, em cada olhar adoração

O lençol da calma desdobra as quatro bordas do campo que o verdor do campo venta

Assisto ao ocaso dos séculos.

 

 

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2  Número 3 – Rio de Janeiro Fevereiro 1994 - Fundação Biblioteca Nacional. ISSN 0104-0626  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

A morte

A forma retém a força de evasão do conteúdo
As curvas pesam vazios em dispersão
Matéria é espaço aprisionado
Represados
                dentro e fora se atraem

O movimento
é o impulso contra o corpo que o encerra
Pulsante à margem do infinito
a duração almeja o tempo mais sensível que a vida

 

O ato

No o exato momento
o centro expande o que se abisma
O anel transparente do abraço
dispersa o eco sensível
Detido no movimento
o corpo é ponto entre pontos
que avançam em arco no espaço
O quarto é de um só elemento
e o calor dessa luz é a linguagem das coisas.

 

A estrada

A estrada desaparecerá depois que passarmos
Nós tocaremos a terra ignorando seu nome
Se reencontrarmos quem abandonamos
somente a pele recordará

Serás tua obra de arte

Como a hera no braço da estátua
a natureza nos retomará
Como em terra sem homens
o amor existirá sem história.

 

 

 

ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992.   334 p.   ilus    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

       O verdor a dois palmos do campo
       As folhas a um dedo dos galhos

       O peso do pássaro voando
       na sombra do pássaro voando

       No silêncio
       o pedaço de silêncio
       em tempo algum quebrado

       No ar o pouco de ar jamais respirado


             ***

       A estrada desaparecerá depois que passarmos
       Nós tocaremos a terra ignorando seu nome
       Se reencontrarmos a quem abandonamos
       somente a pele recordará

       O corpo será a obra de arte

       Como a hera no braço da estátua
       a natureza nos absorverá
       Como em terra sem homens
       o amor existirá sem história

 

 

  

 

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

 

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia.  ANO 4 – NÚMERO 7 – JULHO 1996.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1996.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

El extranjero

 

("O estrangeiro")

 

 

 

Mis amigos partieron por turno, sin fe en la espera. Quedé solo a la  
         entrada de la gruta.
El Tritón grabado en la piedra, la melena de moluscos muertos, el
         mar ausente

Al llano, para nosotros infinito desde siempre, lo respiré en un poco
         de aire 
Como si año tras año mirara este paisaje nunca antes visto
Un pájaro único, en órbita eterna, describe el arco del infinito
La tierra abierta      Toda llano

Sentado junto al fuego, donde los hombres son antiguos

En cada gesto reverencia, en cada mirar adoración

La sábana del sosiego despliega los cuatro bordes del llano que el
         verdor del llano sopla Asisto a un ocaso de signos.

 

 

Traducción de Rodolfo Alonso

 

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2017;

Página publicada  em setembro de 2020

 


 

 

 
 
 
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