SILVIO DUNCAN
SILVIO Gomes Wallace DUNCAN nasceu em Santiago, RS, a 1° de junho de 1922, filho de Sílvio Wallace Duncan e Ercília Gomes Duncan. Viveu alguns anos em São Borja, Alegrete, Uruguaiana, Bagé, estudando em colégios diversos, formando-se em Direito na Capital do Estado (1946) onde seu pai, Juiz de Direito, fora promovido a Desembargador. Em 1945, com Raymundo Faoro, Wilson Chagas, Fernando Jorge Schneider, todos estudantes de Direito, criava o Grupo Quixote.
Professor fundador do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde 1943 escrevia os poemas em prosa de "Paisagem Xucra", alguns dos quais publicou no primeiro número da revista "Quixote" (dez/1947) e que integraram o livro do mesmo título em 1958. Colaborou na criação de "Apenas o Verde Silêncio" com Heitor Saldanha, Joaquim Azevedo e Jorge Cézar Moreira. Participou da publicação coletiva "Poesia Quixote" (1956) e integrou a Comissão Realizadora do I Festival Brasileiro de Poesia (1958).
Publicou crónicas e poemas em diversos jornais de Porto Alegre. De "Paisagem Xucra" Wilson Martins, o crítico, disse ser a história poética do Rio Grande.
DUNCAN, Silvio. Profetas do cimento. Porto Alegre: Movimento; Instituto Estadual do Livro, 1983. 103 p. 15x21,5 cm. (Coleção Poesiasul, vol. 37). N. 03 809Capa de Sila Maria Lagranha Machado, sobre fragmento da gravura em metal intitulada Santo Antonio de Albrecht Dürer, 1519.Inclui o ensaio “ Silvio Duncan e Poesia Quixote”. Imagem do poeta impressa sobre papel manteiga. Col. A.M. (EA)
DONZELA PUDICA
Há uma barreira entre ti e a vida
e que te dá uma tristeza fundamental.
Por isso te alimentas de fantasmas do sexo
acondicionados em quilómetros de celuloide.
E tua mão é corpo
que substitui teu ventre amuralhado.
E a boca beija-se a si mesma
em soluços de ausência.
E as coxas grávidas de esperança
sonham a destruição do hímen
numa alegria de virtudes mortas.
O contato amante das vestes
te suplicia de pecado
e uma fila de padres negros
reza um réquiem.
OS MENDIGOS MENTIROSOS
Somos pobres, pátria,
somos pobres,
só temos nossas vestes
e a lepra de nossa alma
para te ofertar.
Somos pobres, pátria,
nossos automóveis
são de mentira,
nossas amantes
pertencem
ao erário público,
nosso dinheiro
está condenado
pela inflação.
Ai de nós
que nos sacrificamos
pelo bem do povo,
por amor ao povo
e no banquete da podridão
elevamos brindes
pela salvação da pátria.
Estamos em todos os partidos
distribuindo favores
porque somos as vítimas
deste tempo perdido?
JOVEM
Com o relógio
cravado no corpo,
com as frustrações
prontas para serem
carregadas
e os velhos envelhecendo
sem sabedoria.
Religiões vazias,
moralistas da moral do Eu
e as grandes palavras
para pequenos gestos.
Como não explodir
antes de transformar-se
para sempre
nos velhos ídolos ocos,
e espezinhar o ontem?
A VIAGEM MARAVILHOSA
o peixe atravessou o aquário
e foi passear seu corpo e turmalina
nas pupilas encantadas da criança
OS IMIGRANTES
Deuses sentados
no azul dos olhos.
Lendas dobradas
no baú da alma.
Mãos enormes
de geotropismo faminto.
Falas estranhas
de um tempo escuro,
vindas de velhos ossos medievais.
BACK, Sylvio. Cinquenta anos. Díário do Paraná. Edição fac-similar. Capa : Guilherme Mansur. Reprodução fotográfica: Cadi Busatto. Coordenação gráfica: Rita de Cássia Solieri Brandt. Projeto gráfico: Adriana Salmazo Zavadniak. Curitiba, Paraná: Itaipu Binacional, 2011. S. p. Inclui 7 folhas dobradas 94 x 1,26 cm., com imagens de páginas do suplemento literários dos anos 1959 – 1960, acomodadas numa caixa de papelão 35x 48 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
r i n h a
Gallito verde e ouro
Gallito canaguay na boca colombiana
Colombiano, cañero, rindo e fazendo apostas.
Sai, castelhano garganta,
teu galo arrepia o golilla
num upa
Três por um no vermelho
Topo
Tá pago.
O galo vermelho veterano veio falando grosso,
sem a confiança das muitas rinhas lindas.
O galinho verde e ouro entrou tão teso
no rinhadeiro.
Pua média pra medir a raça
O vermelho pescoceou manhoso e bicou de repente.
Tiro no revoo.
Escapada de corpo.
No, paisanos, no es correntón mi gallito.
Pois se não afrouxa morre agora no porrete.
Que nada, dois por um nele!
Quietude enorme.
O sangue corre manso.
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Poema publicado no domingo, 24 de janeiro de 1960.
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o edifício
Numeraram a luz
e ela sobe e desce,
dócil e conformada.
Numeraram as portas
e elas abrem e fecham
como podem.
Numeraram o amor
dentro do edifício
e os homens entram
e saem satisfeitos,
porque há honestidade
na frieza do número
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Poema publicado no dia 22 de janeiro de 1961
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Página publicada em fevereiro de 2021
Página publicada em fevereiro de 2012
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