ROSSYR BERNY
Nació en São Gabriel - RS, Brasil, el 30 de agosto de 1952. Desde el 13 de abril de 1973 reside en Porto Alegre. Estudió periodismo y maestría en Teoría de la literatura. Cursó en la Facultad Formación de Profesores en São Judas Tadeu. Es editor titular de Editora Alcance Ltda. Ha publicado más de 14 libros de poesía y en narrativa.
Publicá Entreguem o matador à família do morto - Brasil 500 danos. Es Representante por Porto Alegre, Brasil del Movimiento Cultural aBrace.
poeta força-tarefa
os dias e as dores dos dias
cobram à exaustão o meu oficio:
vim aos mundos ser poetas
ainda que em passos recentes
tenha sido fungo ou bactéria
árvore lodo água montanha ou gramínea
sou a poeira cósmica do big-bang
manhãs e adormeceres rebentam-me os ouvidos
pulsos e pulsares do peito me anunciam guerreiro
a lutar pela salvação do homem
impuro ou purificado
tenho texto na testa em letra escarlate:
venho às vidas e aos mundos ser poetas
II
é por fúria de justiça que amo o ser humano
poeta de oficio
zelo para que acordes em paz
ao teu digno dia de trabalho e amor
acaso me descuide de tanto zelo
acordarás sem a honra do teu labor
nem a amada no leito a acolher-te
por isso a permanente vigília
o verso e a voz em riste
para iguais conquistas de todos
compartilho do teu largo riso por estares feliz
mas culpo-me acaso a felicidade não te venha
III
guilhotina estas mãos escrevinhadoras
se elas não forem os poemas
que te libertarão da miséria e das desigualdades/'
animal furioso ou homem bom
defendo com adagas de luz
e força-tarefa
a segurança da tua vida de justo
IV
os tempos e as vozes dos tempos
rebentam-me os ouvidos
cobrando os afazeres de meu oficio
o cristo e os cães do peito
gritamgritam para que eu te guarde:
venho às vidas e aos mundos
ser os teus poetas-de-guarda
Extraído de Letras en Movimiento aBrace. Montevideo: Bianchi editores; Edições Pilar, 2006. 63 p. Em cooperación con el Movimiento Cultural aBrace.
CONSTRUTORES DE
PRECIPÍCIOS
(seleção)
“É um canto patético este canto de Rossyr Berny. A sua realidade poética e existencial esplende pela fraturas e interrupções sucessivas, por um permanente processo de coagulação verbal e sintática. Em Rossyr Berny o expediente quase remoto ganha uma força nova e até agressiva”.
LÊDO IVO, da Academia Brasileira de Letras
Porto improvável
Perdido de ti
sou metade de mim
Em meio a oceanos revoltos
minúsculo barco
o melhor porto que busco
é o milagre do teu abraço
Isso se deixares rastros
aos meus digitais, faro, olhos
Te buscam enlouquecidos
Isso se deixares indícios
nos faróis céus cios
madrugadas indormidas
Isso se nos ventos de tua passagem
deixares resquícios na paisagem
Talvez te denuncie algum flagrante
de meu nome em tua lembrança
E a saudade te surpreenda em pranto
Perdido de ti
sou pedaço de mim
Serei inteiro contigo inteira
quando teu peito reabrir-se ao meu
no porto fantasma do teu retomo
Desmemória
Se demorares um pouco mais
talvez me encontre fera
louco
Apenas pó
Descobrirás
que na primeira crise por tua ausência
comecei a gritar
grunhir
mugir
berrar
Lobo a acuar estrelas
mijei postes
escarvei
pastei
Elegi estrebarias para meu sono
e carniças para meu sustento
A última crise por tua ausência
trouxe o sossego dos desmemoriados
Luz torta
A luz vem torta
apagando a frouxa penumbra
Vem cega
pelas mãos dos caminhos descalços
Quebrada
desce escadas
Tropeça em correntes
de sobressaltados fantasmas
A luz vem tonta
Desenhada pelos aposentos
afoga-se nas rugas do cariado casario
Dos poros humanos
a luz nasce morta
Vem tonta
a trôpega energia
Filha dos olhos vazados do cotidiano
BERNY, Rossyr. CONSTRUTORES DE PRECIPÍCIOS. Porto Alegre: Alcance, 2006. 174p. (“30 anos de poesia”)
BERNY, Rossyr. O exercício da lágrima. Porto Alegre: Grafosul – Indústria Gráfica e Editora Ltada, 1979. 88 p. ilus. 14x21 cm. Ilustração: larice Jaeger. Capa: Quadro “O Giramundo”, de Ernesto Frederico Scheffel. Col. A.M.
“Não trairei meu século com versos à flora” — diz Rossyr Berny. Mas leva um poema na lapela. Nunca o mesmo. Porque é um poeta que sempre está se renovando. Para não trair o século. MÁRIO QUINTANA
CEMITÉRIOS NO LENÇOL
Num vértice de meus olhos
a aranha tricoteia sua galáxia
Um cão escapole ao coito
Há gaivotas procriando
Dois felinos capeteiam na relva
e guardam as crias do beligerante
Imito as grandes ninhadas
que multiplicam o frémito da vida
Ah, se pudéssemos não desperdiçar
o único tiro do espermatozoide
O horror e êxtase justificam a vida
e o desejo incrível
de ser pai do universo
que nos emerge aos jatos
De súbito uma voz vem de meus pés
Do outro lado do mundo
Imita um silabado chinês
com o leve espanto do funeral
dos meninos que não romperam o óvulo
FUNERAL
As mãos cruzadas no peito
é teu prémio à servidão
E nem as décadas de esfolamento
pagaram uma flor na lapela
O suor foi chuva torrente
no chafariz de teus poros
E tua biografia
só somou dívida aos descendentes
Só o fuzil foi a batuta
que regeu tua dança
Os vermes que explodem de tua carne
apodrecem com ela na terra
para adubarem figueiras e girassóis
Amigo
Antes do banquete dos vermes
leva este poema na lapela
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