Obra poética: Viagem dos Olhos (Coolírica, 1985), Bashô um santo em mim (haicais, ed. Tchê, 1988), O baú do Gogó (infantil, poesia, Sulina, 1988), Quase eu (Coleção Peti Poa, SMC/Poa 1992), Palavra mágica (Massao Ohno/IEL, 1994), Pequenas observações sobre a vida em outros planetas (infantil, poesia, Ed. Projet, 1998, reedição Salamandra, 2004), É tudo invenção (infantil, poesia, Ed. Ática, 2003).
A editora Global, como sabes, está lançando uma série de 15 livros com a história da poesia brasileira: Raízes, Arcadismo, Romantismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-modernismo, Modernismo, Anos 30, Anos 40, Anos 50, Anos 60, Anos 70, Anos 80, Anos 90, Anos 2000. É a coleção ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA, coordenada pela Edla Van Steen. Coube a vários estudiosos fazer a seleção e o prefácio de cada período. No volume que trata dos poetas que começaram a editar na década de 80, o crítico Ricardo Vieira Lima coloca o seguinte no estudo que abre a sua seleção:
"Não por acaso, ao fazer um balanço do período, a ensaísta Flora Süssekind referia-se à 'substituição de uma poesia expressiva, com overdoses de sinceridade e cujas formas privilegiadas foram o take e o diário [...], por uma tentativa de redefinir 'o fato literário' e uma poesia mais reflexiva [...] , com um pé na filosofia, outro na literatura'. Prova disso é a simples comparação entre dois poema emblemáticos, que representam, respectivamente, as poéticas das décadas de 1970 e 1980. O primeiro texto, escrito por Cacaso no fim dos anos 70 e dedicado ao poeta e amigo Francisco Alvim, simboliza a poética marginal: "Poesia/Eu não te escrevo/Eu te/Vivo/E viva nós!". A resposta a essa provocação nasceria quinze anos mais tarde, pelas mãos do poeta gaúcho Ricardo Silvestrin, autor do poema que, a nosso ver, sintetiza, admiravelmente, a poética da Geração 80: "não quero mais de um poeta/que a sua letra/palavra presa na página/borboleta/nem quero saber da sua vida/da verdade que nunca foi dita/mesmo por ele/que tudo que viveu duvida/não revirem a sua cova/o seu arquivo/é no seu livro que o poeta está enterrado/vivo"*.)
*poema do livro Palavra Mágica, Ricardo Silvestrin, Massao Ohno Editor/Instituto Estadual do Livro, 1994.
SILVESTRIN, Ricardo.Metal. Poesia. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2003. 136 p. 14x21 cm. Capa e projeto gráfico: Marta Castilhos. ISBN 978-85-7421-217-3 Col. A.M.
“Mas talvez o trabalho mais brilhante seja o de Ricardo Silvestrin. Em "Ex, Peri, Mental", que se divide em quatro seções, o poeta trabalha diretrizes diferentes com ótimos resultados. Numa delas, "Faço Minhas Suas Palavras", ele toma frases tiradas de jornais e faz de um painel desconexo um discurso cativante. E radicaliza no verso breve, quando, em outra seção, apresenta poemas de um único verso.”
Márvio do Anjos
(Folha de São Paulo, 22 de janeiro de 2005)
Uma concepção leiga do amor.
Tesão
é febre,
a fúria do corpo,
pedagogia da expressão.
Previsões para hoje:
aventuras,
ofertas,
andar po aí,
abraçar e acariciar todas as pessoas.
Vida íntima:
onde termina avagina?
o que mantém úmida a vagina?
Uma relação madura e equilibrada,
o último homem,
perfil de um gigante.
Orgasmo da mulher:
a estupenda noite de catch-as-catch-can.
Frases.
Cigarro.
Sexualidade:
o único pecado que existe.
Aqui pra vocês, ó!
É o seguinte:
falar ou não falar.
Tudo o que fizemos,
espaço para nanicos,
a biografia como gênero,
a grafia de um nome,
esconde-esconde,
arte abstrata,
símbolo,
aparas do tempo,
poesia da dispersão.
A nossa voz,
conceito de preservação,
pensava que fosse um chapéu.
Balanço final:
leves sinais de vida,
ainda é tempo,
eu tenho vontade
E ele diz:
Tudo é história.
Idéia de uma história universal
de um ponto de vista cosmopolita.
Põe na conta.
Agora é que são elas:
sobre a poesia,
origem do drama,
amor sublime:
com os meus olhos de cão,
o azul do céu
só tem novidades.
Que horas são?
No cenário da cidade
a lâmpada, corcundas, o cisne afogado.
A primeira experiência muitas vezes
rompendo com o drama do homem.
A gente ainda não sabia o baú,
a origem, a biblioteca.
O menino.
O flautista.
E vice-versa.
Lição de anatomia.
Trancados à chave,
A paixão é a pior armadilha.
Não é à toa que todo mundo quer.
Como remar contra a maré.
O sol e as sombras,
O tudo-ou-nada,
Voar sem escalas,
Memórias sob as asas.
Céu azul. A polícia,
Cadê a polícia?
Com tanto riso e tanta alegria toda a cidade vai cair na folia.
Norte e sul são dois antípodas.
SILVESTRIN, Ricardo.Menos vendido. São Paulo: Nankin, 2006. 336 p. 14x21 cm. Capa: Luis Giudice.
Edição gráfica da capa:Antonio de Amaral Rocha. ISBN 85-86372-98-6 “ Ricardo Silvestrin “ Ex. bibl. Antonio Miranda
(amplie leia o poema da capa...)
SILVESTRIN, Ricardo.Palavra mágica. Porto Alegre, RS: Instituto Estadual do Livro; São Paulo: Massao Ohno Editor, 1994. 96 p. 14x21 cm. “ Ricardo Silvestrin “ Ex. bibl. Antonio Miranda
mestre, ensinai
o caminho
do haicai
o mestre
não disse
um ai
*
no mesmo galho
uma formiga a passeio
outra a trabalho
POEMA-CARDÁPIO PARA O 3° MUNDO
este é um poema com fome
ai, quem me dera um calzzone
falando da minha e da tua pobreza
uma salada de alface um bife à milanesa
este é um poema sem fim
frango xadrez com amendoim
este é um poema que grita
garçom, mais batata frita
SILVESTRIN, Ricardo.Typographo. São Paulo: Editora Patuá, 2016. 152 p. 14x21 cm. Prefácio: Armindo Trevisan. Editor: Eduardo Lacerda.Capa, projeto gráfico: Leonardo Mathias. ISBN 978-85-8297-289-2 Tiragem: 600 exs. Ex. bibl. part. Antonio Miranda.
“Silvestrin é um dos poetas contemporâneos mais alinhado com o seu tempo. E ele, ao mesmo tempo, um dos poetas mais contestadores desse tempo, pois sua intenção é denunciar o frenesi que nos rodeia, tentando responder à interrogação que perturba a humanidade: “ O que é a vida? O que estamos fazendo neste planeta, onde h[a de tudo: prazer, volúpia, ternura, violência, terrorismo, sonho, promessas de felicidade?”
ARMINDO TREVISAN
ANDORINHAS
Duas reuniões de andorinhas
no início e no fim do verão,
sobre a minha casa.
Na chegada, alvoroço,
voos, cantos, acrobacias.
Na partida, me despeço
saudoso,
quase aceno
em vão
como menino
para o avião.
Pra onde elas vão?
Um lugar quente,
com certeza.
Não voam em busca de gente
como eu,
nem sabem que existo.
Se soubessem,
partir seria mais difícil.
OUTRO VELHO
Fala mais que todos na mesa.
Como se tivesse pouco tempo
e precisasse dizer tudo.
Cada palavra sua
vai envelhecendo os convivas:
semente de ruga
que ainda precisa ser regada pela chuva.
Gris
lá no início
da raiz.
OK
Ok, vida.
Se não
é o meu plano,
então qual
é o seu?
Ou está
aprontando
algo maior
com os destroços
de tudo
que é meu?
Uma escultura
de sucata
com minhas
horas de insônia
e esperanças
que deram
em nada.
PROCURA
Perdi a hora
que sequer
haviam me dado.
Procuro há anos
o que não pode
ser encontrado.
Procuro
pra não parecer
que não me importo.
Nenhum navio
mais atraca
nesse porto.
Procura-se
vivo ou morto,
diz um velho cartaz.
A recompensa
é trazer de volta
o que o tempo
não traz.
IMÃ – No. 5– 1993. Rio de Janeiro / Vitoria, ES: 1993. s.p. ilus. Desenho da capa: Lula.
Ex. bibl. Antonio Miranda
sempre que volto pro mar
o mar volta pra mim
no mar trocam de lugar
o início o meio e o fim
não vá lhe perguntar
como onde e quando
enquanto eu ia indo
o mar vinha voltando
MELLO, Regina. Antologia de Ouro IV. Museu Nacional da Poesia / Organização Regina Mello. Belo Horizonte, Arquimedes Edições, 2016. 160 p. 15 x 21 cm. ISBN 978-85-89667-56-2
Ex. bibl. Antonio Miranda, enviado pela editora.
a fera do tempo nunca se sacia
tudo se perde, se cria
e nada muda o seu movimento
almas, ânimos, sinas
da minha cara ao que ninguém imagina
o que sobra é esse momento
joguem-se os relógios ao vento
queimem-se os calendários
o tempo não mais se conta
a fera que ande às tontas
***
estava aqui agora mesmo
onde fui parar
entre o movimento e o momento
num contratempo, um alugar
paina planando no vento
mosca de tarde no bar
se não me engano era eu mesmo
esse que saiu a passear
ponte pênsil do pensamento
lá vou eu ou o que seja
um instante fora do ar
*
VEJA e LEIA outros poetas do RIO GRANDE DO SUL em nosso Portal: