RICARDO PORTUGAL
Ricardo Primo Portugal nasceu em Porto Alegre em 28 de fevereiro de 1962. Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é diplomata. Foi professor de literatura brasileira e língua portuguesa, além de organizador de atividades culturais na área de literatura, em Porto Alegre, junto à Secretaria Municipal de Cultura. Participou de atividades variadas de divulgação de poesia, como recitações, shows, publicação em periódicos e antologias de poesia.
Publicou: Antena Tensa (1985), Arte do Risco (1992), e Yes nós temos hai-cai (ensaio sobre a assimilação das formas japonesas na poesia brasileira). Também publicou, para crianças: A Cidade Iluminada (Editora Paulinas, 1998), As Aventuras do Barão do Rio Branco (Coordenação de Divulgação do Ministério das Relações Exteriores, 2002), livro de história do Brasil para crianças combinando prosa e poesia, juntamente com Fernanda Magalhães Lamêgo.
Vive em Changai, República Popular da China, trabalhando como diplomata na Embaixada do Brasil naquela cidade.
De
Passagens
Porto Alegre: AMEOP – Ame o Poema editora, 2004.
ISBN 85-98240-11-7
POESIA NÃO É A REALIDADE
Poesia não é realidade
Minha brincadeira meu caminho
no caminho branco de uma só alameda
minha vida não é realidade
Realidade é um trem-bala correndo
no eixo prazer-dor
Realidade é um zepelin lerdo queimando
charuto na noite de sua cabeça
Realidade é uma falta uma fala
uma fome um f minúsculo
realidade é um pau que cresce
e um olho que brilha
você segredos de lápis de olho olha
realidade riscando meu riso meu resto
na espera no escuro no escroto
realidade na sua cabeça
TODO O DINHEIRO DO MUNDO
Todo o dinheiro do mundo
valeria o poema escrito para nada
Não se paga este preço para nada
Todo o dinheiro sonhado por alguém
por toda uma vida escrita para nada
e toda a grana por que se tem ganas
gostos gastos guerras para nada
por que homens gaguejam e mulheres
envelhecem para nada
todo o dinheiro do mundo
e somente todo ele
valeria o poema
Não se paga este preço para nada
ORAÇÃO PARA WALT WHITMAN
Olhe à frente de você
este céu rede de estrelas
sobre o negrume da Terra
pescando você
Olhe à frente de você
o diadema de luzes
que orna a carne e a tez
de negritude latina
da América minha
e sua também
Olhe à frente de você
de um lado a outro da Terra
os dois peixes constelares
nesta estrada aberta
dobrada sobre si mesma
cobra que morde o próprio rabo
Sempre à frente de você
LONGE DE VOCÊ QUEM SABE PERTO
Longe de você quem sabe perto
de mim meu lado vil ou belo
o esquecimento é o refúgio
do que permanece eu não esqueço
estes olhos que transbordam para dentro
a existência paralela de um quadro
sabe lá de que memória
Quem sabe longe de você perto de mim
não se faz o que muito fiz pequeno
não seja mais o transitar-me inteiro corpo
para o teu lugar no espaço no ar
você se respira no tempo de seu ritmo
que me teve indissolúvel elo ouvinte
falante interlocutor de teu diálogo
Longe de você quem sabe perto
quase vaidade que recolhe
o já vivido já valido a pena
MEDICINA ALTERNATIVA
Dois dias de jejum, mais setembro
só a cereais, bebidas yang
yoga, meditações às pencas
Quem sabe na escória
e nos fluídos dejetados
venha a cura deste amor
que não me deixa
Página publicada em junho de 2008
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