RENATO DA CUNHA
João Renato Marques da Cunha nasceu em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, em 15 de abril de 1866 e morreu na mesma cidade em 8 de maio de 1901.
Poeta, sua obra foi produzida no período de transição entre o Romantismo e o Parnasiansmo.
Autor dos livros: Rutilações (1884); Pérolas e diamantes (1886); A nódoa (panfleto, 1887); Maldições e crenças (poesia e prosa, 1888).
SONETO
A noite era profunda. A neve borrifava
com pontas de punhais as pedras das calçadas.
Nos paramos do céu a lua deslizava
formosa auribordando as nuvens descoradas.
O vento minuano, um vento penetrante,
fazia tremular os lampiões sombrios;
deitados pelo solo em bando agonizante
uivavam tristemente uns doze cães vadios.
As lindas cortesãs, envoltas em arminhos,
nos fofos dos coupés*, como rolas em seus ninhos,
saíam dos bordéis cansadas das vigílias.
E nas mesas do jogos os velhos crapulosos
davam ao baccara**, febrentos, sequiosos,
os últimos ceitis*** roubados às famílias.
*Carruagem fechada, de quatro rodas, geralmente para dois passageiros.
** Jogo de cartas.
*** Moeda portuguesa do tempo de D. João I 1385-1433.
Página publicada em junho de 2020-
|