Foto: http://movimentoestudantilliberdade.blogspot.com/
REGIS ANTONIO COIMBRA
Nascido em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1968,
possui graduação em Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006) e graduação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992).
Atualmente é secretário da 1ª. edição do Curso de Especialização em Direito e Economia, promovido pelo Departamento de Direito Privado e Processo Civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenado pelo professor Marco Fridolin Sommer dos Santos.
POETA, MOSTRA A TUA CARA. Vol. 6. XVII Congresso Brasileiro de Poesia. Org. Ademir Antonio Bacca e Cláudia Gonçalves. Bento Gonçalves, RS: Grafite, 2009. 256 p Ex. bibl. Antonio Miranda
ADUBO
Cheguei totalmente pronto para de-
pender completamente doutros
Feliz, mente saudável
Com o tempo fui perdendo o jeito
Tornei-me liberal, neoliberal
Crítico da social democracia
E da mamata, que no fundo aspiro
E espirro
Dependo parcialmente ainda das
Mulheres para os tormentos e alívios
Lúbricos com que me ludicamente insisto
Encanto, embalo e descompasso
Cada vez mais pobremente equipado para a
Inevitável dependência
Iludo-me sério
Sensato, sisudo, sábio, solene
Austero
Hei-de me supor independente quando
Incapaz, impotente, inerte, invertebrado
Paradoxalmente necessitar de cuidados
Profissionais para a troca de fraldas e ex-
Posição ao sol, onde não fotossintetizarei
Contribuirei apenas — deficitariamente — com
o adubo que nos é origem e destino
ETERNIDADE
Porto Alegre, 3 de junho de 2009
A cada mendigo, aleijado, louco, retardado
Penso comigo: poderia ser eu, assim;
Poderei eu ficar assim
Controlo parcialmente minha arrogância
aparente e fatual, bem como me facilito o
árduo dever de negar esmolas a crianças e
Jovens apenas pobres ou viciadas
Choro ao ver filmes onde heróis explicitam
minha mediocridade e a futilidade de não
ser medíocre, salvo por também fútil vaidade
Ainda e muito arrogante, reprimo ou dis-
Farço as lágrimas que zombam de meu cinis-
mo estóico.
Mas sou agnóstico
Tendente ao ateísmo,
descrente não só na re-
Surreição, como da reen-
carnação e mesmo
Da identidade pessoal
durante uma mesma
vida inteira
Resta-me apenas a esperança de alguma
integridade
Enquanto me desintegro em desilusões e
orgasmos
A caminho da morte, horizonte que nunca
alcançarei
Morrendo na praia da agonia que antecede a
eternidade
Página publicada em agosto de 2020
|