PAULO RENATO RODRIGUES
Paulo Renato Rodrigues nasceu em Pelotas - RS, em 1945.
Médico psiquiatra é também artista plástico, escritor e poeta.
Tem participado de várias antologias em prosa e verso como as publicadas pelo Proyecto Cultural Sur - Brasil.
Algumas outras obras das quais é co-autor: "30 Contos Imperdíveis", "102 que contam", "103 que contam" e "Porque hoje é sábado".
Como artista plástico tem participado e sido premiado em exposições no Brasil, Portugal, México e Canadá.
POESIA DO BRASIL. Vol. 5. XV CONGRESSO BRASILEIR0 DE POESIA. Org. Ademir Antonio Bacca. Bento Gonçalves: Proyecto Cultural Sur - Brasil, 2007. Ex. bibl. Antonio Miranda
Inventando manhãs
Nas manhãs em que acordo
espero e me quedo quieto
para ver se lembro quem sou.
Jamais alcanço a certeza toda,
certezas me faltam tantas!
Serei o mesmo que deitou?
Ainda que muito eu queira
em umas ou muitas manhãs,
nem sei bem quem acordou.
Quem serei? Invade-me o espanto,
chega-me resposta alguma
e esqueço quem fui e sou.
Nas manhãs em que me acordo,
naquelas em que não sei
quem foi mesmo que acordou...
nessas manhãs mal despertas
o medo e o vazio se abraçam
e invento ser quem deveras sou.
Amanheceu
Amanheceu de repente.
O passado me prende
aos lençóis da lembrança,
amanheceu.
Amanheceu em mim
a palavra calada.
Acordo em silêncio,
amanheceu.
Amanheceu de repente.
Onde as rosas?
O breu da ausência
amanheceu.
Amanheceu em mim
o amor fenecido.
A vida vazia
amanheceu.
Mais uma manhã acontece.
Dos beijos negados, o fel
e as gotas de dor.
Amanheceu.
Mesma...mente
Improváveis acasos
ocupam a cena,
irreverentemente.
Nada se parece ao nada,
tão perfeitamente.
Não há traço que se atrase
nem atraso que se trace,
tão exatamente.
Tudo é assim mesmo,
completamente.
Palavras ao vento
Palavras sujas,
jamais.
Um poeta as lava,
Cui-da-do-sa-mente,
Deli-ca-da-mente.
Ao vento,
alvas e alvorotadas,
escrevem versos
nos varais.
Página publicada em outubro de 2020
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