Foto em: http://www.mensagenscomamor.com/
MARTHA MEDEIROS
Martha Medeiros (20 de agosto de 1961) é uma jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira.
Colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro. Formou-se em 1982 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.
Trabalhou em propaganda e publicidade, mas logo se sentiu frustrada com a carreira. Quando seu marido recebeu uma proposta de trabalho no Chile, decidiu que uma mudança de país seria uma ótima oportunidade para dar um tempo na profissão. Esta estada de oito meses no Chile, na qual passou escrevendo poesia, acabou sendo um divisor de águas na sua vida. Quando voltou para Porto Alegre, começou a escrever crônicas para jornal e, a partir daí, sua carreira literária deslanchou.
Livros de poesia: Strip-Tease (1985); Meia noite e um quarto (1987); Persona non grata (1991); De Cara Lavada (1995); A Terra Gasta (1996); a
Poesia Reunida (1998). Fonte: wikipedia
MEDEIROS, Martha. Poesia reunida. Porto Alegre, RS: L&PM, 1999. 172 p.. 10,7x17,5 cm. (Coleção L&PM Pocket, vol. 165) ISBN 85-254-0352-0 “Martha Medeiros” Ex. bibl. Antonio Miranda
49
a juíza das minhas loucuras
é severa demais pra me inocentar
não cobra depoimentos
nem sopra os ferimentos da tortura
simplesmente decreta pra minha culpa
prisão domiciliar
87
ele corre
e abre a grande angular
eu foco a fantasia
e a gente ri que dói
ele Fórmula 1
eu capa da Playboy
128
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA anos 80. / direção Edla van Steen; seleção e prefácio Ricardo Vieira Lima. São Paulo: Global, 2010. (Coleção Roteiro da Poesia
Brasileira) ISBN 978-85-260-1155-7 No. 10 317
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
toda mulher tem um homem que se foi
um homem que a deixou por outra
um homem que a deixou por um câncer
um homem que nem mesmo a notou
um homem que a deixou por um ideal
um homem que sumiu num temporal
um que não passou de dois drinks
toda mulher tem um homem que se foi
um homem que foi pego em flagrante
um homem que prometeu um brilhante
um homem que saiu pra jogar
toda mulher tem um homem
que esqueceu de voltar
De cara lavada (1995)
há mulheres
que têm diversos namorados
depois casam e têm diversos filhos e filhas
eventualmente um ou dois amantes
e chegam no fim da vida
se, nunca sentirem-se amada como as artistas
há mulheres
que tiveram uns poucos flertes ligeiros
no máximo um amor platônico
não casam, não fazem filhos
cultivam meia dúzia de amigos
e nunca se sentem benquistas
há mulheres
que preferem ficar sozinhas
não amam senão viagens, plantas e espelhos
e no entanto os homens morrem por elas
largam a família, se atiram a seus pés
amam estas mulheres com amor mais puro que
existe
e bem isso conquista
fraqueza, defeito
desvio cultural
herança genética, trauma da infância
carência existencial
vá saber a razão
para tanto
eu te amo ocasional
nenhuma mulher se sente
amada o suficiente
desista
Ibidem
Eu, que sempre falei
da boca para fora,
me pus a falar
da boca pra dentro.
O ouvido agora
não mais ignora
o som que vem
do meu centro.
A frase desfaz-se
em cada face
do labirinto
até encontrar
não o Minotauro,
mas o que eu sinto.
Ibidem
*
Página publicada e republicada em abril de 2025.
Página publicada em junho de 2016
|