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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

MANUEL DO CARMO

 

 

(Santiago, Rio Grande do Sul, 1891-

 

São Paulo, SP, 1951)

 

LIVRO DOS POEMAS.  LIVRO DOS SONETOS; LIVRO DO CORPO;  LIVRO DOS DESAFOROS; LIVRO DAS CORTESÃS; LIVRO DOS BICHOS.  Org. Sergio Faraco.   Porto Alegre: L.P. & M., 2009.  624 p.   ISBN 978-85-254-1839-1839-5

 

 

 

A NARCEJA

Nas gramas marginais de plácida lagoa,
de mil insetos vis à espreita, de emboscada,
oculta-se a narceja, até que, alvoroçada,
empós de alado inseto aos ares claros voa.

 

E tomba novamente, e rápida revoa
de novo, e vem, e vai, eternamente alada,
para pousar depois na volta e já cansada,
nas gramas marginais de plácida lagoa.

Tal, na febre do sonho, a alma de luz do poeta,
da fantasia audaz nas asas vai robusta,
de alado sonho empós, impávida e irrequieta...

No vasto azul campeia, alada e soberana,
para, célere, após, com a doce lira augusta
no áspero chão tombar da contingência humana.

 

 

 

                O SABIÁ

               

                O sabiá quando canta

                parece um vate a chorar;
toda a tristeza suplanta
o seu tristonho cantar.

 

                Gonçalves Dias chorando
lá das praias de além-mar,
é sabiá modulando
suas mágoas a cantar...

 

                Que é o vate quando soluça
nostalgias, a chorar,
sabiá que se debruça
nas palmeiras a cantar!

E uma mesma voz que as águas
põem de aquém e de além-mar,
a dizer as suas mágoas
um chorando, outro a cantar.

 

 

         

 

 

        OS DOIS CONDORES

 

Abriu num voo audaz as desmedidas asas.
Galgou, manchando o azul, por cima das montanhas.
O olhos, lampejando, eram dois sóis em brasas,
cravados no horizonte em radiações estranhas.

 

Faz tombar sobre a terra a sombra, em mancha escura
que do alto corpo, a voar, em sua passagem desce;
a sombra colossal da sua envergadura,
interceptando o azul, quando mais sobe, cresce.

Crocitam a fugir os corvos assustados,
ante o rei da amplidão, que, no alto, o voo apruma
aos Andes, em que avista em píncaros nevados
o vulto de outro rei, desenhado na bruma.

Sem cansaço ou fadiga, a um cimo o voo abate.
E contemplam-se os dois na fúria da requesta.
Entreolham-se medindo as forças para o embate;
e ambos, galgando o espaço, além cada um se apresta.

 

        Ouve-se ao longe o mar, num contínuo bramido.
As ondas a rugir, batendo à praia, cantam
hino de guerra, e darda o sol do elmo brunido
raios que sobre o dorso aos vagalhões se plantam.

Dominando o marulho às vagas, no entrechoque,
ei-los ambos fendendo o espaço em voo ousado.
Ao ruidoso chocar dos pelotões, ao toque
de carga, é semelhante o rude embate alado.

 

Cravam-se mutuamente as garras e as bicadas.
No recontro violento as penas longe esvoaçam.
Gotejam sangue quente as carnes laceradas,
no fero arremeter em que se despedaçam.

Hórrido guincho o vento, ao perpassar, transporta,
e os ecos, propagando-o, elevam-lhe o ressono.
Novo grito de raiva e dor os ares corta,
como de um rei potente ao retombar de um trono.

Redobram de violência. E, na embriaguez da luta,
fogem cansaço e dor. Como a ferir de um raio,
golpeada em cheio, rola horrenda massa bruta,
volteia um deles no ar... “Ó ventos, amparai-o!

Dai-lhe no horror da queda ao menos um conforto.
Minorai-lhe o tombar. Com essa força tamanha,
ao herói que na luta, em sangue e quase morto
sucumbe, o forte baque ao cimo da montanha

atenuai!” — E a passar, soprando indiferentes,
os ventos roucos vão fugindo pelo espaço.
E vem de queda em queda, em baque, aos dormentes
vales, tombar o herói dos vales no regaço...

Mas logo, contemplando o espaço, em que se libra,
aos guinchos, malferido, o seu rival soberbo,
sente despedaça-lo a raiva, fibra a fibra,
na impotência do voo e do rancor acerbo.

Equilibra-se no ar, empapado de sangue,
o rude antagonista.  E vendo, embaixo, à morte,
o alipotente herói, dilacerado e exangue,
larga o voo fatal que lhes decide a sorte.

Vendo-o  descer recobra as forças e a energia
o outro. A espera-lo então garras e bico apronta.
E aquele estala no ar bicadas à porfia;
e as garras com furor ferra na desafronta.

Num esforço supremo o que tombara do alto
primeiro, num arranco a força centuplica
e, alcançando ao rival o peito nesse salto,
crava as garras na carne e pendurado fica.

No desespero atroz da dor que o dilacera,
desfere o contendor o voo. Angustiado
grito de dor desprende, e, retomando a esfera,
leva preso na carne o rival pendurado.

Mas este, a pouco a pouco os músculos faltando,
e o vigar que o sustém fugindo, desfalece.
Gira, rola, e de novo ao penhasco tombando,
uma enorme avalanche a desabar parece,

enquanto em grito horrendo, um voo derradeiro,
direito ao vasto mar, o outro condor desata.
Insensíveis à dor do indômito guerreiro,
rugem os ventos como enorme cavalgata.

Rugem, bramem no espaço, e levam de vencida
tudo que se antepõe. No esforço soberano,
envolvem-no ao passar, na fogosa corrida,
e arremessam-no morto à vastidão do oceano.


 

Página publicada em junho de 2020


 

 

 
 
 
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