PRÉ-MODERNISMO

MANSUETO BERNARDI

Mansueto Bernardi (Pagnano di Asolo, 20 de março de 1888 — Veranópolis, 9 de setembro de 1966) foi um escritor, poeta e político ítalo-brasileiro. Mansueto Bernardi (Pagnano di Asolo, 20 de março de 1888 — Veranópolis, 9 de setembro de 1966) foi um m escritor, poeta e político ítalo-brasileiro. Ver mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mansueto_Bernardi

NA SOMBRA

Este amor que em mim vibra e que ela não conhece,
este amor que tem toda a aparência de um crime,
pois que vibra na sombra e é na sombra que cresce,
este amor, mesmo assim, é sagrado e sublime.

Filtro que me envenena e hóstia que me redime,
grito que é, ao mesmo tempo, imprecação e prece,
amor humilde e triste, amor de quem padece...
Quero, em vão, exprimi-lo! Este amor não exprime.

Adoro-a! E eis-me a viver, no entanto — ó escárnio eterno! —
dantescamente assim atado a esta cadeia,
com os olhos no céu e os pés dentro do inferno.

E quando assim, da sombra, acaso logro vê-la,
cego ser e não vê-la, eu preferira: sei-a
(e o meu baço é tão curto!)alta como uma estrela!

MORS-AMOR

Quisera ser o teu caixão, rainha!
Abrir-me, receber-te e após, fechado,
guardar, numa essa, a glória, linha a linha,
do teu divino corpo amortalhado.

E em meio à pompa do ritual sagrado,
eu, tronco vil, de condição mesquinha,
contigo celebrar o meu noivado...
Saber-te minha, inteiramente minha!

Sentir-te! Amar-te sempre! E, face a face,
que o nosso estranho amor, fria consorte,
onde tudo termina, principiasse!

E, ó volúpia sem fim! no último abrigo,
na quieta alcova conjugal da morte,
a pouco e pouco me fundir contigo...

(Textos extraídos do livro Convalescente. Porto Alegre, RS: Leite Ribeiro & Maurillo; Rio de Janeiro: 1918.)

Página publicada em setembro de 2015