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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

LUIZ CORONEL

 

 

Nascido em Bagé em 1938. Bacharel em Direito, Sociologia e Política, reside em Porto Alegre, onde trabalha como diretor de publicidade. Criou e dirige a Exitus, empresa de publicidade. É compositor musical, possuindo diversos prêmios como letrista nas Califórnias da canção nativa. Poeta, sua obra é voltada preferencialmente para a temática da terra, no que retoma a tradição do cancioneiro sul-rio-grandense. Dentre suas obras literárias, destacam-se: Mundaréu, Retirantes do sul, Cavalos do tempo, Baile de máscaras, Pirâmide noturna, Clássicos do Regionalismo Gaúcho. sua obra recebeu diversos prêmios, entre os quais: Prêmio Influência Poesia Espanhola, Universidade de Pamplona, Espanha, em 1990, e Premio Octavio Paz, da Revista Plural, Universidade do México, pelo livro Pirâmide Noturna. 

 

                  

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

                        A PAIXÃO

 

                   A paixão é um incêndio

na fábrica de fogos de artifício.

A paixão é um balé

à beira do precipício.

 

Quando a paixão termina

o mito se quebra.

E resta a sensação de uma viagem

contra uma chuva de pedra.

 

 

O BANHO

 

Como demora esse banho.

Envolta em toalhas

ela desfila entre espelhos

embaçados.

 

As lamparinas da nudez

conferem à pele

os vários tons da madrugada.

 

 

AS CHEIAS

 

Nessas ruas sem consolo

há um hidráulico erotismo.

Revelam formas fêmeas

os encharcados vestidos.

 

No aquário dos sapatos

sinto os pés como dois peixes.

Há dez dias que nas calhas

lê a chuva o mesmo texto.

 

 

LUA CHEIA

 

Duas gotas de sangue nas dunas,

duas rosas rubras na areia.

Se foi prazer ou suplício,

sabe o amor e a lua cheia.

 

Foi de amor esse gemido?

Ou foi de gozo esse grito?

Sabem tudo e nada dizem

as estrelas no infinito.

 

                            Amor, seja lá como for

 

 

GAUDÊNCIO SETE LUAS FALA DE CARTEADOS

 

Faço de banco a montanha,

ponho o sol de lamparina.

Um carteado tem mais manhas

que o vento na casuarina.

 

Se é mesa verde a colina,

Gaudêncio é carta marcada.

Rei-de-ouros para as chinas,

pros valentes rei-de-espadas.

 

Carteador dança ciranda,

nestas noites de serão.

Se o destino é quem nos manda,

tenho o destino nas mãos.

 

Clássicos do Regionalismo Gaúcho

 

 

PILCHAS

 

Não pensem que são pirilampos

essas estrelas lá fora.

É a lua clara dos campos

refletida nas esporas.

 

Se uso vincha na testa

é pra ver o mundo mais claro.

Não vendo o mundo por frestas

lhe posso fazer reparos.

 

Sem cinturão nem guaiaca

me sinto quase em pêlo.

Quando meu laço desata

sou carretel de novelo.

 

Da bodega levo um trago

para matar aminha sede.

Meu chapéu de aba quebrada

beija-santo-de-parede.

 

Atirei as boleadeiras

contra a noite que surgia.

Noite a dentro entre as estrelas

se tornaram três-marias.

 

Lunarejo - antologia poética regional

 

GAUDÊNCIO SETE LUAS AVALAI SUA GUITARRA

 

O que me prende à guitarra

não é sua forma de abraço.

esta guitarra me amarra

com suas rédeas de aço.

Guitarra é cuia com bomba,

reparem a semelhança:

se no mate o pampa é selva

na guitarra o pampa é dança.

 

tem pássaros cativos

guitarra sonora.

se entreabro suas cordas

os pássaros vão embora.

 

é guitarra o aramado,

onde o vento chora as manhas.

guitarra, tens potros xucros

galopando em tuas entranhas.

 

 

POLEIROS

 

A galinha nuvem-branca

pôs um ovo, lua cheia.

Uma ninhada de estrelas

na relva do céu passeia.

 

Galo-sol, penas doiradas

abre as asas, nasce a aurora.

As nuvens mudam de penas

quando a neve cai lá fora.

 

Nuvem-branca cobre a lua

ta chocando mais um pinto.

Madrugada tá clareando.

É mais um galo. Pressinto.

 

 

OS SANTORRÕES DO FERRABRÁS

 

Massacre 1 – Sapiranga 1874

 

(monólogo de Jacobina)

 

Do abismo de meu sono

eu trago a luz da verdade.

Anuncio o Fim dos tempos

para os campos e cidades.

A Divina Natureza

faz de mim sua vontade.

 

Aos enfermos trago a cura

que me revela a Divindade.

Das Sagradas Escrituras

prego o amor e a caridade.

Nem baionetas caladas

calarão minha verdade.

 

Os anjos estão comigo,

eu trago a Ressurreição.

Ao cerco do inimigo

nós não damos rendição.

Será a paz sobre cinzas.

Morremos de armas na mão.

 

 

COMO SÃO POBRES OS POBRES DO MEU PAÍS

 

Como são pobres os pobres,

os pobres do meu país.

Na pele morena da América

ferida sem cicatriz.

 

Como são pobres os pobres,

os pobres do meu país.

Pobres de beira de estrada

e dos degraus da matriz.

 

Como são pobres os pobres,

os pobres do meu país.

Na pele morena da América

ferida sem cicatriz.

 

Como são pobres os pobres,

os pobres do meu país.

Todo mundo oculta as culpas

só é maldito quem diz.

 

Como são pobres os pobres,

os pobres do meu país.

 

RELATO DAS RELAÇÕES DO SOL

COM AS ÁGUAS DO GUAÍBA

 

Relato as relações

do sol

com as águas do rio.

 

Um sol amoroso penetra

lentamente

as águas em cio.

 

Suave brisa

ergue os lençóis

e o sol

se deita

no leito.

 

As águas

com mãos de seda

acariciam um sol

aceito.

 

Com o sol imerso

nas águas

uma colcha púrpura

revela

que mesmo no fundo do leito

mantém acesas o sol

as suas claras

lanternas.

 

 

                   Um Girassol na Neblina (1997)

 

 

 

De
Luiz Coronel
CORAÇÃO FARROUPILHA
A poesia regional de Luiz Coronel.

Porto Alegre:  Projetos editoriais, 2001.  74 p.  formato  26x26c, capa dura.   Capa e projeto gráfico de Péricles Gomide. Responsabilidade editorial de Nádia Franck Bergman. Impressão e acabamento da Edebra Indústria Gráfica e Editoral Ltada.  Patrocínio da Companhia Província de Crédito Imobiliário. Ilustrado com fotos e imagens coloridas manipuladas, algumas em páginas desdobráveis. Inclui um CD musical.  Col. A.M. (EE)

 

CORDAS DE ESPINHO

Geada vestiu de noiva
os galhos da pitangueira.
Ainda caso com Rosa
caso ela queira ou não queira.

Acordei minha viola
com seis cordas de espinho.,
Meu canto em cor de sangue
teu beijo gosto de vinho.

Pra domar o meu destino
comprei um buçal de prata.
Nenhum pesar me derruba
qualquer paixão me arrebata.

Fui aprender minha milonga
na água clara da fonte.
O canto do quero-quero
mais que um aviso é uma ponte.

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 TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edicions Laiovento, 2001

ISBN 84-8487-001-4

 

GAUDENCIO SIETE LUNAS VALORA SU GUITARRA

Lo que me prende a la guitarra

no es su forma de abrazo.

Esta guitarra me amarra

con sus redes de acero.

 

Guitarra es cuya com bomba,

observen la semejanza:

si en el mate  la pampa es sabia

en la guitarra la pampa es danza.

 

Tieje pájaros cautivos

esta guitarra sonora.

Si enteabro sus cuerdas

los pájaros se alejan.

 

Es guitarra de alambrda,

donde el viento llora por la mañana.

Guitarra, tienes potros selvajes

galopando en las entrañas.

 

 

GALLINEROS

 

La gallina nube-blanca

pone um huevo, luna llena.

Uma nidada de estrellas

por la hierba del cielo pasea.

 

Gallo-sol, plumas doradas

abre las alas, nace la aurora.

Tus nubes cambian de plumas

cuando la nieve cae afuera.

 

Nube blanca cubre la luna

está incubanco outro pollito.

La madrugada está clareando.

Es outro gallo. Presiento.

 

 

LOS SANTURRONES DEL FERRABLÁS

 

Masacre 1 – Sapiranga 1874

 

(monólogo de Jacobina)

 

Del abismo de mi sueño

traigo la luz de la verdad.

Anuncio el Fin de los Tiempos

para los campos y ciudades.

La Divina Naturaleza

hace de mí su voluntad.

 

A los enfermos traigo cura

que me revela la Divinidad.

De las Sagradas Escrituras

anuncio el amor y la caridad.

Ni bayonetas caladas

callarán mi verdad.

 

Los ángeles están conmigo,

yo traigo la Resurrección.

Al cerco del enemigo

no damos rendición.

Será la paz sobre cenizas.

Morimos con las armas en la mano.

 

QUE POBRES SON LOS POBRES DE MI PAÍS

Que pobres son los pobres

los pobres de mi país.

En la piel morena de América

herrida sin cicatriz.

 

Que pobres son los pobres

los pobres de mi país.

Pobres a la orilla de la carretera

y e los peldaños de la matriz.

 

Que pobres son los pobres

los pobres de mi país.

En la piel morena de América

herida sin cicatriz.

 

Que pobres son los pobres

los pobres de mi país.

Todo el mundo oculta las culpas

solo es maldito quien maldice.

 

 

Que pobres son los pobres

los pobres de mi país.

 

 

         Clássicos do Regionalismo Gaúcho (1994)

 

 

 

RELATO DE LAS RELACIONE DEL SOL

COM LAS AGUAS DEL GUAÍBA

 

Relato las relaciones

del sol

con las aguas del río.

 

Un sol amoroso penetra

lentamente

las aguas en celo.

 

Suave brisa

alevanta las sábanas

y el sol

se acuesta

en el lecho

 

Las aguas

con manos de seda

acarician un sol

aceptado.

 

Con el sol inmenso

en las aguas

una colcha púrpura

revela

que mismo en el fondo del lecho

mantiene encendidas el sol

sus claras

linternas.

 

                   Um Girassol na Neblina (1997)

 

 

Página ampliada e republicada em janeiro de 2008;ampliada e republicada em setembro de 2011.

 




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