LUIZ CORONEL
Nascido em Bagé em 1938. Bacharel em Direito, Sociologia e Política, reside em Porto Alegre, onde trabalha como diretor de publicidade. Criou e dirige a Exitus, empresa de publicidade. É compositor musical, possuindo diversos prêmios como letrista nas Califórnias da canção nativa. Poeta, sua obra é voltada preferencialmente para a temática da terra, no que retoma a tradição do cancioneiro sul-rio-grandense. Dentre suas obras literárias, destacam-se: Mundaréu, Retirantes do sul, Cavalos do tempo, Baile de máscaras, Pirâmide noturna, Clássicos do Regionalismo Gaúcho. sua obra recebeu diversos prêmios, entre os quais: Prêmio Influência Poesia Espanhola, Universidade de Pamplona, Espanha, em 1990, e Premio Octavio Paz, da Revista Plural, Universidade do México, pelo livro Pirâmide Noturna.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
A PAIXÃO
A paixão é um incêndio
na fábrica de fogos de artifício.
A paixão é um balé
à beira do precipício.
Quando a paixão termina
o mito se quebra.
E resta a sensação de uma viagem
contra uma chuva de pedra.
O BANHO
Como demora esse banho.
Envolta em toalhas
ela desfila entre espelhos
embaçados.
As lamparinas da nudez
conferem à pele
os vários tons da madrugada.
AS CHEIAS
Nessas ruas sem consolo
há um hidráulico erotismo.
Revelam formas fêmeas
os encharcados vestidos.
No aquário dos sapatos
sinto os pés como dois peixes.
Há dez dias que nas calhas
lê a chuva o mesmo texto.
LUA CHEIA
Duas gotas de sangue nas dunas,
duas rosas rubras na areia.
Se foi prazer ou suplício,
sabe o amor e a lua cheia.
Foi de amor esse gemido?
Ou foi de gozo esse grito?
Sabem tudo e nada dizem
as estrelas no infinito.
Amor, seja lá como for
GAUDÊNCIO SETE LUAS FALA DE CARTEADOS
Faço de banco a montanha,
ponho o sol de lamparina.
Um carteado tem mais manhas
que o vento na casuarina.
Se é mesa verde a colina,
Gaudêncio é carta marcada.
Rei-de-ouros para as chinas,
pros valentes rei-de-espadas.
Carteador dança ciranda,
nestas noites de serão.
Se o destino é quem nos manda,
tenho o destino nas mãos.
Clássicos do Regionalismo Gaúcho
PILCHAS
Não pensem que são pirilampos
essas estrelas lá fora.
É a lua clara dos campos
refletida nas esporas.
Se uso vincha na testa
é pra ver o mundo mais claro.
Não vendo o mundo por frestas
lhe posso fazer reparos.
Sem cinturão nem guaiaca
me sinto quase em pêlo.
Quando meu laço desata
sou carretel de novelo.
Da bodega levo um trago
para matar aminha sede.
Meu chapéu de aba quebrada
beija-santo-de-parede.
Atirei as boleadeiras
contra a noite que surgia.
Noite a dentro entre as estrelas
se tornaram três-marias.
Lunarejo - antologia poética regional
GAUDÊNCIO SETE LUAS AVALAI SUA GUITARRA
O que me prende à guitarra
não é sua forma de abraço.
esta guitarra me amarra
com suas rédeas de aço.
Guitarra é cuia com bomba,
reparem a semelhança:
se no mate o pampa é selva
na guitarra o pampa é dança.
tem pássaros cativos
guitarra sonora.
se entreabro suas cordas
os pássaros vão embora.
é guitarra o aramado,
onde o vento chora as manhas.
guitarra, tens potros xucros
galopando em tuas entranhas.
POLEIROS
A galinha nuvem-branca
pôs um ovo, lua cheia.
Uma ninhada de estrelas
na relva do céu passeia.
Galo-sol, penas doiradas
abre as asas, nasce a aurora.
As nuvens mudam de penas
quando a neve cai lá fora.
Nuvem-branca cobre a lua
ta chocando mais um pinto.
Madrugada tá clareando.
É mais um galo. Pressinto.
OS SANTORRÕES DO FERRABRÁS
Massacre 1 – Sapiranga 1874
(monólogo de Jacobina)
Do abismo de meu sono
eu trago a luz da verdade.
Anuncio o Fim dos tempos
para os campos e cidades.
A Divina Natureza
faz de mim sua vontade.
Aos enfermos trago a cura
que me revela a Divindade.
Das Sagradas Escrituras
prego o amor e a caridade.
Nem baionetas caladas
calarão minha verdade.
Os anjos estão comigo,
eu trago a Ressurreição.
Ao cerco do inimigo
nós não damos rendição.
Será a paz sobre cinzas.
Morremos de armas na mão.
COMO SÃO POBRES OS POBRES DO MEU PAÍS
Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Na pele morena da América
ferida sem cicatriz.
Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Pobres de beira de estrada
e dos degraus da matriz.
Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Na pele morena da América
ferida sem cicatriz.
Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Todo mundo oculta as culpas
só é maldito quem diz.
Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
RELATO DAS RELAÇÕES DO SOL
COM AS ÁGUAS DO GUAÍBA
Relato as relações
do sol
com as águas do rio.
Um sol amoroso penetra
lentamente
as águas em cio.
Suave brisa
ergue os lençóis
e o sol
se deita
no leito.
As águas
com mãos de seda
acariciam um sol
aceito.
Com o sol imerso
nas águas
uma colcha púrpura
revela
que mesmo no fundo do leito
mantém acesas o sol
as suas claras
lanternas.
Um Girassol na Neblina (1997)
De
Luiz Coronel
CORAÇÃO FARROUPILHA
A poesia regional de Luiz Coronel.
Porto Alegre: Projetos editoriais, 2001. 74 p. formato 26x26c, capa dura. Capa e projeto gráfico de Péricles Gomide. Responsabilidade editorial de Nádia Franck Bergman. Impressão e acabamento da Edebra Indústria Gráfica e Editoral Ltada. Patrocínio da Companhia Província de Crédito Imobiliário. Ilustrado com fotos e imagens coloridas manipuladas, algumas em páginas desdobráveis. Inclui um CD musical. Col. A.M. (EE)
CORDAS DE ESPINHO
Geada vestiu de noiva
os galhos da pitangueira.
Ainda caso com Rosa
caso ela queira ou não queira.
Acordei minha viola
com seis cordas de espinho.,
Meu canto em cor de sangue
teu beijo gosto de vinho.
Pra domar o meu destino
comprei um buçal de prata.
Nenhum pesar me derruba
qualquer paixão me arrebata.
Fui aprender minha milonga
na água clara da fonte.
O canto do quero-quero
mais que um aviso é uma ponte.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. de Xosé Lois García
Santiago de Compostela: Edicions Laiovento, 2001
ISBN 84-8487-001-4
GAUDENCIO SIETE LUNAS VALORA SU GUITARRA
Lo que me prende a la guitarra
no es su forma de abrazo.
Esta guitarra me amarra
con sus redes de acero.
Guitarra es cuya com bomba,
observen la semejanza:
si en el mate la pampa es sabia
en la guitarra la pampa es danza.
Tieje pájaros cautivos
esta guitarra sonora.
Si enteabro sus cuerdas
los pájaros se alejan.
Es guitarra de alambrda,
donde el viento llora por la mañana.
Guitarra, tienes potros selvajes
galopando en las entrañas.
GALLINEROS
La gallina nube-blanca
pone um huevo, luna llena.
Uma nidada de estrellas
por la hierba del cielo pasea.
Gallo-sol, plumas doradas
abre las alas, nace la aurora.
Tus nubes cambian de plumas
cuando la nieve cae afuera.
Nube blanca cubre la luna
está incubanco outro pollito.
La madrugada está clareando.
Es outro gallo. Presiento.
LOS SANTURRONES DEL FERRABLÁS
Masacre 1 – Sapiranga 1874
(monólogo de Jacobina)
Del abismo de mi sueño
traigo la luz de la verdad.
Anuncio el Fin de los Tiempos
para los campos y ciudades.
La Divina Naturaleza
hace de mí su voluntad.
A los enfermos traigo cura
que me revela la Divinidad.
De las Sagradas Escrituras
anuncio el amor y la caridad.
Ni bayonetas caladas
callarán mi verdad.
Los ángeles están conmigo,
yo traigo la Resurrección.
Al cerco del enemigo
no damos rendición.
Será la paz sobre cenizas.
Morimos con las armas en la mano.
QUE POBRES SON LOS POBRES DE MI PAÍS
Que pobres son los pobres
los pobres de mi país.
En la piel morena de América
herrida sin cicatriz.
Que pobres son los pobres
los pobres de mi país.
Pobres a la orilla de la carretera
y e los peldaños de la matriz.
Que pobres son los pobres
los pobres de mi país.
En la piel morena de América
herida sin cicatriz.
Que pobres son los pobres
los pobres de mi país.
Todo el mundo oculta las culpas
solo es maldito quien maldice.
Que pobres son los pobres
los pobres de mi país.
Clássicos do Regionalismo Gaúcho (1994)
RELATO DE LAS RELACIONE DEL SOL
COM LAS AGUAS DEL GUAÍBA
Relato las relaciones
del sol
con las aguas del río.
Un sol amoroso penetra
lentamente
las aguas en celo.
Suave brisa
alevanta las sábanas
y el sol
se acuesta
en el lecho
Las aguas
con manos de seda
acarician un sol
aceptado.
Con el sol inmenso
en las aguas
una colcha púrpura
revela
que mismo en el fondo del lecho
mantiene encendidas el sol
sus claras
linternas.
Um Girassol na Neblina (1997)
Página ampliada e republicada em janeiro de 2008;ampliada e republicada em setembro de 2011.
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