LOBO DA COSTA
Francisco Lobo da Costa (Pelotas, 12 de julho de 1853 — 19 de junho de 1888) foi um poeta, jornalista e teatrólogo brasileiro.
Marcado pelo "Mal do Século", Lobo da Costa é um dos nomes mais expressivos do movimento romântico da Literatura do Rio Grande do Sul.[1]
A obra poética de Lobo da Costa foi publicada em jornais, em especial Eco do Sul, Diário de Pelotas e Progresso Literário. Alguns de seus poemas mais conhecidos são: Isabel, Fragmento, Sombras e Sonhos, Amor, Melodias, Aquele Ranchinho, Os Romeiros da Morte e Adeus.
De acordo com Guilhermino César, Lobo da Costa publicou o romance Espinhos d'Alma em 1872, na cidade de Rio Grande. Em edições póstumas, poesias suas foram reunidas em Dispersas e em Auras do Sul.
Em 1985, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) publicou em livro seu poema épico, Epopéia Farroupilha. Fonte: wikipedia
FAGUNDES, Morivalde de Calvet Lobo da Costa, ascensão e declínio de um poeta. Ensaio. Porto Alegre: Ed. Sulina, 1954. 216 p. (Coleção Meridional) 16x24 cm.
O REI E O OPERÁRIO
— O que vales, junto à forja,
Cingindo o sujo avental?
— E a ti que te vale a gorja
Do teu diadema real?
— Eu mando tropas e armadas,
Sustenho povos na mão...
— Pois eu tempero as espadas,
Que fazem a revolução!
— E eu tenho um cetro que ao vê-lo
Curvam-se as raças fiéis...
— Pois eu possuo o martelo
Que prega a forca dos reis!
— És um divino espantalho. . .
— E tu, que vales, vilão?!
— Eu forjo o anel do trabalho,
Tu forjas a escravidão*
— Eu tenho o sangue que deve
Recordar-me os faraós...
— E eu o do peão que em Greve
Decapitou teus avós.
—— Tu és das trevas o leito. . .
— Mentes, eu laboro a luz!
— Eu prego a luz do direito. . .
—E eu prego as leis de Jesus!
—— Tu és a noite, eu o dia,
Deslumbram-te os vivos sóis.. .
Tu fundes a tirania,
Eu fundo os pulsos aos heróis!
VERDADEIRA NOBREZA
Não é nobre o que amontoa
Os ossos frios, gelados,
De egrégios antepassados,
E um nome ilustre apregoa.
Há nódoa em qualquer coroa,
Laivos em degraus calcados
Dos tronos aïevantados
Como afronta à gente boa.
Nobreza — impõe a ciência,
O trabalho, a inteligência
E o ardor dos campeões,
Que mostram aos olhos do mundo
Em cada gilvaz profundo,
Um louro para as nações!
MINHA TERRA
(Resposta a Pinto Monteiro)
Se a tua terra é formosa,
Se tem espaços de anil,
A minha vale um tesouro:
Tem fontes de prata e ouro,
Rios maiores que o Douro. . .
Minha terra é o — Brasil.
Berço de tanta beleza
Que o meu, por certo não ha!
No teu crescem as roseiras,
Aqui tremem as palmeiras,
Batem rijas as cachoeiras
Escutando o sabiá.
Dizes que tantos primores
Ao meu lar não deu a sina?
Que o teu berço é um monumento.
Atende, atende um momento,
Se a tua terra é um portento,
A minha é quase divina!
Se cão valentes os filhos
Da nascente Santa Cruz,
Em que afrontam as metralhas
Sem os vestidos de malhas
Ante os tiros de arcabuz.
Onde um feito mais gigante
Qual o do — Ipiranga — entre nós?
Corre o Amazonas valente
Espalmando o continente
E se teve grilhão pendente
O grilhão veio de vós.
O Brasil é minha terra,
Que lindo céu que ela tem!
Tem por escudo um Cruzeiro,
Tem por asas o pampeiro,
E brada ao vulto estrangeiro
Adiante de mim — ninguém!
(Rio Grande)
A ÚLTIMA CONFISSÃO DE EUGENIA CÂMARA
O padre era um tipo venerando,
Mais pálido que o mármore de Carrara;
Ela a seus pés — de uma beleza rara,
Tinha os olhos no chão — o seio arfando.
Deserto estava o templo, porém quando
A voz do sacerdote se escutara,
Abriu-se a porta da secreta ara
E um arcanjo de luz passou chorando.
— Crê em. Deus, minha filha? — Eu o idolatro.
— De que se acusa, que pecado há feito?
— Meu padre, perdoai-me, eu tenho quatro.
— Credo em cruz! — brada o velho, a mão no peito.
— Amo a glória, o prazer, amo ao teatro,
E Castro Alves morreu por meu respeito.
Página publicada em dezembro de 2012
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