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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LINDOLFO COLLOR

 

 

Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor (São Leopoldo, 4 de fevereiro de 1890 — Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1942) foi um jornalista e político brasileiro. Seu neto, Fernando Collor de Mello, foi presidente do Brasil, de 1990 a 1992.

 

Filho de João Boeckel e Leopoldina Schreiner, luteranos, descendentes dos primeiros imigrantes alemães que aportaram no Brasil no começo do século XIX.

 

(...) Deixando o Seminário Episcopal, Lindolfo forma-se na "pouco prestigiosa Escola de Farmácia de Porto Alegre, provavelmente por dificuldades financeiras" [1]. Sendo essa, entretanto, uma atividade muito diversa da sua vocação, nunca a exerceu, mas transferiu-se, pouco depois, para Bagé, onde trabalhou durante um ano no jornal O Dever, de Adolfo Dupont. Em 1907 e 1909 publicou seus primeiros livros, todos de versos: "Bosque Heleno", "Orquestração de Luz", "Caminho de Flores" e "Poema dos Matizes", dedicado este último ao poeta gaúcho Zeferino Brasil, com as seguintes palavras: A Zeferino Brasil, Mestre e Amigo, esta pedra fundamental do meu edifício literário.

 ... Pouco depois entrava Collor, pela mão de João Luso, para a edição da tarde do Jornal do Comércio, ao tempo uma das folhas de mais difícil acesso no Rio. Começou então a escrever sobre o assunto de sua predileção, a política, em folhetim semanal por ele lançado, "O meu sábado". A esse propósito escreveu João Luso: "Logo na primeira crônica se definiu o seu feitio de combatente.

Desde janeiro de 1914 começara Collor a trabalhar na redação de A Tribuna, jornal de que eram proprietários seu sogro e o Senador mato-grossense Antônio Azeredo, que se tornaria mais tarde presidente do Senado. Seus primeiros artigos em A Tribuna ocupavam o espaço de uma coluna a que ele dava o título de "Pela Ordem".

Por essa época escreveu Collor seu terceiro e último livro de versos, "Elogios e Símbolos", causa de uma séria desavença entre o autor e o crítico literário Gilberto Amado. Encontrando-se os dois na rua do Ouvidor, Collor interpelou-o por suas criticas, que considerou deselegantes. A discussão acalorou-se e houve troca de empurrões que jogaram ao chão Gilberto Amado. Este, sacando do revólver, alvejou seu contendor, que já se afastava, indo os tiros encravar-se na fachada da Livraria Garnier, ponto de reunião de escritores e intelectuais da época. Possivelmente porque lhe houvesse pesado o excesso que, fora dos seus hábitos, cometera, ou porque concordasse que não era a poesia o caminho para o seu belo talento, resolveu Collor retirar das livrarias todos os exemplares dos seus livros de versos e não tornou a escrever outros.

Ver a longa biografia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Lindolfo_Collor

 

                SERENADA* FANTÁSTICA

 
 

       Numa cadência afrodisíaca
Dom Juan **, tendo a bandurra ***
ao braço, dá pela calada
noturna a serenada
que abre as janelas de Suburra. ****

Helena, que exaltou a Ilíada
e pôs Tróia em chama,
supõe que a doce voz por ela
canta... E crendo-se bela,
bem que hedionda, sai da cama.

Tendo o burgo cheira a lascívia.
Quem aqui, desta aberta
gelosia, aos raios da lua,
flácida a gorja nua
mostra o rosto à rua deserta?

Não deu César a mão a esta híspida
loba que alarmou Roma
e fez da púrpura divina
um trapo? É Messalina
senil que, ao lábio em ricto, assoma.

        De outra, uma boca surge tímida
num esgar de fantoche,
a indagar se um marujo a busca...
E oferece-se brusca:   
—“Das-me três sestércios?***** Um broche?”******

Não é bem Cleópatra, a egípcia
que nas mãos teve o mundo,
esse velho espectro grotesco
de gesto simiesco,
mimando o preço a gozo imundo?

Suntuosa, a testa fatídica
que viu diademada
Bizâncio e que da terra o espanto
foi, a ajeitar o manto
de imperatriz esfarrapada,

Teodora ******, que, paralítica,
áfona e surda agora
achou por fim a paz, espreita
se alguém transpõe a estreita
porta do albergue onde hoje mora.

        Dorme, bêbeda, a turba lívida.
Pesada a fronte lassa.
Que solidão! Langor tristonho!
Pobres olhos sem sonho...
Beijos, abraços... Ninguém passa.

        Ninguém! E a noite quase idílica...
Só Dom Juan que à brandura
crispa os dedos, dá serenada
à treva enluarada
e às velhas Vênus de Suburra.

Dom Juan, que uma ária demoníaca
sabe e, a sorrir, percorre
Suburra: e diz nela a ventura
do amor que sempre dura...
E da beleza que não morre.

 

*(P. us.) Serenata.
** Personagem criado pelo dramaturgo espanhol Tirso de Molina )1583-1648), que se tornou um mito universal — a do sedutor sem escrúpulos — e inspirou numerosas obras literárias e musicais.
*** Guitarra de braço curto, com cordas de tripa.
**** Rua e bairros populares de Roma antiga, habitados por gladiadores, barbeiros, ladrões e prostitutas.
*****Antiga moeda de cobre romana.
******Imperatriz bizantina (527-548), que foi atriz, cortesã e depois esposa de Justiniano I.

 


 

 

LIVRO DOS POEMAS.  LIVRO DOS SONETOS; LIVRO DO CORPO;  LIVRO DOS DESAFOROS; LIVRO DAS CORTESÃS; LIVRO DOS BICHOS.  Org. Sergio Faraco.   Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p.   ISBN 978-85-254-1839-1839-5                   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Salomé: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56631944

                                                              De  "Livro das Cortesãs":


RUMOR DSE ASAS, LONGÍNQUO...

Rumor de águas, longínquo...  Asas de talagarça
preta (o agouro o rumor de asas pretas)... A lua
é uma viagem com pés de prata, toda nua
e fria...  É fria a noite... Anda pelo ar, esparsa,

a carícia mortal da desgraça... É uma garça
de graciosa esbeltez Salomé... Vede-a... A sua
graça as almas encanta... E o quente sangue estua
pelos flancos do amante...  Arde na viva sarça

das luxúrias o olhar de Herodes... E a princesa
dança... De sete véus é o se adorno... E acesa
em volúpia, não há poder que lhe resista...

E toda sedução, toda febre e desejos,
a princesa é uma flor que se desfaz em beijos
rubros na fria boca em sangue de Batista.

 

*

Página ampliada e republicada em fevereiro de 2023



 

Página publicada em junho de 2020

 

 

 
 
 
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