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JAIME MEDEIROS JÚNIOR
Nascido em 1964. Poeta e escritor porto-alegrense. Médico pediatra. Autor dos livros Na ante-sala (poemas, 2008, editoras Território das Artes e Portopoesia); Retrato de um tempo à meia-luz (crônicas, 2012, editora Modelo de Nuvem). Escreve regularmente para o seu blog Simples Hermenêutica e para o da Palavraria.
Extraído de
COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA CONTEMPORÂNEA. Organizador Dilan Camargo. Porto Alegre: Assembleia Legislativa, 2013. 354 p. ISBN 978-85-66054-002 - Ex. bib. Antonio Miranda
Revir
só
o findar do dia
torno à minha casa
mas que retorno pode haver
e o que torna não é o mesmo que parte
e aquilo que fica te acolhe no fim da trilha
já não é senão o duplo do que deixaste
Do deslocamento ou da ferida de Zênon
Parto de um sim imenso, um sim sem refúgio, um sim presente, um sim sem par. Antes de haver esperança e de se prender o feixe das coisas com este ténue fio de entendimento, ele já sofria de se ser, perene curso do meu e do teu desejo. Mas mesmo assim talvez
possa haver algum deslocamento. Ou há alguma descoberta na solidão?
Não sei. Quero me aquietar diante dele. Sonho com outras terras. A flor no vaso. O prato de sopa. A cama no quarto de dormir. O sonho. E, no entanto, todo santo dia o sol inda fere a pele da noite. Será que já sei morrer?
Jerusalém inda está tão distante. Como não estar deslocado, não estar em outra parte? E a luz-menino ainda não se apagou no fim da história? E, contudo, agora já posso dizer, por desventuras de todo cavaleiro, que tudo vem sempre um pouco antes das coisas, nesse sim sem tamanho, que todo santo dia fere a natureza que percebe e que aqui nesse meu olhar te vê.
O Mapa
tudo está e não está no mapa
rio feito um filete frio
cursa sobre o papel, guarda vaga
impressão d'água que não vaza
tinta seca sobre o ex-vazio
que não afoga e nem desfaz a sede
simples nasce e morre para quem sabe ler
o seu pequeno curso
de uma a outra margem da página
Página publicada em maio de 2018
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