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GUTO LEITE
Poeta desde 1992, com quatro livros publicados, além de diversos poemas em coletâneas. Também roteirista, compositor, contista e intérprete. Nasceu em Belo Horizonte, em 1982.
http://twitter.com/gutoleite_poeta
De
Guto Leite
Zero Um.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2010. 68 p.
ISBN 978-85-7577-656-8
a pedagogia dos sonhos
para não se frustrarem
— a decepção é o ensaio da morte —
os pobre são educados por seus pares
para sonhar pouco
os ricos
quando sabem
chamam-nos de preguiçosos
édipo
enquanto buscam os monges
nos óculos das lunetas
suas verdades imensas
e os cientistas chafurdam
nos vidros curvos de ensaio
cada ausência do átomo
eu cerro meus olhos
mais certo que os fatos
vão fora dos corpos
mirar-se
há um espelho colocado fora
que anda comigo
nele me vejo continuamente
às vezes reflete o desconhecido
mínimo e profundo
que transpareço
mas normalmente em seu corpo
deita aquilo que costumo
ter por mim
a aparência com que a luz
aprendeu a enganar-me
os sonhos laminados
a grandeza hesitante
que se exibe
esquiva do acaso
o espelho por outro lado
me vê com as mesmas ressalvas
e vaidades
pergunta-se o quanto de mim
pode dizer de si mesmo
qual é a parte da carne
em que não se reconhece
se minha face o reflete
se escreve o mesmo poema
LEITE, Guto. Poemas lançados fora. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. 84 P. 13X20 cm. ISBN 85-7577-382-6 Ex. col. Antonio Miranda
De um lodo o outro
o vigia adolfo delongas vive de um lado
para o outro
feito um ponteiro
sempre firme de onde esta
rá
no próximo instante
liso como o tempo
é fácil vê-lo pelo pátio ermo
dos mais cheios
de alma impecável
e o corpo do terno um pouco
do avesso
no dentro
força
(acredito)
uma certa esperança
pelo ciclo inteiro
até retomar a ronda
O vitral
a morte é um vitral ao fundo da igreja
que as cores e os recortes
impedem o desenho de ser visto
assim que caminhamos dentro os átrios
místicos céticos afoitos
as formas vão pela luz se definindo
até chegarmos tão perto alienados
que iluminados na beleza
somos cegos e não apreendemos tanto
brilho
LEITE, Guto. Entrechos ou Valas de Silêncio. Porto Alegre, RS: Letra& Vida; Editora da Cidade, 2013. s.p. 17,5x25 cm. ISBN 978-85-65526-41-8. Capa e edição de arte: Rosana Pozzobon. Ilustração da capa e miolo: Guilherme Orosco. “Prêmio Açorianos de Criação Literária – Poesia 2012”. Poesia em prosa. Direitos da edição: Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Ex. col. Antonio Miranda
(fragmentos)
ando cansado de ser, depois de estar, sendo
alemão, diria, ando cansado de se/n, e estava
dito, vivo imensamente cansado de me can
sar, e saber de cor os motivos do cansaço tira-
me um pouco as razões de estar cansado, de
ser, o que recansa, não há descanso no
mundo para o cansaço que sinto, nem no
outro, que não há, talvez não haja de fato
alívio para os cansaços e as pessoas não
descansem, mas cansem para outras coisas,
assim nossas vidas seriam sucessões de
enfados, morrer, por ser fim, nosso segundo
cansaço, ou terceiro cansaço dos pulmões
no
princípio era o branco, o branco vazio e cheio,
o branco sem riscos, até que dois pontos
sublevaram o branco, e nada explodiu
(...)
entre mim e o círculo de pedra, zás, num raio,
lá estava seu tornozelo também debruado de
pele a escorrer as lágrimas do corpo, tenho
num lampejo de funes cada rosto, as tias,
monstros agigantados, ao lado, sem mover
uma fita do vestido, os olhos anteriores da
menina recriminando-me por comer tanto e
ser feio, a inda adio ao máximo tirar sangue,
mas não me arrependo
Página publicada em dezembro de 2010; ampliada e republicada em junho de 2014. |