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GUILHERME SCHULTZ FILHO
(Carazinho, 2 de abril de 1911 — Porto Alegre 28 de abril de 1976) foi advogado e poeta brasileiro.
Exerceu sua atividade profissional no Rio Grande do Sul, tendo sido vice-presidente da OAB-RS. Foi membro da Academia Rio-Grandense de Letras; da Estância da Poesia Crioula, a qual presidiu; da Casa do Poeta; presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; e diretor do Diário Popular.
Notabilizou-se na poesia regional com Gesta de um clarim, poesia vencedora do concurso da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul sobre a temática farroupilha..
Livros: Antologia da Estância da Poesia Crioula - 1970, Guilherme Schultz Filho e outros compiladores; Osório, o legendário - 1970, biografia; Gesta de um clarim - 1975, poesia crioula
Rodeio das águas- 1976, poesia crioula; Galponeiras - 1980, poesia crioula; Símbolos crioulos - poesia crioula.
Biografia: https://pt.wikipedia.org/
TEMPO DE ESTRADA – 20 POEMAS DA TRANSAMAZÔNICA. Rio de Janeiro: S.D.M.T em co-edição com Instituto Nacional do Livro e Grupo de Planejamento Gráfico, editores, 1972. 208 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A SERPENTE AMAZÔNICA
A Cobra Norato
despertou de novo.
Incha agora em seu ventre
a esperança de um povo.
A fome e a sede
do irmão nordestino
que antevê na esmeralda
da floresta distante
o faiscar borbulhante
de um novo destino.
A Cobra Norato
ressurgiu inquieta,
ainda maior
do que o sonho do Poeta.
Tem dois mil quilômetros
tão só na Amazônia.
Vai de Pernambuco
à distante Rondônia.
Vai da Paraíba
à longinqua Humaitá,
costurando os brasis
extraviados por lá.
Através de caatingas,
de sertões e selvas,
se encolhe e se espicha
na marcha veloz.
Enredada, serpenteia
por entre cipós
e prossegue imponente
transpondo caudais
de rios imensos e igarapés.
Encontra nos charcos
vestígios de pés.
Desvenda o mistério
e segue no rastro
de Plácido de Castro,
o gaúcho gaudério.
Impele-a o instinto
ancestral das origens,
as velhas vertigens
andarengas ds raças
que modelam pacientes
o Brasil do porvir
e que têm por destino
caminhar
caminhar
desbravar
desbravar
descobrir
descobrir.
Ninguém mais segura
a Cobra Norato
que silva nas matas
o rumor estridente
de buzinas e máquinas.
E floresce o deserto,
acorda a floresta
do torpor tropical
para a grande festa,
para a festa integral
do Brasil descoberto,
descoberto, afinal.
Página publicada em novembro de 2020
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