GASTÃO TORRES
GASTÃO Aurélio de Lima TORRES Filho nasceu em Venâncio Aires — RS, em 7 de maio de 1926. Foi revisor do Correio do Povo; colaborou no extinto jornal O Dia com estudos literários e assuntos de economia histórica; na quarta página do Correio do Povo em 51/52 e, desde 1975, no Caderno de Sábado, posteriormente Letras e Livros, do mesmo periódico. Colaborou ainda no caderno Mulher da Folha da Tarde e na revista Cultura Contemporânea, Porto Alegre.
TORRES, Gastão. Lua Ó. Porto Alegre: Editora Movimento, 1983. 86 p. (Coleção
Poesiasul, vol. 36) 15x22 cm. Em convênio com o Instituto Estadual do Livro. Col. A.M.
DEUSES E MITOS
Bilhões de auroras foram necessárias
Até que o fogo se fizesse lava,
Até que a lava se fizesse pedra,
Até que a pedra se fizesse Terra.
Bilhões de auroras foram necessárias
Até que os brutos se tornassem homens,
Até que os homens se tornassem anjos,
Até que os anjos se tornassem Deuses.
Bilhões de auroras foram necessárias
Até que os homens inventassem mitos,
Até que os mitos constituíssem fé.
Contudo apenas uma aurora basta
Para que os homens, finalmente homens,
Cancelem mitos e estraçalhem Deuses.
ASPIRAÇÃO
Vou de nova poesia
Sem limite de universo,
Vou ser rico em quatro estâncias
de um poema poliverso.
Não sou apenas um vate,
Unidade luminar,
Sou vate com sobrecarga,
Com potência de milhar.
Já não basta ser um vate,
Quero ser um quilovate;
Maiores choques por tato
Melhores versos portanto.
Já cansado de servil,
Vou mostrar novo serviço;
Já cansado de ser vate
Agora quero Cervantes.
GOSTO PARNASIANO
Agosto, mês das árvores despidas;
Os ventos, entre as moitas eriçadas,
Revelam um clamor de suicidas
E a contrição das almas condenadas.
Um funeral de folhas ressequidas
Desprende-se das últimas ramadas;
Contrasta no fulgor das avenidas
A solidão das noites prolongadas.
Definham os narcisos impotentes,
Crispando as longas pétalas dormentes
Na convulsão das flores moribundas.
Paisagem incolor de sóis fugazes,
Sem os matizes e os clarões vivazes
Das estações alegres e fecundas.
HUM MIL NOVECENTOS E SETENTA
E OITO ANOS, SEIS MESES E OITO DIAS
As dimensões do menos e do mais,
A antimatéria, o míssil nuclear,
A morte regressiva nos murais
Ao toque do pequeno polegar.
Os sóis de preto, o branco do quasar,
O coro das estrelas nos diais,
O homem-lua, misto de avatar,
No ano-luz dos mantos espaciais.
Os feudos de metal, a cibernética,
O servomecanismo, a grei sintética,
A bomba N, o átomo não-bento.
O neo-senhor, o (há de) ser biônico,
Os cães de fio, os bruxos eletrônicos
E o décimo-primeiro mandamento.
Página publicada em dezembro de 2012
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