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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

FERNANDO CASTRO

Antônio Fernando Ribeiro Castro nasceu em Veranópolis, Rio Grande do Sul, Brasil, em 24 de dezembro de 1935. Cedo veio a residir em Porto Alegre, onde iniciou suas atividades artísticas e literárias. Participou do Teatro do Estudante e do movimento do teatro amador, ao mesmo tempo em que escrevia poemas e contos, publicando-os em diversos jornais e revistas da Capital e de outros Estados. Jornalista e advogado.

Obras do autor:Folha de Poesia Quixote (antologia, 1955), “Antologia dos poetas laureados no concurso de Poesia Leitura” (Rio de Janeiro, Livraria São José, 1957), Narceja (antologia de poesia, São Paulo, 1959).
A seguir, poemas extraídos de “ Material de Exposição”  (coleção petit poa):

 

ADOLESCÊNCIA

triste é a queda da chuva
escorrendo inapelável nas superfícies.
é nesse espaço que aparece o grito da fonte
e medo terrível da aproximação.

se diluem forças contagiando
as cortinas da tarde,
e uma silhueta pálida
                               sem futuro,
perpetua-se na linha da mente.

cria-se no sexo plantação da carne.
lanceiros infalíveis desencadeiam marchas
em países delineados por ventres,
onde constituições liberam
passaportes para excursões infindáveis.

mas um gemido,
                        um aceno
arrematam caminhos anulados.
e são enfermeiros deles mesmos,
engenheiros de estrada particular.

 

ANGÚSTIA CENTRAL

se o expresso partir na velocidade do sonho
                                                                       se
e os aviões decolarem em julho
                                      principalmente
                                      porque neste mês
                                      eles caem
tornando-se esferas orgânicas
subjugadas ao vento e ao lamento
                                      dos homens
se as mulheres ficarem além do orgasmo
                                               peso retraído
                                               líquido amargo
e não tiver quem possa desvendar o segredo de corpos
boiando em soluços
                   por isso existem igrejas
                   e rezas no desvario noturno
                   por isso ficamos organizados
                   perdão num consolo epidêmico
e temos pressa da morte
                            se as gaivotas não chegarem
e temos pressa da despedida
                                  se o expresso não partir
                                  blindado de sonho
e ficamos ligados de angústia
                                   vendo a queda dos aviões
                                   em julho

 

AUDIÊNCIA INTERIOR

agora já fomos reduzidos a uma espécie
de cidade em colunas
                            sofrendo pela constituição
                            homicida dos climas transmutados
                            ou enlutamento vespertino
ou ainda essa emoção estática das multidões
quando organizam açoitamento de entes
mas poderá existir esta audiência contraída
num seqüestro de internados
por isto
         num repente sonoro
gestos preconizam rua em pânico
e fuga sinuosa do homem refletido

vamos esperar inventários decifrando
o prestígio dos mortos
                            porque deles ficaram consciência
                            em espasmo
                            despedida involuntária
                            vestuário
portanto


 

                   como poderei destruir os signos
estabelecidos
         se partirmos conduzidos de crenças originais
         e os antigos fiscalizam nossa cópula diário
         provocando lamento nos filhos recém-nascidos



Publicado em outubro de 2008




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