ESPUMAS DE SAPO
VERSOS SOBRE A ATUALIDADE POLÍTICA
(anônimo)
ESPUMAS DE SAPO. VERSOS sobre a actualidade política. S.l.: s. ed, s.d.
171 p. 11,5x16 cm. Impresso provavelmente no Rio Grande do Sul, sobre fatos e notícias políticas locais. Sem autoria conhecida. “ Espumas de sapo “. Ex. bibl. Antonio Miranda.
(conservando a ortografia da época)
Os gestos do Mingão
O Getulio cantou, mas parece que o canto
Não deveria ter o esperado encanto
Com que a grey pretendia impressionar a gente
Aos successos do Sul um pouco indifferente.
Começou a cantar; porém, de vez em quando,
O auditório notou que ia desafinanndo,
De forma a produzir ligeiros solavancos,
Como os que sobre o chão produzem os tamancos.
Segue o fado e, ao em vez de afinar a garganta,
Um pigarro tenaz dos contrários descanta,
Ao sabor do Mingão que, bufando, aos pinotes,
Glosava do poetão os primorosos motes,
Como se n'elles visse em uma estribaria
Um monte seductor de cevada macia.
O orador prosegue em seu longo discurso,
Aos bravos do Mingão, confortante recurso,
Apoio protector n'aquelle meio extranho,
Tradicional jardim de rigoroso amanho,
Onde cultivadores
Como Gaspar Martins e Alencar, nos fulgores
De sua erudição, em ondas de harmonia,
Imitando o trovão e a voz da cotovia,
Tinham das multidões estrepitosas palmas,
— A glorificação de arrebatadas almas.
O Getulio ao Mingão sempre se dirigia,
Consultando, porque, toda a assembléa fria
Se mostrava aos clarões de sua eloquência! ?
Um aparte, entretanto, em sua reticência
Deixa entrever aos dois o nenhum interesse
Que produz/do orador a monótona prece.
O Mingão desaponta; o Vargas desafina:
Com os apartes que vem de frente e de bolina,
Atacando sem dó aquella chinfrineira,
Cujo ataque produz, uma, explosão, grosseira.
Foi causa principal: foi motivo alarmante
Resurgir, como bomba, o talento brilhante.
Do illustre deputado, o invicto Souza Filho,
Coherente no trilho
Que traçou, defendendo a nossa, liberdade
Contra a indignidade
Da vil usurpação; por negra coincidência,
Sobre o marco de luz da nossa independência!
Não queremos, leitor, desviar um momento
Vosso olhar e attenção do fogoso jumento
Que ha vinte annos pasta em farta manjedoura,
Sem um passo sequer para a fértil lavoura
Amainada ao esforço ingente e patriota
Dos que luctam e têm por aquelle idiota
A consideração que merece uma mula:
Essa entidade nulla
Sem outra aptidão que não seja a papança
Dos três contos por mez, como uma besta avança,
Empinada em dois pés, com as patas dianteiras
Erguidas para o ar, aplaudindo as asneiras
Do seu novel collega, amigo e bom comparsa.
N'esta ignóbil, vil e pustulenta farça,
Que uma grande porção do Rio Grande imposta.
Zurra... zurra, á vontade, ó reverenda besta,
Porque prestes vaes ter o premio que mereces:
As abundantes messes
De cevada e capim, na esquecida querencia
Porque burro tu és, mesmo tendo excellencia.
Página publicada em julho de 2014
|