POESIA SIMBOLISTA – SIMBOLISMO
EDUARDO GUIMARÃES
Eduardo Guimaraens (Porto Alegre, 1892 — Rio de Janeiro, 1928) foi um escritor, tradutor e jornalista brasileiro.
Ao tentar publicar seu primeiro poema, o soneto Aos Lustres, aos 16 anos, no Jornal da Manhã, de Porto Alegre, teve que convencer o editor, Marcelo Gama, que tinha sido realmente o autor da peça.
A partir de 1911 colaborou com diversos periódicos de Porto Alegre, entre eles o Jornal do Comércio, Folha da Manhã, Diário, Federação e Correio do Povo.
Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, onde havia começado como auxiliar técnico.
Entre 1912 e 1916 viveu no Rio de Janeiro, onde colaborou nos jornais A Hora, Rio-Jornal, A Imprensa e Boa Hora, e na revista Fon-Fon.
Poeta simbolista, formou, junto a Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, a "trindade simbolista" no Brasil.
Era pai do também escritor e jornalista Carlos Rafael Guimarães.
É patrono da cadeira 38 da Academia Rio-Grandense de Letras. Foi homenageado como patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 1969.
Obra poética: Caminho da Vida, 1908; A Divina Quimera, 1916. Fonte: wikipedia
TEXTOS EN ESPAÑOL - POESIE EN FRANÇAIS
Doçura de Estar Só...
Doçura de estar só quando a alma torce as mãos!
— Oh! doçura que tu, Silêncio, unicamente
sabes dar a quem sonha e sofre em ser o Ausente,
ao lento perpassar destes instantes vãos!
Doçura de estar só quando alguém pensa em nós!
De amar e de evocar, pelo esplendor secreto
e pálido de uma hora em que ao Seu lábio inquieto
floresce, como um lírio estranho, a Sua voz!
E os lustres de cristal! E as teclas de marfim!
E os candelabros que, olvidados, se apagaram
E a saudade, acordando as vozes que calaram!
Doçura de estar só quando finda o festim!
Doçura de estar só, calado e sem ninguém!
Dolência de um murmúrio em flor que a sombra exala,
sob o fulgor da noite aureolada de opala
que uma urna de astros de ouro ao seio azul sustém!
Doçura de estar sós Silêncio e solidão!
Ó fantasma que vens do sonho e do abandono,
dá-me que eu durma ao pé de ti do mesmo sono!
Fecha entre as tuas mãos as minhas mãos de irmão!
(A Divina Quimera, 1916)
DE PROFUNDIS CLAMAVI
Desse profundo horror, de explêndida memória,
ouve, Senhor, o brado unânime e maldito
que aos céus, vibrando, sobe! Ouve o sinistro grito
que é toda a angústia humana e toda a humana glória!
Ouve o que diz a boca exangue e merencória,
de amor gemendo! E o lábio ardente do precito
que em vão interrogou a sombra do infinito!
E o que sorveu, calado, a lágrima ilusória!
Ouve, Deus de Sinai que tens o raio ao seio!
Nós clamamos a ti pelos perdões supremos
pela suprema paz ao nosso eterno anseio!
E queremos saber por que nos torturamos!
E clamamos a ti do Éden em que sofremos!
E clamamos a ti do Inferno em que gozamos !
(A Divina Quimera, 1916)
Soneto
"Tudo que faz da carne um mistério inquietante,
languescências, brancor de túmulos ao luar,
marfins de rosa murcha, inerte e singular,
tudo o seu corpo tem, de abandonada amante
Nimba-lhe a fronte o horror. Quando emudece, o olhar
mostra a antiga tortura eterna e alucinante,
porque os seus olhos são dois tercetos de Dante
que Gustavo Doré deixou por ilustrar!
Do gesto vão, jamais de arremesso ou de assomo,
fez o esforço brutal que dá glória ao perigo;
atrai assim, contudo, a alma do sonhador,
Magnífica, fatal e funerária como
hirta e nua, ao entrar de um cenotáfio antigo,
uma estátua da morte, um mármore de dor!"
(A Divina Quimera, 1916)
Sob os teus olhos sem lágrima
Une rose Dan lês ténèbres
Stéphane Mallarmé
Não porque a noite, de astros pura,
traga ao meu riso este ar dolente
de um trovador convalescente,
lembro-te, calmo e sem tortura.
Mas, porque à luz que se transfigura<
constantemente, eternamente,
esta paisagem da alma ardente,
outra surgiu mais lenta e obscura.
Outra surgiu que mostra em cada
canto uma planta misteriosa,
um lírio negro, uma flor tristonha:
E esta dor mortal e sagrada
que floresceu, como uma rosa,
da mais profunda do meu sonho!
(A Divina Quimera, 1916)
NOVILÚNIO
Novilúnio de outubro. É primavera. Sente!
Que silêncio! Não move uma só brisa. Odor
a jasmins. Larga e verde, a água-morta jazente.
Nela ao fundo azulado o céu. Nenhum rumor.
São como aparições as árvores. Que mágoa,
a destes salgueiros! Ó vastas solidões!
Pânica encenação da sombra à beira d´água
que reflete ao luar a copa dos chorões!
Desfaz-se a mancha azul do cerro que se obumbra.
E eis que, a espátula, a treva o quadro singular
pinta: e por tudo cria efeitos de penumbra...
ouve-se o coração das cousas palpitar.
Nada turba entretanto a música divina
do silêncio, nem mesmo a orvalhada a cair
da altura e a marejar duma geada fina
e límpida os botões das rosas por abrir.
Novilúnio de outubro. É primavera. Sente:
que aroma, o dos jasmins! Dorme tudo ao redor.
Nenhum rumor que se ouça — o dos sapos somente
que faz mais calma a noite e o silêncio maior.
(A Divina Quimera, 1916)
GUIMARAENS, Eduardo. Dispersos de Eduardo Guimaraens. Organização Maria Luiza Berwanger da Silva. Porto Alegre: Libretos, 2002. 148 p. 18x21 cm. ISBN 85-88412-03-9 Apresenta fac-símiles de poemas (alguns manuscritos, outros datilografados) e suas transcrições tipográficas ajustadas à nova ortografia. Patrocínio da Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre e apoio do Banrisul e CEEE Érico Veríssimo. Col. A.M. (EE)
GUIMARAENS, Eduardo. A divina quimera. Parte 1. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. [ 2014?] 57 p. 20x13. Editor: Edson Guedes de Moraes. Edição artesanal de 30 exemplares, fora de comércio. “ Eduardo Guimarães “ Ex. bibl. Antonio Miranda
1
Se a vida é bela, ardente e forte,
febre e delírio, ânsia e paixão,
por que, sem causa, adoro a morte
e, um grito de lábio, espero em vão?
Um grito ao lábio soluçante
de alma que, em vão, por ti sofreu,
da alma que sofre e, palpitante,
sonha, ajoelhada, ao lado teu...
Que, ainda hoje, sofre à luz perdida
de um Éden lúgubre de dor
onde, entre as mãos do anjo da vida,
coo uma espada, fulge o amor!
E de onde sou, talvez, o expulso
que do seu exílio mortal
levanta as mãos, hirto e convulso,
para a tua alma virginal,
Para a tua alma onde sentiste
que o amor, sorrindo, enfim, desceu,
e que o meu sonho doce e triste
foi o esplendor que Deus te deu.
TEXTOS EN ESPAÑOL
EDUARDO GUIMARAENS
Traducciones de ÁNGEL CRESPO
En la noche azulada y fría...
En la noche azulada y fría hay una larga tristeza de espera
y los jardines sueñan su primer sueño de primavera.
¿Qué extraño aroma ainda espacido, unido a um canto de saltério
como de una soberbia rosa hecha de sueño y de mistério?
¿Oyes? Hay largos espasmos por las alcobas de la sombra,
por las alcobas inmensa y llenas de silencio y de sombra...
Se diría ondular de monjas, a lo largo de claustros cubiertos
de grandes lirios abiertos, blancos y tristes, abiertos...
Aún tarda la luna; mas ya tras los bosques parece
que una fiesta nupcial hay, un velo blanco que resplandece,
como si la tierra fuera pálida y desnuda novia
que recibiese de las manos blancas de la luna su velo de novia.
Vaga por todo una añoranza de la primavera.
—Soy como alguien qaue sueña, sufre, recuerda y espera.
Y siente, a esta hora en que la noche es cual sombra de un gran
aleteo,
que tu alma sollozante se duerme entre los brazos de mi deseo.
Crepúsculos
En estos crepúsculos suaves,
a la luna en que los mundos se iluminan,
y cuando la fuentes se inclinan
tristes y graves
hacia los abismos palpitantes
y llenos de ecos del passado,
bajo el cielo casi estrelado,
sol os andantes
de esta armonía grandiosa,
¿cómo no ha de, la criatura
sentir la cósmica ternura
misteriosa
y fluída con la cual se anima
cuanto existe, desde la enhiesta
roca al monstruo de la floresta
se aproxima
a la materia al ser que piensa,
al infinito espacio el infinito
del espiritu humano y al grito
de la boca la inmensa
paz de estos rítmicos momentos
en los que se mesclan, transfundidos,
comunicándose los sentidos
y los pensamentos,
a la hora en que la noche se levanta
y cae la tarde blanda y calma,
al ver cuán vasta es esta alma
que en todo canta?
INOCENCIA
Inocencia de las cosas. Pura
Suavidad
Del alba naciente. ¡Paz, frescura,
Simplicidad!
Nitidez del rocío. Profundo
Cielo. Ríe la aurora...
Milagro. ¡Se diría que el mundo
Nació ahora!
En tarde muerta
En tarde
Muerta,
¿Qué esquila
Llora?
No llora,
Canta,
Repica,
Tañe...
Del campo
Vago
Perfume
Sube.
En tarde
Muerta,
¿Qué esquila
Dobla?
No dobla...
Canta
El simple
Gozo
De cosas
Bellas
Que apenas
Viven,
A esta hora
Triste,
Divina-
mente.
Del agua
Muerta,
De campos
Quietos,
De bosques
Mustios,
De charcos
Secos.
De cerros
Claros
Que se alzan
Lejos,
De nidos
Sobre
Torcidas
Ramas...
Y sobre
Todo
De las cria-
turas.
Fin de viaje
¿Qué os importa escuchar la voz de un peregrino?
Poco vale saber si cante o si lloré;
Si hice el bien, si hice el mal/; si acepté mi destino;
Si he sufrido o gozado; si he amado o si odié.
Soy una sombra más del sendero divino...
Y como aparecí, desaparecerá.
POESIE EN FRANÇAIS
EDUARDO GUIMARAENS
(Porto Alegre – 1892 – 1928)
LE BEAU VOYAGE
Je rêve d'un beau voyage
dont nous rirons au retour!
Il ne sera pas très sage,
le beau voyage d'amour!
L'heureux pays pour qui s'aime!
N'aimes-tu pas le "steamer"?
Je te vois tour à fait blême...
Laissons la mer qui fait peur.
Nous voyagerons par terre,
comme d'autres sur le vent.
Dans un wagon solitaire,
follement, éperdument!
J'aurai ta tête divine,
aux doux cheveux d'ombre et d'or,
sur ma tremblante poitrine,
Des bois! Des plaines encor!
Vois-tu? La ville de rêve!
La gare aux phares nombreux!
Le soir si doux qui s'achève.
Des blancs palais lumineux.
Les superbes avenues
aux arbres décoratifs.
Des femmes à demi-nues.
Des sons d'orchestres plaintifs.
Les grands portiques d'albâtre!
Des foules sur le pavé
luisant... Les feux d'un théâtre
Nous dirons: — C'est pas rêvé?
Que ferons-nous là sans cesse,
je rirai haut, car tu ris.
J'aurai ton bras qui me presse.
Nous marcherons, ahuris.
Tu me diras: — J'ai faim! — Vite,
un auto! — Voilà l'éclair
de ses yeux ronds qui crepite
sur le pavé gris, tout clair.
L'auto roulera, sans doute.
Sa trompette sonnera.
Devant notre essor, la route,
sombre et vaste, s'ouvrira.
Le bar ou l'or étincelle.
Quelques gâteaux pour manger.
On te trouvera trop belle...
J'aurai faim de ton baiser.
Le théâtre, après. Nous sommes
gourmands des vers et du son.
— Ils te lorgneront, ces hommes?
On nous chantera Mignon.
Je serai jaloux! D'un geste,
je me lèverai. — Sortons!
Ils te lorgnent! Je n'yreste
plus. Prends tes gants! Viens. Partons!
Nous serons mieux, seuls, peut-être,
seuls, en regardant le ciel,
seuls les deux, à la fenêtre
d'une chambrette d'hôtel.
NOCTURNE
Les jardins d'hiver sont des rêves,
de très beaux rêves effacés.
Les jardins d'hiver sont des rêves...
Les heures dusoir sonnent brèves.
Les arbres s'effeuillent, glacés.
Des spectres s'en vont sous la lune.
Les fantômes du souvenir!
Des spectres s'en vont sous la lune...
au plus vert de l'ombrage brune.
Et je les vois, tous, revenir!
Le plus beau a tes yeux. Il passe.
Et de ses grands yeux il me voit.
Le plus beau a tes yeux! Il passe...
Je le suis comme une ombre lasse...
comme j'allais derrière toi.
CHAGRIN
Laisse ce chagrin-là. Je t'aime... Le silence
de ton coeur me fait souffrir. Parle! Parle et dis
ces mots que j'aime tant. La douce résonnance
de ta voix! Que j'enlace encor tes doigts meurtris !
Je suis à toi.-Je suis à toi, comme un esclave!
Pleures-tu sur mon coeur à cause de mon coeur?
Je fus méchant, c'est vrai! Que ta bouche suave
me pardonne. Je suis à tes deux pieds! Les fleurs
font à tes yeux cernés une ombre qui les voile.
Ne pleure plus... Voyons! Je t'aime comme un fou!
Cette larme a filé comme file une étoile
au ciel d'été... Je t'appartiens: et c'est si doux!
Je n'ai pas d'autre coeur que le tien... Chère, chère !
Je m'enivre au parfum capiteux de tes pleurs:
ce vin à la saveur sauvage, étrange, amère:
Et c'est une liqueur qu'endormit nos deux coeurs.
SOUS LE CIEL BLEU
Sous le ciel bleu, la mer qui gronde.
La vague roule en écumant.
Du vent... Tu chantes comme l'onde
et moi comme le vent!
L'arbre d'un gracile bocage.
Un oiseau gazouille... Un rameau.
Je me plains comme le feuillage
et toi comme l'oiseau!
Le Poète souffre et délire.
Il veut écrire un dernier mot...
Et tu vibres comme une lyre
et moi comme un sanglot.
LE MIROIR TERNI
Il s'est terni, le clair miroir
de mon Espoir.
Triste, obscurci, sans la clarté
de ta beauté,
il s'est terni, le clair miroir
de mon Espoir
Et reflète à peine mon coeur
et sa laideur.
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