Foto: Mallarmargens
DENISE FREITAS
Nasceu em Rio Grande(RS) em 1980. Escritora e professora de história; é autora de Misturando memórias (2007), Mares inversos (2010); está entre os autores que compõem a Antologia poética: moradas de Orfeu (Letras Contemporâneas, 2011); possui publicações em diversas revistas e sites literários, dentre os quais: Revista Sibila, Germina Literatura, Musa Rara, Autores Gaúchos, Revista Modo de Usar, entre outros. Escreve o blog www.sísifosemperdas.
Extraído de
COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA CONTEMPORÂNEA.
Organizador Dilan Camargo. Porto Alegre: Assembleia
Legislativa, 2013. 354 p. ISBN 978-85-66054-002
Ex. bibl. Antonio Miranda
Portões fechados
Portões fechados,
dispostos frente ao único caminho
em que se avista a passagem.
No caixilho
selos de línguas controversas
centriloquam as atenções,
mas não perguntam ou respondem
nada. Apenas permanecem ali,
sem opinião ou juízo a oferecer.
Nem mesmo acusação e queixa.
Simplesmente ali:
signos enfileirados para nenhum
sentido, nem por acaso e sem vontade.
Completamente alheios.
Talvez, por isso,
operam um tal princípio,
uma tal urgência à interpretação
que tomam o caminho secundário
e a passagem insignificante.
Do alto uma só passagem
Do alto uma só passagem leva à praia.
Em cada manhã estive lá, repetindo-me
tornando ao igual motivo em que me desfaço.
O homem à distância encanta,
menos o homem do que o largo
em que me separa dele.
Convoco-o —aos arilhos da tarde entre oceanos.
Depois, de tanto se repetirem os dias,
o mesmo evento repete toda hora
de um mesmo dia. Até restarem
apenas inumeráveis sucessões de aparte:
um caminho trespassado,
uma praia,
um assombro epistolar,
o arremesso inteiro do corpo à brisa.
O vício de Janaína
Todo dia Janaina abre a janela
sabendo a robusta semelhança
entre o que vê e viu.
Todo dia Janaina abre a janela,
enche os olhos daquilo que imagina
janela à paisagem menos sua.
Janaina, todo dia, enubla-se
mais que a madrugada pavorosa,
depois anoitece diante do mundo,
guarda a janela
e dorme sem dizer palavra.
Extraído de
BABEL POÉTICA. Revista de Poesia. Ano 1, N. 4 – Agosto/Setembro 2011. ISSN1518-4005. Editor Ademir Demarchi. babelpoetica.wordpress.com
ES VAI
assustava-se à disponibilidade da matéria
lâmina onde ânimo não assinta
veleidades
expandir subserviência
no dia cansado
esvaira-lhe o caminho
era da pele
anular sua volúpia sem vista
inverte volteia
dulce ductilíssima
bastara livrar-se àquela sem vontade
para entregar-se voluta
vórtice encalço a toda sorte
DUAS IMAGENS ABRASIVAS
ainda mais no alto em toda contraparte
e mesmo que de algum inesperado
o fogo lhe adornava
era contrário a bom disfarce
ainda mais no altar de todo cotidiano
portanto esse no mesmo esfumaço
suporta quase firme apostasia
prossegue abaixo e se desfaz
DISSENSO EM FARTA MEDIDA
à exceção de cuidados estampo
cada hipótese com que pinte ou preste
destroço de geração em geração
de fato a tudo interesso no disfarce
no entanto digesto insuspeito daquele
sem predileção alguma a não ser o
que de si simula gosto sem critério
Página publicada em maio de 2018. Ampliada em agosto de 2018.
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