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CLEONICE BOURSCHEID
-Nasceu em Porto Alegre, RS, onde vive com a família numa casa próxima ao rio. É poeta, professora, tradutora e produtora cultural. Apaixonada por pássaros, tem se dedicado a observá-los a partir de seu jardim, na orla do Rio Guaíba, nos parques da cidade e em áreas de preservação. Sobre a temática "Pássaros", publicou o livro de poemas para crianças "Passa, Passa, Passarinho" pela Edunisc, em 2006. Em 2007, lançou o livro de arte "Ave, Pássaro!", com ilustrações de Isolde Bosak, e o infantil "Comadre Corujinha e Compadre Gavião", ilustrado por Joana Puglia. Autora do projeto "Poesia e Meio Ambiente", alia literatura à ecologia, com o objetivo de conscientizar sobre o cuidado e a preservação do planeta. Aluna da oficina de contos do escritor Charles Kiefer, participou das antologias "101 que contam, 103 que contam e brevíssimos!", pela editora Nova Prova. Segundo o escritor Charles Kiefer, "Cleonice é a poeta do pássaro, contida e exata como o voo de um Biguá." Seu mais recente lançamento é o livro de poemas para crianças "Piquenique no Jardim", pela editora Ardotempo.
Extraído de
COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA CONTEMPORÂNEA.
Organizador Dilan Camargo. Porto Alegre: Assembleia
Legislativa, 2013. 354 p. ISBN 978-85-66054-002
Ex. bibl. Antonio Miranda
"Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus"
Bernardo Morliacense, in De Contemptu Mundi, século XII.
"A rosa antiga permanece no nome, nada temos além do nome".
À espera do nome
À espera do nome:
noivo, casa, tempo, pássaro, videira, fome.
(De que serve o nome?)
O noivo nasce sem nome:
casa, rede, peixe, tempo,
tudo se consome.
À espera do nome,
a uva nomeia a sede,
o pássaro, a fome.
(De que serve o nome?)
Do noivo, da casta,
da casa, do templo,
da ave, do ventre?
Se tudo é rede,
se tudo é peixe,
se tudo se consome.
(De que serve o nome?)
de todos os pronomes,
de todas as fomes,
de todas as sedes.
(Se tudo se consome.)
Mas o que é isso, poesia?
"De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei se me agarro a isso
como a uma tábua de salvação."
Wislawa Szymborska
Não pergunte por que,
(pois calo)
a mim mesma falo:
por que razão resvalo
sempre no mesmo ralo
por onde escoa
o resto do tempo
o silêncio do abraço
o cheiro do rastro
o espasmo da dor
a borra do vinho
não pergunte por que,
(pois calo)
É poesia a dor que sinto?
E se não sinto?
E se nem me abalo?
Mas o que é isso, poesia?
Se sei, me calo
(não falo)
não pergunte
não pergunte por que
não pergunte por que,
(pois calo)
Mas o que é isso, poesia?
Poema
envolto em casulos de silêncio
nasce o poema do espanto
é rota a rede em que repousa
responde
toscas mão tramam
o andar do meu passo
bocas ocas saciam
a sede que esgarço
a cada instante um espanto
a cada espanto um poema
Página publicada em maio de 2018
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