CELSO GUTFREIND
Nasceu em Porto Alegre, em 1963. Como escritor tem 12 livros publicados, entre poesia e histórias infantis. Também participou de diversas antologias e recebeu alguns prêmios. Tem textos traduzidos para o espanhol, francês e inglês. Colabora na imprensa, assiduamente, sobretudo com crônicas. Como médico, Celso Gutfreind especializou-se em Medicina Geral Comunitária (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Psiquiatria (Fundação Mário Martins e Associação Brasileira de Psiquiatria) e Psiquiatria Infantil (Universidade Paris V). Realizou na França doutorado em Psicologia Clínica (Universidade Paris XIII) e pós-doutorado em Psiquiatria Infantil, no grupo hospitalar Pitié-Salpetrière, da Universidade Paris VI. Atualmente, é professor da Faculdade de Medicina e do mestrado de Saúde Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martins.
Leia bibliografia completa do autor em: http://www.ailha.com.br/ameopoema/aut_celso.htm
Conversa de menino
O silêncio era infinito
mas acabou
perguntando ao menino:
- O que fazes nesta manhã?
Ele agarrou no que não tinha:
- Reinvento a minha mãe.
De
TRECHOS
Porto Alegre: ame o poema editora, 2004
85-98240-08-7
NADO
De máscara em máscara
passas como um fósforo.
Já riscas a próxima,
porém ainda lembras
um outro de antes
ou depois da chama.
E segues a luta
de torna-se alguém
igual a ti mesmo,
até encontrar
tua natural
e forma própria,
a de
teu pai.
OS INOCENTES
Nós íamos ao parque na inocência
para muito prazer, divertimentos
e um pouco de sorte nas argolas.
Jamais nós retivemos uma imagem
de forma superior à sua essência
a fim de que depois fosse expressada.
Jamais observamos qualquer ritmo
de carrossel, de roda ou trem-fantasma
exatos e velozes como o medo.
Jamais nos dirigimos ao porteiro
a fim de questionar o que não fosse
um preço de bilhetes ou a hora.
Jamais pensamos que essa arte toda
seria assim um dia necessária.
PROMESSA DE PALAVRA
Embora tornado texto
frio, gabinete, impres-
tável para os quintais,
fechado em coisas de coisas
velhas, frias e sem dança,
a cada novo capítulo,
escreve-se uma esperança.
A LONGEVA
E lidos todos os livros
o dos livros incluído
letra pequena história comprida
conteúdos fundo vivos
Amadas muitas das carnes
de águas fotos ofícios
incluída a dos planos
na reta curva da vida
(e dos livros os seus ritmos
e das carnes seus espíritos)
restam vivos somente os decassílabos
fluentes na extensão de suas imagens
talvez levando em si seu próprio modo
e a amiga querendo saber como vais
PRESCRIÇÃO DE ANDARILHO
Dar a volta ao mundo
para tocar flauta
Tocar cada volta
apesar do áspero
Parar num lugar
apesar do tempo
Dizer desdizer
até o som, a dança
Ver cor sentir cor
olhar um segundo
Esquecer a hora
sonhar muitos anos
Viver e viver
antes que seja arte
Página publicada em junho de 2008
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