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CARLOS URBIM
Carlos Urbim (Santana do Livramento, 4 de fevereiro de 1948 – Porto Alegre, 13 de fevereiro de 2015) foi um jornalista e escritor de livros infanto-juvenis brasileiro.
Nasceu na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Mudou-se para Porto Alegre aos 19 anos e formou-se em Jornalismo na UFRGS. Trabalhou na área do jornalismo por 33 anos, tendo passado por diversas empresas jornalísticas, todas sediadas em Porto Alegre. Faleceu aos 67 anos, não resistindo a uma cirurgia no Hospital Mãe de Deus. Urbim se recuperava de um aneurisma na aorta neste mesmo hospital, e teve complicações.
Foi durante dez anos editor de cadernos do jornal Zero Hora (Segundo Caderno, Vida, Revista ZH e Caderno de Cultura). Atualmente era editor do Departamento de Multimídia de História da Rede Brasil Sul de Televisão/RBS TV e desenvolvia pesquisa e produção de textos para documentários e programas especiais.
Sua primeira publicação destinada ao público infantil, Um Guri Daltônico, de 1984, obteve grande repercussão junto ao público. O livro foi lançado na Feira do Livro de Porto Alegre de 1984. Outros livros do autor são Patropi, a Pandorguinha, Dinossauro Birutices, Uma Graça de Traça, Caderno de Temas, Diário de um Guri, Dona Juana, Bolacha Maria, Saco de Brinquedos, Rio Grande do Sul – Um Século de História, Os Farrapos, Álbum de Figurinhas e Morro Reuter de A a Z, entre outras . Ao escrever para crianças, buscava na infância a motivação para o material de que era feita sua produção literária, conservando as influências e o sotaque da região em que nasceu. Utilizava a poesia como forma de cativar os pequenos leitores, e seus personagens têm fortes vínculos com o cotidiano gaúcho, o que contribuiu para a identificação imediata entre o autor e seu público.
Em 2009 foi escolhido como patrono da 55ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre após sete indicações sucessivas desde 2003.
Extraído de
COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA CONTEMPORÂNEA.
Organizador Dilan Camargo. Porto Alegre: Assembleia
Legislativa, 2013. 354 p. ISBN 978-85-66054-002
Ex. bibl. Antonio Miranda
Retrato gauchesco
Está o moço no seu lugar
querendo descansar
sentado na rede
para tomar chimarrão
e ficar numa boa
assim bem à toa
Gaudêncio é o nome dele
gosta de pensar no destino
entre passado e futuro
acomodado no presente
de um amigo nordestino
Está Gaudêncio no seu lugar
quando chega a moça
para catar um piolho abusado
na cabeça do namorado
O nome dela é Rosa
amorosa e dengosa
começa a pentear
se põe a cismar
e nesse momento
do nada vem um peixe
a nadar no pensamento
Estão Gaudêncio e Rosa a conversar
acho até pensando em casar
quando aparece o gato Torquato
para também sair no retrato
sem dizer nada, nem miau
apenas ao lado, enroscado
Esperança
Dizem que o arroio
desde nascer no dilúvio
sempre foi bem limpinho
Lavadeiras nas margens
esfregavam roupas
ensaboavam, torciam,
entoavam velha canções
à beira da água cristalina
Dizem que garças vinham
todo santo dia
para bicar peixes miúdos
e ouvir a alegre cantoria
Mas a cidade cresceu
espalhando prédios altos
até o arvoredo desaparecer
Restam poucas lembranças
nos lugares agora ocupados
por fios, postes e antenas
que desafiam as crianças
O arroio permanece
no passeio constante
entre a cidade e o rio
Espera que seu leito turvo
volte a ser transparente
como antigamente
Poesia gauchesca.
Página publicada em maio de 2018
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