CÁCIO MACHADO DA SILVA
Nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, mas cresceu em Santiago. Policial civil desd 1989, morou em diversas regiões de seu estado natal. Os poemas a seguir foram selecionados de seu livro de estréia:
De
DIAS DE SOL E VENTO
Frederico Westphalen, RS: Grafimax, 2008
MATEANDO
Absorto,
sorvendo um amargo
e...
num repente
tenho os galpões
de minha mente
invadidos por saudades.
Saudades do porvir,
lembranças
que saem para dentro,
por que ainda não as vivi.
Como um filme
do fim para o começo,
o que seria um tropeço
de desordem,
torna-se agradável
e confortante
como um aviso distante
de que vou envelhecer
junto dos meus.
IDA
Quando eu morrer
quero partir bem velhinho
e
se
me for permitido escolher,
que seja dormindo
num domingo de quermesse
em sono profundo e tranqüilo,
para não sentir
a dor da passagem.
Muitos estarão lá
me esperando
para meu auxílio.
E aqui,
além de saudades,
deixarei um corpo
bem vestido
com um terno de bom gosto,
cabelo bem penteado
e,
para lembrança dos outros
um leve sorriso no rosto.
RETRATO DE JORNAL
Um cadáver
purulento
fedendo
estático
estendido
podre
rendido
aos vermes que lhe comem.
Sinta o nojo
da própria espécie
vergonha de sentir nojo
do irmão,
do Adeus,
do fim.
É a morte que vomita
sua face
na vida que fica
e vira
retrato de jornal.
Faz ferida sem igual
sem dó
até virar pó.
De
SILVA, Cacio Machado da.
Folhas de outono.
Frederico Westphalen, RS: 2009.
120 p. ISBN 978-85-909223-0-8
VELHO GURI
No sistema
me valho do faro
do tato
aguçado
Desqualifico
qualquer sentimento
sobre
vivendo.
O sistema é exato
implacável
matemático
abstrato.
Não sente nada
carne morta
aorta
parada.
Disfarço
muito sério
passo por passo
até passar
pela porta.
Liberdade
logo adiante
tarde mansa
poder brincar
do outro lado
lá na pracinha
de minha infância
não vejo a hora
de ser criança!
Página publicada em outubro de 2008; ampliada em agosto de 2011.
|