BERNARDO TAVEIRA JUNIOR
Bernardo Taveira Junior (Rio Grande, 5 de junho de 1836 — Pelotas, 19 de setembro de 1892) foi um professor e escritor brasileiro.
Depois de breves estudos em São Paulo, na Faculdade de Direito e de um emprego no comércio no Rio de Janeiro adoece e retorna para o sul em 1856. Durante sua convalescência em uma estância passa a apreciar o modo de viver dos gaúchos. Decide também entrar para o magistério, tornando-se professor em Pelotas.
Após seu casamento em 1862 muda-se para São Gabriel onde abre uma escola, retornando à Pelotas em 1866 onde abre outra escola.
Poliglota, conhecia francês, alemão, espanhol, sueco, dinamarquês, latim, grego, guarani e sânscrito.[1] Traduziu do alemão alguns livros, entre os quais Guilherme Tell de Schiller, em versos; e do francês a primeira parte da Memórias de Garibaldi de Alexandre Dumas, Expiação e Epopéia do Leão, de Vitor Hugo e a A reconciliação de Tieck.
Defensor do abolicionismo e da república, publicou diversos artigos em jornais. Editou a maior parte de sua obra na Revista Arcádia.[2]
É patrono da cadeira 5 da Academia Rio-Grandense de Letras.
Autor de Poesias Americanas, Rio Grande: Typ. Arcádia, 1869; Poesias Germânicas, 1873; Provincianas, 1886; O anjo da solidão, 1869; Paulo, 1874; Celio; O engeitado.
Biografia extraída de Wikipedia
VOZES NA PAISAGEM. Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos. Organizador: Waldir Ribeiro do Val. Edições Galo Brando. Rio de Janeiro, 2005. 138 p. ISBN 978-85-858627-690- 1. Inclui 55 poetas de todo o Brasil que, em sua quase totalidade, colaboram na revista Poesia para todos. Ex. bibl. Antonio Miranda
CAVALO MORIBUNDO
Na relvosa campina, enquanto andavam
os outros a pastar, vi-o prostrado!
Vi o pobre animal extenuado,
por levantar-se embalde forcejando!
Que lástima! que pena a quem o via
naquele estado triste e miserando!
A lânguida cabeça erguia às vezes,
e nos tíbios olhares que deitava
já da morte o sinal se desenhava!...
Há no olhar do cavalo moribundo
certa expressão de mágoa, dor e súplica,
que n´alma instila um condoer profundo.
E nesse olhar que nos deita diz — piedade!
Socorro implora n´aflição ingente!
Alívio pede no arquejar pungente!
Reflete o horror supremo da agonia!
Esse olhar derradeiro é seta aguda
que vara o coração de uma alma pia!
Ei-lo! o pobre animal co´a pel´nos ossos,
estirado no chão e sem alento!
Nesse leito em que jaz do seu tormento
ofega a estrebuchar, e geme, anseia!...
Respira, vive ainda, e já, faminto,
fareja o corvo a presa, e se recreia!
Que quadro! que martírio angustioso
é esse do cavalo que, abatido
à forca de maus tratos e, inanido,
cai, sem mais levantar-se, o pó mordendo!...
Oh! n´arena marcial antes tombara
da rouca artilharia ao som tremendo!
Altivo ali ao menos correria,
montado por guerreiro audaz, brioso;
e ou no prélio vencera glorioso,
ou morte ali tivera assinalada!...
Mas acabar de fome e no abandono,
é morte ainda mais que desgraçada!
E eu vi assim penando esse cavalo,
que ao senhor já servira longos anos...
Ai! certo ou não o vira, se tiranos
tantos homens na terra não vivessem,
que valor dão somente aos servidores
enquanto um pingue adubo ao lucro of´recem!
Quem do enfermo animal não tem piedade,
jamais, jamais sentiu no brônzeo peito
de uma pura afeição o doce efeito;
jamais, na caridade enobrecido,
ao encarar os quadros da desgraça
sequer uma só lágrima há vertido!
E nobre criatura é o cavalo!
Um instinto possui admirável;
sujeito ao homem, torna-se amorável;
e no labor ao homem se associa;
veloz corta amplidões; e, fiel ao dono,
com ele o seu valor jamais se esfria.
E eu vi-o sem alento agonizante!
Vi-o nas vascas de um penar horrível —
penar que trespassar o insensível!...
E se olhava... Que olhar de moribundo! —
E que expressão de mágoa, dor e súplica,
que imagem viva de um doer profundo!
Página publicada em junho de 2020
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