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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BERECIL GARAY

(1928-1996)

 

nasceu em Passo Fundo (RS), a 28 de janeiro de 1928. Dipl. em Jornalismo. Professor, jornalista, pintor, funcionário do Banco do Brasil, fez teatro, tendo peças encenadas. Colaborou em periódicos. Filiado ao Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. Pertenceu à  Associação Nacional de Escritores e à Associação Nacional de Autores Teatrais, entre outras instituições culturais. Participou das antologias Conto candango, 1980, org. Salomão Sousa; Planalto em poesia, 1987; Contos correntes, 1988; ambas org. de Napoleão Valadares; Cronistas de Brasília, vol. 1, 1995, org. de Aglaia Souza; Caliandra - poesia em Brasília, 1995; Poesia de Brasília, 1998, org. de Joanyr de Oliveira. Faleceu a 25 de setembro de 1996. 

Bibliografia: Tempo de musa, 1957; Dia de vento, 1960; Mordidas no mingau, 1983; Canteiro de ideais, 1986; Antologia, 1993. Fonte: Associação Nacional de Escritores.

 

GARAY, Berecil.Antolorgia: poemas.  Brasília: Thesaurus, 1993.   60 p  13,5x21 cm.  Col. A.M. 

 

“Encontro o raro bom humor poético assinalado no provérbio Castigat ridendo mores, divisa da comédia francesa, manipulado por Bocage, Gregório de Matos, até o jogo de Berecil Garay, onde reaparece abrasileirado numa visão popular e até indígena, como: “...queimou meu diploma e foi-se-me a fama/(vale o de esperto). Fiquei só Pirama” ou “em plena lavra textual/luso-tupi-nacional”.  ALMEIDA FISCHER

 

HAICAIS

BELEZA

A maçã mais bela
entre todas é escolhida
para ser comida.

 

MENSAGEM

Caiu sobre mim
pétala de flor: amor.
Começo ou fim?

 

DO FAZER

Fazer uma vez
com perfeição, ou então
duas vezes, três.

 

EXERCÍCIOS

Ginástica ao frágil
corpo de dança.  Leitura
torna a mente frágil.

 

POÉTICA

 

A Almeida Fischer, escritor, poeta
bissexto e crítico literário

(que destacou este poema

e outros, como "A ilumi-

nada", "Rusga floral", na

crítica cjue escreveu para

a 29 edição de Canteiro de Ideais)

 

Então, Mestre, meu verso não dá pé?

Eu remo, mas meu "bateau ivre" é.

Roubaram o troqueu, o anapesto.

De poeta menor, fiquei bissexto.

Odisseia dantesca, a nossa vida

é uma onda de assaltos. A comida

que falta é farta em boca de político

a sonhar voos em governo artrítico.

As letras vão na sopa americana.

No Lusíadas Bar, uísque é cana.

A AIDS manda ao vírus: — Come forte.

E o médico ao doente: — Grana ou morte.

Fingidor, Mestre? Fulo, negra minha,

fugiu pra Pasárgada: é a rainha.

E agora, José, peguei da poética

o pó, este povo queimou a estética

porque tinha frio, o fogo apagou,

o gás já subiu, a bóia gelou.

Queimou meu diploma e foi-se-me a fama

(vale o de esperto). Fiquei só Pirama.

 

RUSGA FLORAL

O albilouro jasmim não me conquista.
Sentimental, requeiro: flor distinta,
perfumosa, por que a rejeito assim?
Talvez rusga de sons: aqui jaz mim...

 

TUA BÊNÇÃO, DRUMMOND

 

A Carlos Drummond de Andrade, no dia

de seu 81 aniversário, 31-10-83

 

A chuva cai lenta

neste pau sem fronde.

Tua bênção, Drummond.

 

A mente ergue o voo,

já vai. Para onde?

Tua bênção, Drummond.

 

Em que eugenia

o génio se esconde?

Tua bênção, Drummond.

 

Ao clamor do povo

ninguém mais responde.

Tua bênção, Drummond.

 

81 portas

abertas no "monde"!

Minha bênção, Drummond.

 

 

 

 

HAICAIS ao Sol.  II Antologia de Haicais 2008. Org. Débora Novaes de Castro.  São Paulo:       Editora VIP, 2008.  112 p.  Homenagem aos 100 anos da Imigração Japonesa no       Brasil” - ISBN   978-85-60287-02-04       Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

*

 

Usa teu minuto.
Plantada, a árvore faz
maturar o fruto.

*

 

A mão incontida
ligou a chave do amor
e acendeu a vida.


*

 

Pétala de flor
caiu sobre mim : amor.
Início ou fim?

*


AS MELHORES POESIAS DO 1º. CONCURSO ONESTALDO PENNAFORT.  Prefácio de Eliezer Bezerra. Brasília, DF:  FEBAB, 1984.  89 p,  15 x 21 cm.   No. 10 189
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo
(livreiro) Brito, em outubro de 2024.

 

MENÇÃO HONROSA:

 

        BANHO NO RIO VERMELHO

      
Cora Coralina,
        amor de menina,
        que os sonhos cobriram de beleza.
        Quantas horas de enleio,
        tantas outras de incerteza,
        confiou, sozinha e pequenina,
        ao seu coração da terra, o Rio Vermelho?
        O murmulho das águas lhe trazia
        amorosa cantiga maternal.
        E a corrente de líquida energia
        os pés lhe banhava por igual
        e toda fraqueza desaparecia.

         Cora Coralina,
         mulher pequenina
         que os anos fizeram fortaleza.
         Serviu marido, serviu tantos filhos
         e a nós serviu encantos com seus livros.
         Cozinheira de mão cheia,
         doceira de mão aberta,
         poetisa por dom da natureza
         e mestra por título universitário,
         levou os nossos pecados
         no rio do seu coração,
         cozinhou nossas tristezas,
         deu-nos doces de perdão
         e mimoseou-nos ainda, sem tandança,
         mãos-cheias de cantigas de esperança.

         Cora Coralina,
         água purpurina,
         é o próprio rio que, hoje, transborda e banha
         nossos corações, e canta feito um sino
         a alertar o beco feminino.

         Minha homenagem flui na corrente,
         pois sou um homem-égua que anda à frente
         para afastar seixos, confusões, e llano
         lhe achegar o manto real do céu goiano.

         E depois, contrito, lhe pedir, enfim,
         que ainda mexa nas panelas. Sim,
         eu cuidarei do fogo e ingredientes!
         Seus quitutes substanciosos, seus quindins
         seguirão deliciando tantas gentes!


*
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Página publicada em novembro de 2024

 

 

página ampliada em maio de 2020

 

 

 

Página publicada em março de 2013


 

 

 
 
 
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