AQUILES PORTO-ALEGRE
(1848-1926)
Aquiles José Gomes Porto-Alegre (Rio Grande, 29 de março de 1848 — Porto Alegre, 21 de março de 1926) foi um escritor, jornalista, funcionário público e educador brasileiro.Em Porto Alegre estudou no Colégio Gomes e na Escola Militar. Irmão de Apelles e Apolinário Porto-Alegre, fundou com eles a Sociedade Pártenon Literário e, com o irmão Apolinário, fundou o Colégio Porto Alegre.
Exerceu diversas funções públicas: foi capitão, telegrafista, funcionário do Tesouro, inspetor escolar e professor. Foi um dos precursores da crônica moderna na literatura gaúcha, publicando diversas obras sobre a cidade de Porto Alegre entre os anos de 1915 e 1925.
Jornalista, fundou e dirigiu o Jornal do Commercio (1884 a 1888), onde assinou diversas crônicas com o pseudônimo Carnioli, e de onde seu genro, Caldas Júnior, saiu para fundar o Correio do Povo. Também dirigiu o jornal A Notícia, 1896. Em 25 de março de 1883 o Jornal do Commercio declarou não mais aceitar anúncios sobre fuga e negociação de escravos, sendo o primeiro jornal porto-alegrense defensor da libertação dos escravos.
Foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e da Academia Rio-Grandense de Letras.
Obras: Homens ilustres do Rio Grande do Sul, 1916; Vultos e fatos do Rio Grande do Sul, 1919; Através do passado (crônica e história), 1920; Flores entre ruínas, 1920; Noutros tempos (crônicas), 1922; Noites de luar, 1923; Palavras ao vento, 1925; História Popular de Porto Alegre, 1940 (póstuma).
Fonte: Wikipedia
FLOR NO GELO
O velho duque inglês um dia vira
próximo do castelo, uma pastora,
de olhos vivos, azuis, como a safira,
de saia curta e perna tentadora.
Nem se recorda de que é velho agora:
seu coração anseia, e só suspira
pela perna gentil e sedutora
que junto do castelo descobrira.
A paixão foi crescendo vivamente,
até que o velho inglês, como um demente,
a mão d’esposa dá-lhe e o seu tesouro.
Uma noite ele, trêmulo, desperta...
Não vê ninguém, a alcova está deserta...
— Dorme a duquesa com um pajem louro.
O CANÁRIO
Em um chalet pequeno e rendilhado,
tive um canário, há muito, prisioneiro;
era um pássaro alegre e endiabrado,
que não o dava a peso de dinheiro.
Quando as asas abria no poleiro,
soltava logo o mágico trinado;
e assim passava sempre o dia inteiro,
como se fosse um doido enamorado.
Uma vez, de manhã, o passarinho
espreita para a rua... Com carinho
dois pombos se beijavam no telhado.
Contra a gaiola investe, como um louco!
Geme, agoniza e morre pouco a pouco,
com o peito ferido e ensanguentado!...
AS GAIVOTAS
Voejam as gaivotas erradias
na vasta solidão do negro mar;
como a espuma nas noites de luar
brilham ao sol as penas alvadias.
De encontro às alterosas penedias
do vasto mar se agita a soluçar;
e eu vejo, sobre as águas, a esvoaçar,
o bando de gaivotas fugidias.
Adejam entre o mar e o firmamento;
não repousam na terra um só momento,
cruzando doidamente sobre as águas!
Nos ares se equilibram tão serenas!
E entre penas estão sem terem penas,
e vivem sem sentirem nossas mágoas!
Página publicada em maio de 2016
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