APOLLINÁRIO PORTO ALEGRE
Apolinário José Gomes Porto-Alegre (Rio Grande, 29 de agosto de 1844 — Porto Alegre, 23 de março de 1904) foi um escritor, historiógrafo, poeta e jornalista brasileiro. É considerado um dos autores mais importantes do Rio Grande do Sul.
Apolinário Porto-Alegre foi poeta, romancista, contista, teatrólogo, filólogo, biógrafo, critico e historiógrafo.
Em 1870, José de Alencar lançou o gaúcho com grande repercussão nacional.
Em 1961, parte para São Paulo e matricula-se na Faculdade de Direito. Algum tempo depois, com a morte do pai teve de interromper o curso e voltar ao Rio Grande do Sul, tomando a si o sustento da casa.
Biografia: wikipedia; BIOGRAFIA completa em:
http://www.paginadogaucho.com.br/
NA SEPULTURA DE UM CÃO
I
Cupim, meu pobre cão, meu fido Acates,*
da vida nos aspérrimos embates,
sempre te tive ao lado, sempre amigo;
hoje repousas em feral jazigo
à sombra de magnífica palmeira
que te adorna a morada derradeira.
Leve, passando, a brisa à soledade
o acento intraduzível da saudade.
Homem, o que és em face da alimária
dormida sob a leiva funerária?
Ela no padecer que nos tortura,
quando nos foge o riso da ventura,
procura soletrar na tez do rosto
o motivo que dá-nos o desgosto,
ela, grata, leal, sem fingimentos,
à imaculada luz dos sentimentos.
Tu que sepultas o punhal no peito
de quem parte contigo a mesa e o leito,
de quem te apaga do sofrer a ruga
e do semblante a lágrima te enxuga;
tu, infame, covarde, atroz, maldito,
tendo na fronte a marca do precito,
não tens desse animal a afeição rara,
nem a amizade à dele se compara.
II
Mas desse teu olhar inteligente
a centelha vivaz e refulgente
aos últimos estertores da agonia,
se some numa cova úmida e fria?
A força ígnea, imortal, não há quem herde?
Alfim tudo se esvai, tudo se perde,
como a fumaça que o tufão esgarça
e que mais não se vê, depois de esparsa?
Nada se perde, a mesma singeleza
aproveita e cinzela a natureza
no enorme e colossal laboratório,
onde se molda o corpo do infusório
ao lado do arcabouço da baleia...
Portentoso labor da imensa teia!
A essência pura dos candores d´alma,
da amizade a virente e eterna palma,
não morrem para sempre. São o aroma
que daqui ala-se na altura assoma.
Dorme, Cupim, à sombra da palmeira
que te vela a morada derradeira.
*Fiel companheiro de Enéias, na Eneida.
Página publicada em junho de 2020
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