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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANA SANTOS

 

Ana Santos nasceu em 1984, em Porto Alegre (RS). Graduada em Jornalismo pela UFRGS, é mestra e doutoranda em Estudos de Literatura pela mesma instituição, onde atua como revisora de textos.

 

 É autora do livro de contos e prosas poéticas O que faltava ao peixe (Libretos/Fumproarte, 2011), contemplado com a Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Artística, e da coletânea de poemas Móbile (Patuá, 2017).

 

Com o inédito Fabulário, venceu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2017 (categoria Poesia).

 

 

Cartografia

 

I – À linha do equador

 

Com tesoura de ferro,

cortou-se

o tecido da Terra.

Cumpres

a lei das agulhas

num silêncio rotundo.

Teu trabalho é coser.

Buscamos teus

carretéis de vento

nos armarinhos do mundo.

És matriz das coisas

consúteis: teu arremate

dispensa alinhavos.

 

 

II – Rosa dos ventos

 

Divergem

pontas e pétalas.

Alto-mar:

a rosa dos rumos

desnorteia-nos

com sua face de estrela.

 

 

III – Mapa-múndi

 

O planeta desmembra-se

em quebra-cabeça

infantil –

é preciso montá-lo,

resgatar as peças

perdidas.

Em papel e tinta,

o mundo é mais vasto,

seus seres

mais prescindíveis.

Aqui

ou na China,

os traços do mapa

contornam vazios.

 

 

IV – Longitude

 

A vida inteira

é quase nada.

Não verei

as auroras nos polos,

as noites luzentes

nos desertos.

Mas posso deitar

no campo, ao relento,

sonhar com florestas,

lembrar os cimos

das montanhas:

a travessia

que faço até mim.

 

 

V – O reino mineral

 

Quero a paz dos minerais:

pétrea,

metálica,

sem sobressalto

algum.

Mas não contarei

a história das rochas,

como não se mede

a solidez do tempo.

E sei das centelhas

nas forjas,

do azinhavre oculto

em tudo o que brilha.

Quero o sono perene

da terra:

mais que húmus,

a fria

carne de um cristal.

 

 

VI – Ao Atlântico

 

Teu guache anil

inunda o globo.

Como supor

a tristeza calcária,

o país de afogados?

Fosforesce no fundo

tua prole medonha.

Tudo germina

em teu solo de sal.

 

 

VII – Água doce

 

Fendas feitas

a lâmina,

os rios pedem passagem.

Nas cidades chuvosas,

eles saem de si:

os bolsos das crianças

se enchem de piabas.

 

 

VIII – Dinâmica

 

Nada de novo

debaixo do sol.

A Terra cansa de seu giro,

como a pedra

rolada por Sísifo.

Há um deus que dança,

soprando alísios, monções,

ardendo em lava,

tremendo em sismos.

Ele não para

por mim.

 

 

         (Fabulário)

 

 

 

 

Dia de Todos os Pássaros

 

O azulão

 

Os azulões comunicam

nada

e, afinal, são mais comuns

do que eu pensava.

 

 

O bem-te-vi

 

Um bem-te-vi miúdo se equilibra

na corda bamba de um galho

em flor.

Outro, crescido, passeia,

saci

(a dor do graveto,

quebrado

por mão distraída).

De uns tantos, mortos

(o susto repetido nas calçadas),

me esqueci,

me esqueci.

 

 

O colibri

 

Sou tão triste

que todo colibri é uma esperança

desvairada

– de quê?

Este é o reino do acaso.

Ninguém zela por mim,

ninguém espalha

colibris por meu caminho.

 

 

O joão-de-barro

 

João-de-barro

bate à janela,

miçangas fitas em mim.

Ele sabe o que fiz

(gatuna de ninhos

e crisálidas):

ele sabe

e, com a garganta,

me perdoa.

 

 

O pardal

 

Mesmo o pardal

me traz consolo,

mesmo ele,

bicando mansamente

essas migalhas,

em meio à chusma

de seus iguais.

 

 

O sabiá

 

Só porque um

 sabiá

achou água entre monturos

(boa o bastante

para sua sede),

só por isso recolho

álcool, fósforos,

desisto

de incendiar o mundo.

 

         (Móbile)

 

 

Página publicada em janeiro de 2019

 

 

 


 

 

 
 
 
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