ÁLVARO SANTI
Álvaro Santi nasceu em Lajeado RS, em 1964. Graduado em Música e Mestre em Letras pela UFRGS, é Assistente Técnico da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre (SMC), onde coordena o Observatório da Cultura, projeto apoiado pelo Programa Barcelona Solidária e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), para cidades integrantes da Rede CGLU-Cidades e Governos Locais Unidos e signatárias da Agenda 21 da Cultura. Integrou a Câmara/Colegiado Setorial de Música (2005-9) e o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC, 2008-9), junto ao MinC, como representante da sociedade civil. Atualmente é membro do Colegiado Setorial de Música do RS e Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre.
Como autor, lançou em 2012 Luta+vã, seu quinto livro de poesia, sucedendo a A aposta dos deuses (Independente, 2007), Dança das Palavras (IEL, 1998), O primeiro anel (SMC, 1996) e Viagens de uma caneta por meus estados de espírito: poemas escolhidos (UFRGS, 1992) - este o seu livro de estréia, premiado com o Troféu Armindo Trevisan/Prêmio UFRGS de Literatura; além de participação em várias antologias. Publicou ainda o ensaio Do Partenon à Califórnia: o Nativismo gaúcho e suas origens (UFRGS, 2004), sobre a poesia dos festivais de música nativista. Colabora com poemas e artigos para periódicos ou sites locais como o Jornal da UFRGS e nacionais como o Cultura & Mercado.
Ver mais na página do autor: http://www.alvarosanti.com.br
SANTI, Álvaro. Dança das palavras. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1998. 80 p. (Coleção 2000) ISBN 85-7063-221-5 Capa: Flávio Wild (Macchina). Foto da capa: Ricardo de Abreu Neves. Col. A.M.
Soneto XII
(que alguém dedicaria a mim)
Amar-te, como a escarpada montanha
escalar, será duro, ou mesmo pior:
como o monótono passo que ganha
quem conhece seu caminho de cor.
E vens a mim, parceiro da surpresa
oculta num olhar puro, risonho:
decerto serei tua próxima presa,
ou tudo não será mais do que sonho?
Outra noite mais, dormir sobre ti
sem respostas: não te queixas do peso,
nem direi ao certo se estás aqui.
Amar-te, sem saber o que é melhor:
se conservar meu coração aceso,
ou chamar os bombeiros. Que calor!...
Conferência
Nada que mor(r)e na língua
é estranho à minha poesia:
durmo com a palavra iria,
acordo com a musa nua.
A mim me ocorre somente
jogar palavras pra dentro
do liquidificador.
(Fonéticas fontes semânticas sementes gramáticas
gratuitas semióticos sentidos...)
Mas pergunto ao bom modelo:
onde arrumar os pronomes?
(E o que é pior, os leitores?
E a necessária paciência
para escutar dos doutores
as notórias novidades?)
No gordo Aurélio pesquiso
como emitir um juízo
claro, brilhante, conciso.
Qual o nome do léxico
feito idioma oficial,
de poderes proféticos
pra dizer o real?
Língua que veio boiando
d'além-mar, de tempos outros,
náufraga que recolhemos
entre os papéis de Camões...
Plantar e colher o que, afinal,
no "campo designativo da palavra"?
Exposta a língua em postas,
é tarde para estendê-la:
fio entre entendimentos.
E cedo entretanto
para nos entendermos
sem ela.
Pequena história do homem
Deus
nasceu
e morreu.
Já a Prometeu,
pouco se lhe deu:
roubou rogo dos céus
para aquecer os seus.
Queimou os véus.
E o papel,
quem leu?
Eu.
Extraído de
COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA CONTEMPORÂNEA.
Organizador Dilan Camargo. Porto Alegre: Assembleia
Legislativa, 2013. 354 p. ISBN 978-85-66054-002
Ex. bibl. Antonio Miranda
Revertere ad locum tuu
Inimigo oculto
Eu já vi teu vulto.
Sei quem você é.
(Bebeto Alves)
Repouso almejas?
Desde o primeiro momento,
um gameta em um milhão
logra alcançar o seu alvo,
por sobre um mar de fracassados.
Começas da estaca zero:
não tens sequer um nome
e já forcejas por sair do um ventre.
Mais tarde, para abrir distância
de um regaço, quantos hematomas
vão custar os teus primeiros passos?
Depois do amor, no combate
à dor da perda empenharás
todo o teu talento.
Por fim, te espreita sempre
o inimigo oculto,
desde dentro.
Página publicada em dezembro de 2013. Ampliada em maio de 2018 |